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Críticas

007 contra Spectre

O último Bond por Craig

Por Luiz Joaquim | 05.11.2015 (quinta-feira)

Uma vez que o ator inglês Daniel Craig decidiu deixar de interpretar James Bond, que bom então que sua despedida seja com este “007 Contra Spectre” (EUA, 2015), que chega hoje aos cinemas. Dirigido pelo norte-americano Sam Mendes (“Beleza Americana”), responsável também pela aventura anterior (“Skyfall”, 2012), temos aqui no novo filme uma boa ênfase na dramaturgia, sem que a cenas de ação tenham sido relaxadas. Àqueles que andavam incomodados com o Bond moderno, visto nos três episódios anteriores (todos com Craig), podem sentar na poltrona do cinema e relaxar. Reconhecerão desta vez um velho amigo.

Um bom termômetro para o que será apresentado no decorrer de “Spectre” está na abertura, em sua apresentação de créditos, que é uma tradicional atração à parte da franquia. Destaque-se em “Spectre” um trabalho que não se via há anos nem mesmo dentro da série 007. Beleza, refinamento e elegância dão o padrão do personagem nessa vinheta de créditos de apresentação, ressaltando seu próprio valor dentro do filme como um todo. O apuro com os créditos costumava ter vida própria no passado, principalmente nos anos 1960. A saga de Bond o manteve vivo, mas veio perdendo importância nos últimas décadas. “Spectre” o resgata e deixa a plateia de queixo caído ainda no comecinho do filme. Tudo é sonoramente ilustrado com a canção “Writing s on Wall” (Oscar?), interpretada por Sam Smith.

Na verdade, o prólogo, que antecede a vinheta dos créditos, já deixa o espectador colado na poltrona, teso com uma sequência tensa na qual Bond aparece lutando num helicóptero em movimento sob uma praça numa Cidade do México apinhada de gente.

Além dos três nomes que já constavam assinando o roteiro de “Skyfall”, este “Spectre” ganhou um quarto elemento, Jez Butterworth, que parece ter feito a diferença puxando a persona de Bond às suas raízes. Um homem que não descuida da elegância e não tem pudor em usar seu charme com as mulheres para conseguir informações e ajuda nas investigações. Está aqui também o humor seco e o vilão desfigurado – mas de pouca empatia. Chama-se Oberhauser – um Christopher Waltz meio que no automático, lembrando seu nazista bonachão de “Bastardos Inglórios”, 2009; há ainda, claro, as engenhocas de Q (Ben Whishaw) feitas para salvar Bond daquela situação limite de perigo.

Apenas um senão dentro da coerência histórica do herói. Bond se apaixona, mais uma vez (sinal dos tempos). A bondgirl da vez é a francesa Madeleine Swann (Léa Seydoux, “Azul É a Cor mais Quente”). Ela é filha de um dos ex-membros da organização “Spectre”, que tem como um de seus tentáculos a nova Central de Segurança Nacional (CSN) inglesa. Agora fundida com a MI6, a CSN pretende encerrar o programa 00 de agentes secretos da realeza britânica. A contraproposta do seu chefe “C” (Andrew Scott) para a extinção do agentes é a construção da maior rede de observação digital do mundo, pelo qual todos em qualquer lugar podem ser vigiados. O “pesadelo de Orwell”, como diz M, vivido mais uma vez com maestria por Ralph Fiennes.

Além de um muito bom ritmo na narrativa para a apresentação das problemáticas do enredo, o diretor Mendes conseguiu criar ao menos dois climas próprios e dignos de Bond. Uma está na apresentação da violenta eleição para o sucessor de Sciarra (Alessandro Cremona), um dos diretores da Spectre morto por Bond, e outra está na luta corporal em pleno trem em movimento entre o agente britânico e uma montanha de músculo chamado Hinx (Dave Bautista), um capanga da Spectre.

Ao final, a boa combinação de todos esses ingredientes resulta numa rara sensação de que se viu um autêntico Bond num roteiro bem elaborado que extrapola o fato em si do enredo (sinal de qualidade). Tanto que nós faz pensar na “Spectre” como um espelho de uma ou outra instituição política no Brasil.

DESPEDIDA – Daniel Craig anunciou que este é seu último Bond e, logicamente, as apostas para o ator que dará novo rosto ao agente britânico começaram. Há dois meses, o ex-007 Pierce Brosnan, reforçou uma vertente que quer o próximo Bond interpretado por um negro. Em sua visão, o ator Idris Elba (da série “Beasts Of No Nation”) seria a escolha certa. Mas, Anthony Horowitz, o autor do próximo bond-enredo descartou a sugestão.

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