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Críticas

60 Segundos

“60 Segundos” só serviu para revelar Giovanni Ribisi

Por Luiz Joaquim | 04.08.2000 (sexta-feira)

Há 16 anos, em uma sátira feita pela revista Mad ao filme Um Tira da Pesada, um quadrinho mostrava uma dezena de viaturas policiais perseguindo um carro roubado. No quadrinho seguinte, um garoto que observava tudo pergunta ao amigo: “como é o nome desse filme?”. O outro retruca: “como sabe que é um filme e não um seriado para a TV?”. “É simples”, explica o primeiro: “Nos seriados, a perseguição acontece no início. No cinema, acontece no final”. A lógica zombeteira da Mad cai como uma luva para sintetizar o que vem a ser 60 Segundos (Gone In 60 Secondes, EUA, 2000), filme de Dominic Sena, estreando hoje (04 de agosto) no Brasil.

Ao contrário dos carros que aparecem na tela, 60 Segundos não sai do chão. O roteiro de Scott Rosemberg é eficiente para aqueles que apreciam sentimentalismo barato ou ação carente de espiritualidade. Tem a profundidade de uma propaganda da MTV. Para combinar, o filme abre com Moby tocando a inédita Flowers, segue com o techno do The Crystal Method (Busy child) e termina com o big beat do Chemical Brothers (Leave home). A trilha sonora dá a eletricidade que o trailer sugere, mas não é descarregada no filme.

O produtor Jerry Bruckheimer, aparentemente insatisfeito com seu antigo projeto sobre quatro rodas, Dias de Trovão, rodado em 1990, resolveu refilmar 60 Segundos; longa homônimo dirigido por Toby Halicki em 74. O que deveria servir como um molho na novo roteiro modificado (a motivação do personagem de Nicolas Cage), acaba virando um melodrama ora flácido, ora oco. Cage interpreta Memphis, um legendário ladrão de carros que pendurou as chuteiras há seis anos à pedido da mãe; tudo para não influenciar Kip, o irmão mais novo (Giovanni Ribisi). Acontece que Kip, mesmo assim, envereda pelo caminho de Memphis e, sem o talento deste, acaba criando uma dívida com Dimitri – um contrabandista europeu com sotaque indefinido que mais parece um aprendiz de vilão criado por Ian Fleming. Para livrar o caçula da morte, Memphis precisa roubar 50 automóveis de luxo para Dimitri em apenas quatro dias.

A inábil direção de Dominc Sena em tornar esse singelo argumento numa aventura que fizesse a platéia urrar, vai ficando evidente à medida em que o subaproveitado elenco, principal e secundário, vai surgindo na tela. Dizem que o personagem de Cage é um apaixonado por carros, mas o que aparece é justamente o oposto de paixão. Não há muito tempo para o desenvolvimento dos personagens. Cage caminha da mesma forma estabelecida em A Rocha. Robert Duvall, no papel de Otto, não sugere a sabedoria e experiência que lhe dá o titulo de mentor de Memphis. As falas de Angelina Jolie aparecem bem menos que seus lábios; e o ladrão Esfinge (vivido por Vinnie Jones, de Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes) podia ser interpretado por um robô. Quem também pena com as falas e Delroy Lindo (de Regras da Vida). Ele é o detetive que perseguiu Memphis durante a vida inteira e, no final de tudo, resume seu perdão com a pérola: “amor de irmão é amor de irmão”.

Giovanni Ribisi ainda consegue tirar um ínfimo proveito como o irmão imaturo de Memphis, mas quem quiser descobrir o potencial desse novo talento norte-americano pode se dirigir para O Primeiro Milhão (em cartaz no Tacaruna 7 e Multiplex Recife 4). Risi ainda será bastante visto neste ano, contracenando com Hilary Swank no novo thriller de Sam Raimi (The Gift); e ao lado de Julie Delpy em Tell Me (dirigido pela própria). Sob outras circunstâncias (leia-se direção, roteiro, produção) 60 Segundos poderia ser um marco na categoria ‘filme de automóveis’, mas tudo se resume na boa perseguição-epílogo, bastante parecida com aquela que o garoto da Mad viu em 1984, vale salientar.

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