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Clássicos

Os Boina Verdes

Os Boinas Verdes e a retórica salvacionista norte-americana

Por Humberto Silva | 20.04.2022 (quarta-feira)

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Departamento de Guerra do governo norte-americano produziu a série documental Por que lutamos? Entre 1942 e 1945 foram realizados os episódios Prelúdio de uma guerra, Os nazistas atacam, Dividir e conquistar, Batalha da Inglaterra, Batalha da Rússia, Batalha da China, A guerra chega à América; destes, o primeiro foi premiado com o Oscar em 1943. A realização desta série ocorreu, vê-se, no mesmo momento em que batalhas sangrentas eram travadas. Não havia, portanto, a menor possibilidade de antevê o desfecho da guerra (quando um historiador defende, por exemplo, que a derrota alemã era inevitável a partir da batalha de Stalingrado, ele está diante de fatos em que pode estabelecer relação de causa e efeito; em contraste, uma situação no tempo presente se abre para um futuro contingente). Frank Capra, um dos mais aclamados diretores hollywoodianos naqueles anos, com três Oscars no currículo (se notabilizou em comédias screwball como Aconteceu naquela noite, de 1934), assumiu a responsabilidade de conduzir a série.

Por que lutamos? é uma série que pode ser vista por muitos aspectos. Há nela claramente demarcado quem representa o bem e o mal e, vista retrospectivamente, sua narração em voz over enseja uma visão angelical dos valores norte-americanos, em sua missão para proteger a humanidade contra os poderes do mal. Mas, justamente para não ficar preso à armadilha que separa sem qualquer nuance o bem e o mal, pondero ser demasiado afoito emitir juízo antecipadamente elogioso ou desaprovador sobre esse filme fora do contexto de tensão em que foi realizado. Entendo que ele teve papel importante ao definir em que lado da trincheira se posicionar naquele momento; entendo igualmente que a retórica de fundo angelical não deve ser subestimada; e, por fim, entendo que um filme de viés ideológico, com seus propósitos explicitamente declarados, supõe camadas de fundo não tão visíveis: em outras palavras, lembrando parábola bíblica, convém em certos momentos separar o joio do trigo. Se não houve pureza na missão salvacionista norte-americana, também não é inteiramente falso que a retórica pacifista, naquele momento, abriu espaço para a tragédia nazista. Um ataque a Por que lutamos? na superfície pode ignorar sua legitimidade de fundo nas circunstâncias da guerra.

Ora, em decorrência, para mim é bastante precipitado atacar ou defender Por que lutamos? com a guerra decidida, a derrota alemã e o modo como os Estados Unidos se impuseram enquanto potência mundial (separar joio e trigo, passada a guerra, implica colocar na balança eventuais efeitos positivos e negativos com sua realização). Mas, exatamente por que vitoriosa na guerra, a mensagem salvacionista norte-americana merece atenção no confronto com a retórica pacifista. Duas décadas depois, os Estados Unidos estarão envolvidos em outra guerra, a do Vietnã, na qual, sem o nazismo, o mal passa a ser o comunismo. E, nessa nova guerra, não mais uma série documental e sim uma obra de ficção, Os boinas verdes (1968), toma o cinema como instrumento para responder “por que lutamos”. Nos dois casos, a utilização de um filme no mesmo momento em que uma guerra se desenrola; portanto, sem que se tenha em vista seu desfecho futuro. Num e noutro caso, o cinema foi o veículo para justificar o porquê da ação. As semelhanças e contexto de guerra, no entanto, param por aqui. As razões para justificar a entrada na Segunda Guerra, expostas em Por que lutamos?, não se repetem no Vietnã.

John Wayne, estrela máxima, produtor e codiretor aqui.

