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João Carlos Sampaio para amarmos: agora em livro

Lançamento do livro ocorre em live, às 19h do dia 9 de abril, no canal de YouTube da Abraccine

Por Luiz Joaquim | 04.04.2021 (domingo)

– na foto acima, João Carlos Sampaio em foto de 2013 feita por Fernanda Fontes. 

Algo muito bonito está para acontecer na próxima sexta-feira (9), a partir das 19h. É o encontro virtual de oito profissionais da cultura que irão papear sobre a memória de uma das personalidades mais marcantes da recente história da jornalismo cultural e da crítica de cinema no Brasil. Estamos falando do baiano de (com muito orgulho) Aratuípe, João Carlos Sampaio, que nos pregou um peça em 2014, durante sua cobertura do 14º Cine-PE: Festival do Audiovisual, nos deixando por aqui nesse mundo maluco sem a sua presença inspiradora.

O mote para o bate-papo na sexta-feira – que vai acontecer ao vivo pelo canal da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) no Youtube… clique aqui – é ainda mais nobre. Trata-se do lançamento do livro Pó da estrada: Escritos de João Carlos Sampaio (Editora Gris, 240 p., R$ 65).

Mediado pelo vice-presidente da Abraccine e editor deste CinemaEscrito, Luiz Joaquim, o encontro contará com a presença da equipe responsável pela ideia, organização e editoração do livro: Flávia Santana e Tais Bichara (organização e produção);  João Paulo Barreto e Rafael Carvalho (curadoria de críticas), Lara Perl (coordenação editorial); e Rafa Moo (projeto gráfico).

Todos estarão presentes no evento com transmissão ao vivo, contando ainda ainda com o crítico convidado Marcelo Lyra (SP), da Abraccine, celebrando esta entrega que resgata a memória de um profissional indispensável quando o assunto é cinema na Bahia e no Brasil.

João Sampaio na criação da Abraccine, Paulínia, SP, 2011. (foto, Luiz Joaquim)

JOÃO – João Carlos Sampaio (1969-2014) escreveu durante quase 20 anos para o jornal A tarde (BA), que gentilmente cedeu suas escritas para o livro, e atuou como curador em festivais como Cine PE e Mostra Cinema Conquista. Integrou comissões de seleção e júris oficiais de eventos como o Festival de Cinema de Gramado e Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, além do júri indicativo do filme brasileiro pré-candidato ao Oscar em 2005. Seus escritos revelam vasto repertório prático e subjetivo, com domínio do assunto, enquanto também se encharcam da beleza de um olhar apaixonado pela vida, pela arte e pela humanidade.

“Eu nem me preocupo em parecer superlativa ou genérica por dizer que a importância de João é imensurável e impossível de mapear com inteireza. Ele foi uma espécie de gerente de muitas encruzilhadas, unindo pessoas, projetos, cenas e caminhos sempre com muita inteligência e generosidade”, declara a jornalista e produtora cultural Tais Bichara.

“João fez pontes entre gerações de realização cinematográfica e crítica, entre produções da Bahia e de outros estados, entre redes de afeto que pareceriam desconexas para qualquer outra pessoa. E é sempre lembrado como um embaixador bem-humorado de coisas caras para ele, em todos os espaços que ocupou, na escrita, na curadoria ou na mesa de bar”, completa ela.

Flávia Santana conta que já fazia tempo que existia o desejo de realizar o livro em memória a João, “essa pessoa que tanto admiramos e que tanto contribuiu para a crítica e para o cinema brasileiro”. E completa: “No processo de pesquisa e encontro com os arquivos de João, descobrimos que ele também tinha vontade de publicar uma obra com suas reflexões. Então, este lançamento mostrou-se um desejo coletivo. No processo de construção, conseguimos reunir diversos tipos de escritas de João, trazendo seu lado profissional e também a pessoa que está por trás disso: o seu humor, sua generosidade e sua forma bonita e única de lidar com a vida”.

A obra contém uma coletânea de críticas com 33 textos – 25 deles foram originalmente publicados no A tarde e dois, no extinto Bahia Hoje. Há ainda um extraído do livro Os filmes que sonhamos (Editora Lume, 2012), outro da Revista Teorema, mais um para catálogo de mostra da Caixa Cultural, outro para o extinto site Viva Viver e dois de seu arquivo pessoal, possivelmente inéditos. O difícil trabalho de fechar essa conta de textos a integrar o livro ficou por conta da dupla de jornalistas e críticos de cinema João Paulo Barreto e Rafael Carvalho.

