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Críticas

Sniper Americano

Herói americano?

Por Luiz Joaquim | 19.02.2015 (quinta-feira)

Não que o cinema de Clint Eastwood precise de polêmica para chamar a atenção, mas as discussões que surgiram nos EUA em torno de “Sniper Americano” (EUA, 2014) provavelmente ajudaram o novo filme do cineasta a tornar-se o fenômeno de bilheteria que foi por lá. Tendo custado cerca de US$ 58 milhões, a produção faturou em pouco mais de dois meses o valor de US$ 286 milhões. O fenômeno surpreendeu o próprio diretor como também seu protagonista e produtor, Bradley Cooper. Cooper, a propósito, sustenta um – o de melhor ator – dos seis títulos de indicação ao Oscar 2015 que este 35º longa-metragem dirigido por Eastwood carrega.

O filme é uma adaptação do livro “American Sniper: A autobiografia do mais letal atirador de elite na história do exército americano”. Conta a história real de Chris Kyle (1974-2013), celebrado como herói pelo seu pais por conta das 160 pessoas que matou na função de franco-atirador durante os cerca de dez anos que lutou na Guerra do Iraque. Morto em 2013, antes do filme começar a ser rodado, a América decretou o dia se sua morte, 2 de fevereiro, como o “Chris Kyle Day”.

A questão é que “Sniper Americano”, o filme, virou mote de discussão política entre os partidos Liberal e o Conservador por lá uma vez que Kyle e os outros militares utilizavam uma linguagem ofensiva contra os muçulmanos dando margem a que o filme fosse percebido como um “discurso de ódio”. A repercussão ganhou o mundo e, no início de fevereiro, o filme foi retirado do único cinema que o exibia em Bagdá.

Outro ponto delicado levantando pelo filme diz respeito à glorificação da figura do franco-atirador, figura sempre considerada uma espécie de covarde por não colocar a cara na linha de frente e submeter-se ao fogo aberto pelos inimigos. “Sniper Americano” não apenas muda esse conceito, como o eleva ao título de lenda heróica.

Polêmicas à parte, Eastwood parece ter tomado os habituais cuidados na construção de seu heroi. A primeira cena do filme resume o principal conflito do protagonista. Kyle (Cooper) está em campo de guerra, num telhado com um menino a dezenas de metros na mira de seu fuzil. O garoto esconde uma bomba e corre contra a tropa americana a poucos metros a sua frente. A decisão entre assassinar a criança e deixá-la atacar seus colegas é exclusivamente sua. O que fazer?

O herói de Eastwood aqui não é tão diferente daquela figura que o próprio já imortalizou como ator. Fosse pelo policial solitário e incompreendido que resolve a questão pelas seus próprios princípios (duvidosos ou não), seja pela figura do cowboy mistérioso e também solitário que sempre encara os vilões para proteger os indefesos – usualmente mulheres ou crianças.

No caso, Kyle era mais um simples e feliz jovem texano que adorava montar cavalos em rodeios até que, depois do 11 de setembro de 2001, decide alistar-se como militar para lutar contra o terrorismo. Uma vez em campo inimigo, os primeiros horrores da guerra vão aos poucos dando lugar a uma satisfação pela ideia de um trabalho bem feito e pela sensação de patriotismo cumprido. São essas alegrias que fazem com quem ele sempre retorne ao campo de batalha, deixando de lado uma família que cresce sozinha nos EUA. Um detalhe: a ideia de ser um “herói” pelo que ele faz sempre incomoda o rapaz.

Cooper, um dos fortes indicado a melhor ator, talvez esteja aqui em seu melhor momento, ao contrário de seus histriônicos Pat em “O Lado Bom da Vida” (2012) e Richie em “Trapaça” (2013). Isto porque como o Sniper, o ator precisa trabalhar com o mínimo para expressar o máximo. Traduzindo, a rotina diária do herói é ficar deitado abraçado a sua arma, controlando cuidadosamente a respiração e movendo apenas os olhos. E expressar medo, ansiedade, raiva, dúvida e alegria apenas por estas possibilidades é mesmo só para profissionais.

VISIONÁRIO – Foi o ator Bradley Cooper o primeiro que viu o potêncial do livro autobiográfico de Chris Kyle para transformá-lo num filme. Sem titubiar, adquiriu imediatamente os direitos da obra e começou a produzi-lá, tendo o nome de luxo de Clint Eastwood à frente da direção. Desde o princípio seu plano era intrepretar o protagonismo

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