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Pirlimpimpim em DVD

Sítio do Picapau Amarelo realizado em 1978 agora em DVD

Por Luiz Joaquim | 09.09.2008 (terça-feira)

O que era “faz-de-conta” torna-se realidade a partir de amanhã para toda uma geração de brasileiros entre 30 e 40 anos de idade. Parte deste grupo, muitos já pais de família, costumava ocupar na infância o horário entre 17h30 e 18h diante da TV para assistir os episódio do “Sítio do Picapau Amarelo”. Aquela que é considerada por especialistas como a mais séria e adequada adaptação para a TV da obra de Monteiro Lobato foi realizada e levado ao ar pela Rede Globo e TV Educativa nos anos entre 1977 e 1986. Com o falecimento em 21 de julho de Geraldo Casé, o diretor geral daquele projeto, a Globo Marcas e a Som Livre decidiram antecipar para hoje um plano antigo: lançar em DVD aquelas aventuras de Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde e sua turma.

Assim, chega às lojas o DVD duplo “Memórias da Emília”, o sétimo dos nove programas levado ao ar em 1978. Durante 5 horas e 44 minutos, é possível rever em boa qualidade de imagem e som os cerca de 20 episódios deste programa que foi escolhido para inaugurar os lançamentos em DVD. Foi escolhido exatamente por conter um mosaico de histórias contadas em programas anteriores, como “A Pílula Falante”, “Os Piratas do Capitão Gancho”, “O Minotauro” e outros.

Em “Memórias…”, a boneca Emília (a atriz Reny de Oliveira, hoje residindo nos EUA) decide registrar as lembranças das aventuras vividas no Sítio contando-as a seu modo para o Visconde de Sabugosa (André Valli, falecido em 20 de junho) e, a medida em que o sábio vai escrevendo, as histórias ganham vida para o telespectador. Há ainda, como extra, um vídeo com o depoimento de Casé, registrado pouco antes de seu falecimento, no qual o diretor relembra quando ainda em 1976 cuidava, cercado de sociólogos, educadores, jornalistas e psicólogos, da concepção do programa. O sucesso do Sítio vinculou para sempre a imagem de Casé ao programa, e ele tinha muito orgulho disso.

Apesar da felicidade dos fãs de poder rever os “amigos” da infância, essa antecipação do lançamento resultou num DVD mal cuidado. Logo na capa a imagem que se vê é a da onça desenhada, que abria a série em 1977, enquanto “Memórias…” é do ano seguinte. Também na capa, há uma tosca sobreposição de imagens com fotos do episódio “A Máscara do Futuro”, que só foi ao ar em 1980, no qual os atores Júlio César (Pedrinho) e Rosana Garcia (Narizinho), se despediam por estarem muito crescidos.

Parecem detalhes bobos mas que chateiam os fãs. Que o diga Thiago Xavier, banqueiro, 28 anos, que já adquiriu o DVD pela internet em caráter de pré-venda. “No menu do disco, um dos ícones que aparece é a Cuca dos anos 2000”, lamenta. Mesmo assim, Xavier está contente com o lançamento e torce para que as vendas sejam bem sucedidas. “O êxito aqui vai estimular a empresa a lançar outros episódios”, aposta. Se depender da comunidade do Sitio com mais de 10 mil inscritos no site de relacionamento Orkut, o sucesso está garantido.

Xavier era muito pequeno para recordar do Sítio originalmente na Globo, mas ele foi um dos que acompanhou as reprises feitas pela TVE em 1987, 1988, 1994 e 1995, quando exibiu episódios de 1977 até 1979. A paixão o fez criar dois sites (hoje extintos) com rico acervo sobre o programa e acesso de 45 mil visitas. Mas o bancário acha que não valeria a pena reprisar hoje aquele Sítio. “As crianças não entrariam no clima. O ritmo é outro”. Pelo seu raciocínio, o alvo da Globo Marcas e da Som Livre são os pais das crianças de hoje. E se depender das dezenas de milhares de “Xaviers” espalhados pelos País, o investimento pode mesmo ser um sucesso.

SERVIÇO
DVD Sítio do Picapau Amarelo
Memória da Emília
Versão exibida em 1978
Globo Marcas / Som Livre
Preço sugerido R$ 39,90

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História do Sítio no cinema e na TV

A obra infantil de Monteiro Lobato sempre foi respeitada, exatamente pela ousadia de trazer ao conhecimento de nossas crianças as figuras do imaginário no folclore brasileiro ao invés de importar as tradicionais da literatura estrangeira. Não demorou muito para, em 1951, o cineasta Rodolfo Nanni (que esteve no último CIne-PE com “O Retorno”) realizar o longa-metragem “O Saci”. O moleque de carapuça e uma perna só foi vivido por Paulo Matosinho.

No ano seguinte, a TV Tupi de São Paulo levou ao ar, ao vivo, uma adaptação feito pelo casal Júlio Gouveia e Tatiana Belink. O episódio foi “A Pílula Falante” e a equipe foi do Teatro Escola de SP. O sucesso foi tanto que a emissora resolveu produzir a primeira série de televisão do Sítio do Picapau Amarelo.

A estréia foi em junho de 1952 e ficou no ar até 1963, totalizando 360 episódios, sempre com apresentações ao vivo. A exemplo da Tupi paulista, a carioca também produziu seu Sítio, mas apenas por dois meses em 1955. Lá surgiu Lúcia Lambertini, interpretando a Emília. Ela voltaria a fazer a Emília em 1964, quando também produziu novos episódios do programa, agora para a TV Cultura de São Paulo. O programa não encontrou sucesso e durou apenas seis meses.

Quatro anos mais tarde, o Sítio volta pela TV Bandeirantes. Era 12 de dezembro de 1967 o dia da estréia. O horário, às 17h, era o que consagraria também o da Globo/TVE dez anos depois. O investimento feito pelo Band aqui foi bem consistente. Quem comandava era o mesmo casal da Tupi SP, Gouveia e Belink. O casal, entretanto, comandou a equipe apenas por três meses. O programa agora era gravado em videotape e Gouvéia não gostava de perder a sensação de atuar num teatro sem platéia. Também não gostava dos cortes ,de fazer várias tomadas da mesma cena, nem de pensar em intervalos. Era cansativo e para cada episódio de 30 minutos, gastava cerca de oito horas. O programa seguiu mesmo assim até 1969 sob outro direção. Em 1973, o Sítio volta ao cinema pelas mãos de Geraldo Sarno.

Depois de um longo jejum na TV, em 2001 a Rede Globo assinou contrato com herdeiros de Lobato por 10 anos e decidiu produzir um novo Sítio, foi ao ar dia 12 de outubro. Havia muita descaraterização dos personagens e efeitos especiais em demasia, para descontentamento dos fãs. O Tio Barnabé, por exemplo, usava um colete jamaicano e Dona Benta recebia e-mails do Pedrinho. Em 2007 tudo foi reformulado inclusive trazendo Tatyana Goulart, uma atriz adulta para fazer a Emília.

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