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Críticas

Homem-Aranha: De volta ao lar

Um novo aranha, para uma nova era.

Por Luiz Joaquim | 07.07.2017 (sexta-feira)

Aqueles que gostam de resumir a ‘bom’ ou a ‘ruim’ quando falam de um filme, devem prestar atenção ao comentar sobre Homem-aranha: De volta ao lar (Spider-man: Homecoming, EUA, 2017), em cartaz desde ontem (6) no Brasil.

Porque o filme pode ser os dois.

E é provável que não seja tão simples percebê-lo assim. O mais provável é ainda enxergá-lo como uma total bobagem equivocada ou um total acerto do entretenimento.

Acontece que há neste filme dirigido por John Watts, do alto de seus 36 anos (a idade é algo importante aqui, como verá a seguir no texto), uma maciça carga de efeitos especiais que, em muitas sequências de luta, lembram tristemente, mais uma vez, as imagens do último jogo da Nintendo.

Ao mesmo tempo há um sentido de urgência, gerado pelo objetivo do Aranha em evitar catástrofes. E isso está em, ao menos, três momentos do filme. Com todas estas urgências aguçadas por desastres colossais. Estes três pontos do filme valem o título de super-herói ao novo Aranha, aqui com 15 anos, e defendido com energia pelo ator Tom Holland, 21 anos (cuja primeira aparição com a roupa do aracnídeo aconteceu em Capitão América: Guerra civil, 2016).

Os motivos que levam o adolescente a salvar pessoas no novo filme (e o Aranha nunca foi mostrado tão adolescente como agora) é um motivo próprio da sua faixa etária: a busca pela aceitação.

Neste sentido, De volta ao lar já tem dois trunfos com seu potencial e juvenil público. Repetindo: o visual e a velocidade Nintendo, mais a identificação com a personalidade do protagonista.

Peter Parker, depois de pequena mas eficaz participação em Guerra civil, quando ajuda o Homem de Ferro/Tony Stark (Robert Downey Jr.),  ganha dele a chance de integrar-se aos Vingadores. Mas para isso tem de passa por uma espécie de estágio de super-herói, com um uniforme high-tech bolado e confeccionado pelo próprio Stark.

Longe do conceito original para o personagem aracnídeo (definido por Steve Ditko e Stan Lee em 1962), o Aranha com o novo uniforme funciona como um adolescente que está testando seu novo celular, recheado de tecnologia que ele não domina totalmente, mas que adora testá-lo ao limite. Ou seja, é enfadonho.

A estratégia parece soar como uma tentativa de divertir como o reboot de 2012 – O espetacular homem-aranha, com direção de Marc Webb e protagonismo de Andrew Garfiel – divertiu na medida em que mostrava com leveza no humor o garoto descobrindo seus poderes.

Só que, mais uma vez, este De volta ao lar, apesar de dar tiros na direção errada (do cinema) parece acertar seu alvo (comercial) com muita precisão. O filme de Watts mantém uma sintonia fina com a modernidade que a platéia dos hormônios em ebulição costuma procurar no cinema.

Ainda que essa ‘sintonia’ possa soar ‘velha’ num futuro próximo, este filme com aquele que é um dos mais simpáticos e auto-identificáveis heróis – é pobre, é jovem e carente, órfão, e é zoado no colégio –, ela, a ‘sintonia’, deixa o nosso herói ainda mais ‘amigo’ do jovem espectador. E contradizer esse sentimento não é simples.

Ned (Jacob Batalon) e Parker (Tom Holland)

Em síntese, é como se De volta ao lar se marcasse como um modelo irreversível (ao menos por um bom par de anos daqui para frente) de filmes de super-herói que, em absoluto, não pertence à geração que cresceu nos 1970 e 1980

Se essa configuração já se anunciava e construía-se a partir dos anos 2000, ela agora parece fechar um ciclo de forma irrefutável. Tais filmes não são para a apreciação de toda e qualquer geração – apesar de venderem-se assim –, mas sim para os jovens (na idade ou na cabeça).

É com estes que eles dialogam. É para estes que seus signos são desenhados. E se isso parece óbvio, dito a partir de De volta ao lar, é porque a construção desse modelo veio sendo alimentado de maneira bastante elaborada por Hollywood. Ora sutil, ora não.

E como toda regra tem sua exceção, 2017 já nos deu um bom exemplo disso, com Logan, e a morte de um ícone do gênero: Wolverine (ao menos com ele encarnado pelo seu ator símbolo, Hugh Jackman). Seria uma coincidência, que a velha guarda esteja saindo de cena ao mesmo tempo em que a nova surja, seja na estética ou na temática? Ou será que Logan também seja mais uma referência do início de um novo ciclo.

Como curiosidade, vale atentar que Michael Keaton, no novo Aranha como o vilão Vulture, já foi Batman por duas vezes (1989, 1992), com uma mãozinha de Tim Burton, além de ter sido um ‘heroi’ voador em Birdman (2014).

Também interessante é a estrutura politicamente ajustada, versão 2017, deste produto milionário chamado De volta ao lar, com um elenco secundário que reúne etnias diversas, passando pelo melhor amigo de Parker, o descendente de filipino, Ned (Jacob Batalon), e pelo crush do Aranha, a afro-americana Liz (Laura Harrier), filha de um casal inter-étnico.

A propósito de temática, a parte bacana do novo Aranha está no caráter do moleque, este mantendo-se fiel ao original personagem de Parker. Já no finzinho do filme, ele é submetido a uma proposta. Sua resposta define o que realmente deve importar para um super-heroi (ou para um mero herói). E isso é um bom exemplo, seja para jovens, adultos ou idosos. Atente.

Em tempo  – ao longo da última década e meia, os filmes de super-heróis tornaram reféns seus jovens fãs mostrando sempre ao final dos créditos uma última informação que dá a dica do que virá no próximo filme da franquia. Em De volta ao lar essa info também existe, mas subverte a brincadeira, mostrando um dado valiosíssimo, que falará diretamente a você como este tipo de cinema tem você sob controle. Espere até último crédito subir e confira o recado.

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