Realizado pela Companhia independente Batjac Productions (fundada em 1952 por John Wayne, astro máximo do gênero western que, igualmente, foi o protagonista e dividiu a direção com Ray Kellog), Os boinas verdes entrou em rota de colisão com seguimentos da imprensa, pacifistas e movimentos contraculturais, como os hippies e os beatniks; eles protestavam contra a ingerência dos Estados Unidos no Vietnã, numa guerra civil que opôs o Vietcong, exército de libertação apoiado pelo norte-vietnamita comunista, e o exército sul-vietnamita, sob a esfera capitalista. Mas, por que as razões para lutar não se repetiriam? Os comunistas nos anos de Guerra Fria seriam menos ameaçadores aos valores norte-americanos do que os nazistas?

Não tendo, obviamente, a pretensão de um ensaio histórico – e sim tratar do uso de um filme como meio para defesa de uma posição ideológica –, é de conhecimento geral que, ao contrário do ataque a Pearl Harbor, que levou os Estados Unidos à Segunda Guerra, a “Guerra do Vietnã” começou sorrateira, com o envio de tropas norte-americanas para combater ao lado dos sul-vietnamitas na “Guerra Civil do Vietnã”. Ou seja, mais precisamente, foi feita uma intervenção às escondidas, na calada da noite, com sonegação de informações sobre o teatro de operações (para ficarmos na seara do cinema, o filme The post- a guerra secreta, dirigido por Steven Spielberg, de 2017, trata dos Pentagon papers, documentos secretos sobre o envolvimentos dos Estados Unidos no Vietnã). Enfim, este um tópos para historiadores, fiquemos com Os boinas verdes.

O enredo de Os Boinas Verdes é dotado de forte apelo emocional para justificar a intervenção dos Estados Unidos no Vietnã. Numa primeira abordagem, a considerar a tipificação de gêneros, pode-se identificar que se trata de um filme de guerra com narrativa melodramática. Assim como outros que se voltaram para aquele conflito – tenho em mente Nascido para matar (1987), de Stanley Kubrick –, em Os boinas verdes a ação começa com treinamento militar, neste caso no Fort Bragg, Carolina do Norte, onde Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos, os Boinas Verdes, se preparam para a guerra. Nas sequências iniciais, com exemplos didáticos e argumentos protocolares, militares expõem para jornalistas contrariados os motivos da intervenção.

Nesse sentido, o momento marcante é, depois da entrevista coletiva, a rápida conversa entre o Coronel Mike Kirby (John Wayne) e George Beckworth (David Janssen), jornalista do Chronicle Herald, um jornal canadense. O diálogo é amistoso, Beckworth defende a posição editorial do jornal: não há justificativa plausível para enviar soldados norte-americanos para uma guerra em terras tão distantes, num conflito que caberia aos próprios vietnamitas resolver. O Coronel Kirby, então, de modo persuasivo, indaga se Beckworth conhece o Vietnã. Ele responde que não e essa é a senha para que ele veja in loco o porquê da necessidade de intervenção dos Estados Unidos: quando os comandados pelo Coronel Kirby chegaram ao Sudeste Asiático, encontraram Beckworth, que ficará entre eles.

Tanto quanto Por que lutamos?, Os boinas verdes procurou sensibilizar o país para a ameaça a que seus valores – os valores do bem e da liberdade – estariam expostos: mantendo-se isolado do resto do mundo, o resto do mundo seria dominado pelos comunistas que em seguida dominariam os Estados Unidos; essa a retórica que motiva soldados e oficiais e que cabe deixar clara para a opinião pública: o comunismo ameaça o mundo livre e o Vietnã do Sul, capitalista, é livre, enquanto o Vietnã do Norte está escravizado pelo comunismo. Ocorre que, no final dos anos de 1960, grande parte da imprensa e seguimentos expressivos da opinião publica eram refratários ao envolvimento dos Estados Unidos no Sudeste Asiático.

