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Críticas

Cinco Graças

Fábrica de esposas

Por Luiz Joaquim | 11.03.2016 (sexta-feira)

Poucos perceberam a pertinência da sessão de pré-estreia no último dia 8 de março no Cinema do Museu do Homem do Nordeste (Recife) com o filme Cinco graças (Mustang, Tur., 2015) –; obra em cartaz desde ontem (10) também no Cine São Luiz e Cinépolis (em Jaboatão dos Guararapes, PE), além do Cinema do Museu.

No Dia da Mulher, a nota sonora em destaque para o tom da música a tocar naquela data estava mais para a da incessante luta pela reivindicação à igualdade do que para qualquer tipo de celebração. E Cinco graças ilustra essa luta feminina com a graciosidade que é delas.

Não que a cineasta turca Deniz Gamze Ergüven tenha realizado aqui uma obra militante ou xiita para levantar uma bandeira cega sobre a tirania contra as mulheres.

Pelo contrário. Ao concentrar-se na história do destino de cinco irmãs que vivem no interior da Turquia (todas elas entre a pré-adolescência e a adolescência) – e, destino este pontuado a partir de um episódio bobo numa praia -, Ergüven personaliza uma triste história universal de opressão cuja continuidade é difícil de compreender no século 21.

E, no caso, tal violência ainda soa mais brutal considerando que as lindas Sonay (Ilayda Akdogan), Ece (Elit Iscan), Selma (Tugba Sunguroglu), Nur (Doga Zeynep Doguslu) e Lale (Günes Sensoy) vivenciam o despertar da própria sexualidade em suas mais complexas fases, considerando a pequena diferença de idade entre as cinco meninas.

Se a Val de Anna Muylaert (e a própria Muylaert) em seu Que horas ela volta? tornou-se numa certa medida, no Brasil 2015, um símbolo de luta feminina contra a opressão contra a mulher, as jovens de Ergüven poderiam alcançar a mesma força social-cultural, sendo que, com sua flecha apontada para a juventude feminina.

Meninas e mulheres na platéia deverão fatalmente se identificar, claro que mantendo a correta proporção em perspectiva, com alguns conflitos (e também alegrias) mostrados aqui pelas amorosas cinco irmãs.

Vivendo numa casa grande no campo, a 100 quilômetros da metrópole Istambul, as cinco irmãs são órfãs de pai e mãe. São criadas pela avó (Nihal G. Koldas), sendo o único homem da casa o duro e tradicional tio Erol (Ayberk Pekcan).

Tendo a mais velha, Sonay, não mais que 17 anos de idade, e a mais nova, Lale, vivendo algo por volta de seus 10 anos, elas experimentam uma punição dada pelos seus responsáveis, que as tornam prisioneiras dentro de sua própria casa.

Junto à punição, experimentam também a tradição local do arranjo feito pelos pais de um casamento assim que as meninas vivenciem a primeira menstruação.

Curioso que o roteiro co-escrito entre Ergüven e Alice Winocour concentra em Sonay e Lale, que são a ponta final e inicial desse universo, o grau maior de contestação e confrontamento exitoso em suas conquistas naquele ambiente opressor.

Há quem acuse Cinco graças de ser um filme político no qual sua política é promover a perpetuação dos estereótipos. Isto por conta de seu final libertador. Há aqueles que gostariam dele acontecendo dentro da lógica local, com uma conclusão pautada pelo plausível do contexto cultural, ou seja, o da violência contra elas. Com a continuação do sofrimento das meninas.

Esquecem-se, estes, que a delicadeza tem igual poder inspirador.

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