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Roterdã, IFFR(’22) Monte Fuji Visto de Um Trem..

Canadense Pierre Hébert exibe seu “Monte Fuji visto de um trem em movimento” na Mostra Harbour

Por Marcelo Ikeda | 12.02.2022 (sábado)

Monte Fuji visto de um trem em movimento (Le Mont Fuji Vu D’un Train en Marche, Can., 2021). De de Pierre Hébert – Mostra Harbour – Realizado pelo veterano animador canadense Pierre Hébert, com uma longa trajetória em um país com forte tradição na animação autoral, Monte Fuji visto de um trem em movimento é uma espécie de filme-diário com base em duas viagens do realizador ao Japão, espaçadas em quinze anos, em 2003 e 2018. A base para o título é uma espécie de homenagem ao cinema experimental de Robert Breer e seu filme Fuji (1974), que pode ser visto aqui. De forma análoga a Breer, Hébert procurou expressar, de forma um tanto impressionista, os impactos da cultura japonesa sobre um viajante distante, por meio de uma representação abstrata do tradicional Monte Fuji, visto pela janela de um trem em movimento. O filme também dialoga com as dezenas de gravuras de Hokusai, clássico artista japonês, sobre o Monte Fuji, uma espécie de símbolo da cultura tradicional nipônica.

Por vezes, as nuvens escondem o Monte Fuji, dificultando sua visão. Assim, Hébert parte de uma questão filosófica, mas relacionada ao ato de ver: até que ponto o Monte Fuji pode ser visto pelo que também se esconde? Por meio desse ponto de partida, percebemos que o desejo do realizador não é propriamente promover uma análise da cultura japonesa, mas proporcionar ao espectador uma experiência poética desse encontro, ainda que precário, entre esse visitante (um artista estrangeiro) e a milenar cultura japonesa.

A partir desse mote, é interessante como Hébert, especialmente na parte inicial do filme, cria um filme abstrato, em que riscos brancos na imagem em fundo preto (“arranhões na película virgem” adaptados ao cinema digital), inserem uma cadência de movimento que remete ao movimento do trem, combinado, de forma criativa, com recursos sonoros que amplificam essa relação sensorial por meio de um encadeamento rítmico criativo entre som e imagem. As intervenções de Hébert nas imagens com desenhos abstratos conferindo ritmo ao filme acabam sendo os mais potentes momentos do filme, quando se entrega totalmente ao seu desejo de cinema abstrato.

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