Os boinas verdes, com isso, circulará envolto em controvérsias e polêmicas. De algum modo ele reflete, arrefecida a paranoia da caça às bruxas macarthista na década anterior, o sentimento conservador do norte-americano que, como nos filmes de faroeste, se sente como xerife do mundo. Metaforicamente, não é mera coincidência que John Wayne tenha se empenhado tanto para sua realização. O xerife de Onde começa o inferno (1957), de Howard Hawks, é o emblema da lei e da ordem. Com posições públicas favoráveis à guerra, Wayne assume o papel de mocinho para combater comunistas. Por isso, empresta seu prestígio para realizar um filme recebido com fortes críticas: Oliver Stone toma sua experiência pessoal como combatente no Vietnã e realizará Platoon (1986), uma espécie de resposta a Os boinas verdes. Mal recebido por quem era contrário à guerra, não obstante Os boinas verdes teve um trajeto singular: sucesso de público no ano de seu lançamento, deu lucro para seus realizadores (custou 7 milhões de dólares e rendeu 32 milhões); logo, contudo, caiu no esquecimento: a realidade com a sequência da guerra até 1975, e a saída humilhante das tropas norte-americanas de Saigon, realça a diferença para Por que lutamos?

Como nos filmes de faroeste, os EUA se sentem como xerife do mundo

No Vietnã, da base aérea norte-americana em Da Nang, Kirby e Beckworth rumaram para um acampamento em construção que sofria constantes ataques dos vietcongs, pois estava sendo erguido numa área estratégica e em disputa. Acomodados no acampamento, entra em cena então um menino vietnamita órfão de guerra que se afeiçoa a um simpático sargento do batalhão, o Sargento Petersen (Jim Hutton). O filme exibe a partir daí o lado cruel dos vietcongs e a generosidade do exército norte-americano ao acolher e dar segurança a quem sofre com a violência comunista. A relação entre a criança órfã e o Sargento Petersen segue paralela as sequências de combate, nas quais ao fim os Boinas Verdes consolidam a posição de suas tropas frente à ameaça inimiga. Como o filme equilibra ação e melodrama, com a morte do Sargento Petersen a criança termina protegida pelo Coronel Kirby, o qual, como síntese das justificativas para a presença dos Estados Unidos no Vietnã, assevera na cena final: isso tudo é por você.

Quanto ao jornalista do Chronicle Herald, a experiência na frente de batalha, a visão dos horrores cometidos pelos vietcongs, o levam a se voluntariar para continuar na guerra como combatente. Mensagem que ele deixa: só um pacifista ingênuo para não perceber que a guerra é necessária para evitar o mal que se encarna nos vietcongs; nas mãos do Coronel Kirby, a criança órfã simboliza o futuro do Vietnã, protegido e livre da ameaça comunista. É pelas crianças vietnamitas, por conseguinte, que o sargento e tantos outros deram a vida; o heroísmo deles anuncia um novo amanhã, belo como o sol no poente, na derradeira imagem do filme.

Para além da mensagem de que o combate no Vietnã era necessário, que os movimentos pacifistas se equivocavam quanto a expansão comunista no mundo livre, há um aspecto subliminar na presença do jornalista do Chronicle Herald: a imprensa vê a guerra no conforto das redações; formula, com isso, uma visão imprecisa sobre o que efetivamente acontece no palco de batalha. O filme procura mostrar, ipsis litteris, que a experiência in loco prescindiria de explicações. Diante da realidade cruel de extermínio sem piedade de quem colaborasse com os sul-vietnamitas, não há argumento que se imponha. O ponto de partida de Os boinas verdes não é outro senão que a imprensa devia sair de sua condição de conforto e ver a guerra “real”, e assim não se fiar numa posição ingênua de que não se imiscuir é melhor tanto para os Estados Unidos quanto para os vietnamitas. Ocorre, no entanto, um dado convenientemente ignorado no filme e, igualmente, de conhecimento geral: Beckworth não mostra, não escreve, como o corpo do Sargento Petersen seria recebido nos Estados Unidos ao retornar num saco plástico. Para o opinião pública norte-americana, foi impactante a cobertura que a imprensa deu à chegada de corpos de soldados em sacos plásticos.

Wayne (Coronel Kirby) e Janssen (como Beckworth): “Só um pacifista ingênuo para não perceber que a guerra é necessária para evitar o mal”.