João Paulo Barreto explica que a proposta do livro, desde o começo do projeto, era que a curadoria pudesse seguir um norte tanto afetivo, em termos de obras de grande valor sentimental para João Carlos, quanto no sentido de ser um registro de sua trajetória como crítico de cinema. “Por isso, a seleção buscou abranger críticas sobre obras que representam momentos marcantes da cinematografia brasileira e mundial, bem como trazem o olhar terno dele no que se refere ao modo como aquelas obras o tocaram pessoalmente”, resume.

O parceiro Rafael Carvalho descreve então a coletânea final: “Ela reúne textos que simbolizam as diversas facetas da produção de João Carlos Sampaio – um crítico incansável –, as preocupações e frentes de trabalho que ele tomou para si e que se evidenciam em seu ofício: a paixão pelo cinema brasileiro, o interesse pelos filmes latino-americanos e de outras cinematografias distantes, a reverência aos grandes clássicos, o gosto pelo cinema popular”.

UM OUTRO JOÃO – Um outro conjunto de escritas, que alcança mais a pessoalidade de João Carlos Sampaio, como suas experiências de infância no interior, suas sensibilidades e a paixão pelo Esporte Clube Vitória, vem de suas intensas publicações no Facebook, de e-mails e de textos que revelam sua poesia intrínseca. Coisas como:

“[…] o sentido das coisas depende daquilo a que a gente escolhe dar valor de crença, de peso, de altura, de força, de cheiro e de cor. Tudo seria só ficção e arbitrariedade, que só ganha jeito de existir e de ser pelo jeito de ser e de existir que a gente enxerga e decide, sabe-se lá por quê, acreditar e dar valor”.

Ou da primeira vez que assistiu a um filme:

“O cinema surgiu para mim como algo sobre bichos perigosos. […] Quando descobri que era bem mais que isso, já não fazia diferença, estava completamente fascinado”.

E ainda na defesa da democracia:

“Não importa se o filme é bom ou ruim, mas nunca queira viver dias de censura. […] é importante estarmos sempre alertas ao menor sinal de que isso volte. Adultos como você, como nós, devemos justamente poder escolher entre ver ou não ver qualquer coisa. […] é por isso que defendemos até o que não queremos ver”.

Completando o conteúdo, estão contribuições da equipe que descreve capacitadamente a figura de João uma linha do tempo biográfica e afetiva, além de um belo relato contribuído pelo cineclubista, crítico de cinema, curador e programador Adolfo Gomes.

Luiz Joaquim, JK e João Sampaio em setembro 2012, discutindo o destino do País, minutos antes de ir para mais uma sessão do Festival de Brasília. Foto de Mariana Pinheiro Moreira.

Das imagens, fotos da infância e da vida adulta se somam a registros originais, feitos pela fotógrafa Hury Ahmadi, em viagem a Aratuípe, a “cidade paraíso”, como alçada no livro, pela fundamental presença na existência de Sampaio.

Para tornar tudo isto palpável, a editora independente Gris, de Salvador, segue na execução de suas experimentações de narrativas em processos gráficos impressos. Lara Perl, coordenadora editorial, explica: “O livro foi pensado como um diário de viagem que reúne fragmentos da vida e do trabalho de João, mas não é uma biografia. Tentamos construir um objeto especial que pudesse conter diferentes formatos de textos e imagens, apresentando uma sequência narrativa que traz certas quebras e surpresas”, diz ela. “Pensamos também no livro como uma janela que resgata o olhar de João sobre o mundo, a vida e o cinema”, completa Lara.

A tiragem é de 500 exemplares, parte distribuída gratuitamente para acervos de cursos de Cinema e Comunicação e cineclubes da Bahia. E não acaba aí: há ainda versão em audiolivro, narrado pelo ator, escritor e locutor Daniel Farias e pela psicóloga e psicanalista Guacira Cavalcante, disponível no site da editora, onde o livro físico também pode ser comprado.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

SERVIÇO:

Livro

Pó da estrada: Escritos de João Carlos Sampaio

Salvador, 2021 | Editora Gris

240 páginas | Formato 18 x 23 cm | Com versão em audiolivro | R$ 65

Lançamento

Com: Flávia Santana, João Paulo Barreto, Lara Perl, Rafa Moo, Rafael Carvalho e Tais Bichara

Convidado: Marcelo Lyra

Mediação: Luiz Joaquim

Quando: 9 de abril de 2021 (sexta-feira), 19h

Onde: Canal do YouTube da Abraccine

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