
Ainda Não é Amanhã
Sobre redes de apoio formadas por mulheres. E, as vezes, limitadas somente às mulheres.
Por Renata Malta | 08.06.2025 (domingo)

Janaina é uma jovem mulher periferica no início do sonho de cursar uma universidade. Dentre tantas dificuldades deste cenário, como pagar o curso, se dedicar nos estudos para não perder o desconto da mensalidade, conseguir um trabalho pra ajudar em casa… Janaina descobre uma gravidez.
O início desse capítulo põe em risco toda a perspectiva de futuro da personagem. Janaína quer ajudar a sua família, sua mãe e sua avó. A formação em Direito dentro desse contexto familiar significa muita mudança e a uma gravidez indesejada põe em risco todas as possibilidades que estão se abrindo para a garota.
A protagonista percebe as mudanças iniciais do seu corpo, as dores e os enjoos. Mas, a princípio, em negação a possibilidade da gestação, compartilha com a amiga e vizinha Kelly a ansiedade sobre a menstruação que já deveria ter chegado.
A gravidez indesejada, passa a ser cada vez mais concretamente indesejada. Janaína não se imagina com um filho nos braços, naquele momento. A angústia da personagem só cresce.
Ao dividir com o namorado Jefferson tanto a notícia da gravidez, quanto a vontade de não prosseguir com a gestação, o namorado suporta suas decisões. Entretanto, quando Janaina pede ajuda financeira e que ele faça intermédio da compra da medicação necessária para o procedimento, Jefferson diz que o contato não deu certo. A partir daí, o personagem some da trama. Sem alardes. Uma ausência brilhante.

O namorado: uma ausência brilhante
Não há evidências de que o comportamento do namorado é uma fuga da responsabilidade, mas paira uma dúvida que evoca o sentimento de abandono masculino. Esse é um problema das mulheres e por elas deve ser solucionado.
É válido reforçar que realizar procedimento de forma doméstica é o único modo para Janaína interromper a gravidez, dentro de suas possibilidades financeiras. Acompanhamos, então, a personagem e sua busca por alternativas para encerrar seu sofrimento.
Kelly, a amiga, segue janaina desde o momento do teste, mas não só isso, Kelly está presente nos momentos mais críticos da narrativa. O laço entre elas retoma as personagens de Au revoir, curta metragem da mesma diretora, em que duas vizinhas estabelecem uma relação de suporte em meio a solidão.
Essas conexões na filmografia de Milena provocam reflexão sobre redes de apoio formadas por mulheres. E, às vezes, limitadas somente a mulheres.
A história de Janaína parece obedecer a um ciclo familiar, dentro do universo construído por Milena, composto de um elenco bastante jovem e a competente contribuição de fotografia e direção de arte minuciosos nesta composição que nos conduz a entrar para a família e entender a complexidade de seus integrantes e suas rotinas.
0 Comentários