Mais ainda, seguindo a orientação do Coronel Kirby, a presença da imprensa in loco registrou, justamente, uma das imagens icônicas da guerra: a foto da menina Kim Phuc Phan Thi, correndo queimada por napalm, após ataque das forças sul-vietnamitas na aldeia em que morava. A presença da imprensa em campo de batalha, reclamada pelo Coronel Kirby, ironicamente possibilitou ao fotógrafo Nick Ut, da Associated Press, o cruel registro de que o mal também está do lado do bem. Desgraçadamente, na imagem da menina queimada com napalm, uma das realidades na afirmação do Coronel Kirby ao menino órfão: isso tudo é por você.

A escalada da guerra e seu desfecho em grande parte determinaram os equívocos na empreitada de John Wayne. Os boinas verdes, filtrado o caráter patriótico, seu maniqueísmo infantil, sua militância na contracorrente de seguimentos expressivos da opinião pública, pode ser visto como um bom filme de guerra. Wayne dispôs de recursos e condições favoráveis para fazer um filme com qualidades técnicas e produção inquestionáveis (a cooperação do Departamento de Defesa foi enorme e com apoio do presidente Lyndon Johnson). As sequências de ação foram bem filmadas, os diálogos não são pedantes, há ótimo equilíbrio entre momentos de tensão e de pausa para situações humoradas. Tudo flui num fluxo padrão de modo a não cansar o espectador, apesar de quase duas horas e meia de projeção. Visto por uma plateia que sabe sobre o envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã tanto quanto sobre mecânica quântica, é um bom filme de guerra. Chego a dizer, com ironia, que o tempo narrativo, conforme convenções de gênero, é perfeito; chego a dizer, com ironia, que é um dos grandes filmes de guerra realizados por Hollywood.

Um filme, no entanto, não se restringe à qualidade de uma produção bem acabada. Esta, muitas vezes, se limita ao meramente ornamental. De fato, em Os boinas verdes não há equívoco nos figurinos, no uniforme de soldados e oficiais (isso inclui o uniforme de combate tropical Tiger Stripe com insígnias corretas da Guerra do Vietnã), nas armas cujos nomes são citados na entrevista coletiva da sequência inicial, nos helicópteros e aeronaves cedidos. E se as locações no Fort Benning, na Georgia, não trazem a vegetação das selvas do Sudeste Asiático, só a má vontade de um geografo para implicar. Agora, dizer que Os boinas verdes é tão só um bem realizado filme de guerra que segue as convenções desse gênero traz implicações enganosas quanto a seu propósito e, como consequência, seu lugar na história. John Wayne fez menos um filme de guerra do que um filme político; pensado como  gesto de militância política, para lembrar J. L. Godard, para quem um filme político se concebe no gesto, na motivação, e não exclusivamente no tema, pois este, na sua imensa visualidade, acaba sendo pano de fundo.

“Os Boinas Verdes”: produção com grau de excelência na produção

Tendo isso em vista, em certo sentido (nas intenções), Os boinas verdes não difere de Triunfo da vontade (1935), de Leni Riefenstahl. Mas aqui os caprichos da história: o filme de Riefenstahl fica; o de Wayne foi praticamente apagado. Há algo que não se pode perder nesse confronto. Triunfo da vontade é um filme que foi realizado de forma estilizada e voltado para uma plateia convencida, ou embebecida, com a verdade de sua mensagem. No ambiente em que foi produzido e exibido, não havia contestação e seu valor posterior, com a derrota nazista na guerra, pode ser defendido sem necessariamente gerar o sentimento de cumplicidade com o viés ideológico que defende. Os boinas verdes, em contrapartida, foi direcionado para provocar um espectador antecipadamente refratário à mensagem que ele sustenta, num momento em que aceitá-la significava se confrontar com pilhas de corpos em sacos plásticos vindos do Vietnã.

