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Críticas

Um Conto de Natal

Belo filme de Arnaud Desplechin exibe no Apolo (Recife)

Por Luiz Joaquim | 17.04.2009 (sexta-feira)

Quando “Reis e Rainhas” (2004) foi exibido no Brasil, passamos a observar um Arnaud Desplechin (diretor) com uma narrativa mais florida, envolvente, e cheia de intertextualidade. Agora, com a, finalmente, estréia de “Um Conto de Natal” (Un Conte de Nöel, Fra., 2008) no Recife, conhecemos outro Desplechin, com uma obra que se esforça mais para ser admirada que amada.

Com uma fluência narrativa impressionante, o convite aqui feito por ele é para conhecer a família da matriarca Junon (Catherine Deneuve), casada com Abel (Jean-Paul Rossillon) e mãe de três filhos: Elizabeth (Anne Consigny), Henri (Mathieu Amalric) e Ivan (Melvil Poupaud). O primogênito, Joseph, faleceu com poucos anos de vida, o que deixou sequelas em toda a família. Particularmente entre Elizabeth e Henri, com relações cortadas por definição da primeira.

Uma doença em Junon lhe demanda um transplante de medula, e a emergência reúne toda a família durante o Natal na casa de Roubax, que se torna um grande teste de compatibilidade, indo muito além dos exames médicos para encontrar um salvador da matriarca.

A busca de Junon por um doador dá à história uma interessante metáfora para como as famílias são indestrutivelmente amarradas pelo sangue, ou ainda para como eles podem rejeitar uns aos outros como um hospedeiro hostil reagindo contra uma fonte incompatível.

Assim como no debut de Selton Mello, “Feliz Natal”, (só que com muito mais
sofisticação dramática) Desplechin usa o fatídico encontro anual de Natal em família, determinado pela história como uma noite feliz, e distorce essa idéia de purpurina, dando espaço para uma psicologicamente estafante disputa de atenção entre as pessoas em função de problemas reais.

“Um Conto de Natal” não apresenta um único personagem estável, com exceção, talvez do patriarca Abel. Entretanto, Desplechin estende um grande carinho para todos eles, também sem excessão. Desde a esposa de Ivan, Sylvia (Chiara Mastroianni, filha de Deneuve na vida real), passando pelo seu primo Simon (Laurent Capelluto), e pela amante de Henri, Faunia (Emmanuelle Devos).

É uma afeição crua. Como se cada membro dessa família disfuncional fosse da própria família de Desplechin, com quem ele teria liberdade de maltratar, mas nunca deixar que alguém de fora fizesse o mesmo. É um maestro da dramaturgia.

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