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Festivais

Roterdã, IFFR (2022) – Proyecto Fantasma

Mostra Tiger Competition

Por Marcelo Ikeda | 16.02.2022 (quarta-feira)

Ainda que não esteja explicitamente assinalado pelo filme, Projeto fantasma (Proyecto Fantasma, Chi., 2022), do chileno Roberto Doveris, está profundamente marcado pela pandemia. Enquanto o projeto de seu próximo filme ficou paralisado por causa da COVID, Doveris resolveu, pela necessidade de se manter em atividade, realizar um filme pequeno, com amigos e vizinhos, filmado em boa parte em seu próprio apartamento e nos arredores.

Com isso, Doveris resolveu construir um projeto pessoal, alimentado pelas suas angústias e inseguranças acerca da trajetória de um jovem artista em busca de reconhecimento. Pablo, uma espécie de alter-ego do próprio Doveris, é um jovem ator que vive numa certa crise, agravada por estar só, após a saída do amigo com quem dividia o seu apartamento e por seu ex-namorado se tornar popular como youtuber. Essa crise pessoal é ampliada por uma crise profissional: como ator, Pablo faz apenas pequenos bicos, simulando ser um paciente num treinamento médico ou compondo uma terapia de constelação de grupo, mas almeja fazer um papel (de preferência no cinema) com que ele realmente se identifique.

De forma leve e descontraída, Doveris, nesse projeto de filme de entremeio, reflete sobre as angústias do jovem artista independente. O filme assume um tom prosaico, entre seu trabalho e sua vida, compartilhada entre as conversas com um conjunto de amigos. Pablo cuida de suas plantas – algo que dialoga com seu primeiro filme, As plantas (2015) – e vive com seu gato, que parece perceber a presença de um fantasma que misteriosamente passa a habitar sua casa.

Não há algo propriamente brilhante ou inovador na forma como Doveris organiza a mise en scène de seu filme, ou mesmo nas questões de fundo que seu filme apresenta, em torno da tão visitada relação entre o artista e seu cotidiano. Não há nenhum grande drama ou conflito, de modo que o filme tende a um certo olhar superficial sobre a comunidade de artistas e sobre suas dificuldades, especialmente levando-se em conta o momento que nos afeta. Se há o gosto por uma certa dramaturgia do comum, por meio de uma crônica de costumes, tampouco há a aposta por um estilo mais radical de distanciamento ou rarefação. Não há propriamente angústia ou melancolia em Pablo, mas reina no filme uma certa leveza, um desejo de encontros e um gosto pela superfície do presente. De todo modo, a forma honesta, ágil e despojada com que o realizador expõe a rotina de um artista independente em Santiago cativa a atenção do espectador, sendo uma honesta declaração de princípios do realizador sobre suas dúvidas, expectativas e desejos.

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