Cabe observar que Os boinas verdes foi filmado antes da Ofensiva do Tet, que acontece, justamente, pouco antes de seu lançamento, provocando enormes baixas nas forças norte-americanas, contendo a visão de inatingibilidade dos Estados Unidos e atiçando a opinião pública. E, como a história é caprichosa, mal as feridas da guerra foram curadas e o sentido de verdade da mensagem de Os boinas verdes foi coberto por obras como Franco atirador (1978), de Michael Cimino, Apocalipse now (1979), de Francis Ford Coppola, Platoon, Nascido para matar e nesse rol se pode incluir até uma comédia dramática como Forrest Gump (1994). Ou seja, no plano simbólico Os boinas verdes foi engolido por uma produção significativa sobre a Guerra do Vietnã com mensagem diametralmente oposta.

Disso não se segue, entretanto, que Os boinas verdes não tenha deixado um legado. Com o fim da Guerra Fria e a vitória simbólica norte-americana no campo ideológico, novos vilões surgiram: os comunistas foram substituídos pelos muçulmanos e árabes. As duas guerras do Golfo foram atrativas para os negócios na indústria de cinema. Sniper americano (2014), dirigido por Clint Eastwood, não deixa de ter nas entrelinhas a questão da justificativa para a presença norte-americana como baluarte da ordem no mundo. Aliás, o assunto de Sniper Americano, não por acaso, atraiu aquele que o imaginário das gerações mais recente imediatamente associa ao faroeste: Clint Eastwood. Numa espécie de sucessão de protagonismo, Clint assume o papel que antes coube a Wayne. E se, ao contrário deste, ele nunca teve o papel de xerife, o velho pistoleiro de Os imperdoáveis (1992) deixa claro que quem anda desarmado não pode esperar misericórdia. Que Os boinas verdes não seja lembrado quando se vê a recepção recente de Sniper americano isso não implica que sua mensagem de fundo – exaltação de que os Estados Unidos são o xerife do mundo – não se faça presente.

O esquecimento de Os boinas verdes diz muito sobre os caprichosos caminhos da história do cinema, seus laços com os humores da indústria e a sensibilidade da opinião pública para fazer ver e apagar conforme as contingências de cada momento. O resultado da Guerra do Vietnã é um trauma para o orgulho norte-americano, uma ferida cuja cicatriz não foi coberta pelo tempo. Um filme que trate de heroísmo, estimule o alistamento militar e o patriotismo numa guerra que dividiu opiniões e foi perdida causando mal-estar. O incômodo com Os boinas verdes, para mim, não está tanto no viés ideológico – o mesmo pode ser reclamado em Por que lutamos? –, por conseguinte na manipulação retórica para justificar a ida ao Vietnã, mas na caprichosa vereda que a história trilha: quinze anos depois da humilhante debandada de Saigon, a terrível ameaça comunista desmoronou sem que sacos plásticos fossem recolher qualquer corpo de soldado norte-americano.

Por que alguém (re)veria “Os Boinas Verdes” hoje?

Uma pergunta que se pode fazer é o que, hoje, motivaria alguém a ver – ou rever – Os boinas verdes. Rabisco duas razões. Primeiro se trata de um filme bem feito no que se refere ao padrão da indústria de cinema. Tão bem feito quanto os que carregam mensagem que lhe é contrária: as provocações que motivaram sua realização foram respondidas pelo movimento inexorável da história. Segundo porque – não suponho que John Wayne tivesse essa intenção – Os boinas verdes deixa uma lição: um filme político, feito no calor da hora, tem sua verdade – ou a retórica que veicula – exposta ao julgamento da história. Os mais variados e incontrolados variantes do porvir determinarão o lugar que esse filme ocupará, na prateleira que lhe convém. Pode-se arguir, hoje: ele seja necessário; não há como prever que amanhã ele não se encontre na prateleira do esquecimento.

 

Humberto Pereira da Silva é professor de história do cinema na FAAP e na Academia Internacional de Cinema e crítico de cinema. É autor de Glauber Rocha: cinema, estética e revolução (Paco Editorial, 2016) e membro da Abraccine.

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