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Festivais

38° Guadalajara (2023) – Tenho Sonhos Elétricos

Costa-riquenha mostra como filmar o sexo adolescente

Por Ivonete Pinto | 06.06.2023 (terça-feira)

Tenho sonhos elétricos (Tengo sueños eléctricos, 2022) é um filme da Costa Rica em coprodução com Bélgica e França. Talvez ficasse um tanto perdido entre os títulos em competição da seção ibero-americana de ficção não fosse, do ponto de vista da crítica, ter ganho o prêmio Fipresci no festival de Mar del Plata, na Argentina.  Trata-se de fato de uma pérola, ou um soco no estômago a se considerar a reação que o público pode ter.

A arquitetura de sua narrativa consegue apresentar-se como um leve e bem humorado coming-of-age e, ao mesmo tempo, como um duro amadurecimento de uma jovem de 16 anos tendo que lidar com um pai amoroso e extremamente violento. Um dois-em-um cuja empatia borra-se logo na primeira cena. 

E é esta equação que torna o filme algo estranho, mas indiscutivelmente bem sucedido. A diretora Valentina Maurer, em sua estreia no longa-metragem, propõe – e resolve – uma mistura de climas e situações que mudam de registro a toda hora, sem perder o realismo e sem abrir mão de uma clara construção de personagem. Personagens intensos e complexos como filha e pai, que passam do embate geracional para a  cumplicidade de amigo, tudo em meio a um contexto de privações financeiras próprias de um país latino. 

Neste ínterim, há coadjuvantes como o amigo do pai que também merecem atenção, porém não convém adiantar muito mais.  O filme foi exibido na 46ª Mostra de São Paulo e é melhor esperar o lançamento no Brasil em alguma  sala alternativa ou no streaming.

Um coming-of-age robusto e bem realizado.

Credenciais não faltam à  franco-costa-riquenha Valentina Maurel. Ela teve seus curtas premiados  em Cannes e movimenta-se pelo mundo dos festivais (e dos editais) de forma a comprovar talento como diretora e roteirista. 

O trabalho que faz com atores é um dos elementos essenciais para que seu intrincado roteiro funcione. A imersão dos atores Reinaldo Gutiérrez, que faz o pai, e Daniela Marin Navarro,   que faz a filha, transborda na tela. Assim como os hormônios de Eva. De que forma a diretora mostra este aspecto da personagem deveria ser estudado nos  cursos de cinema. Total respeito à atriz na exposição de seu corpo, sem deixar de enfrentar com imagens a sexualidade em plena descoberta e desordem. Contribuiu para isto uma boa carga de ensaios e a estratégia de entregar o roteiro ao elenco somente próximo de rodar o filme.

Por estas e outras, não deixe de assistir este exemplar de uma cinematografia periférica, que mesmo tendo os aportes financeiros da Europa, nos revela lugares e pessoas reais, pelo olhar de quem sabe do que está falando. 

 

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