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Festivais

13. CineOP (2018) – bate papo com Maria Gladys

Atriz relembrou do início da carreira, brincou com Neville D’Almeida e conquistou a todos com sua energia

Por Luiz Joaquim | 16.06.2018 (sábado)

– na foto de Beto Staino, Neville D’Almeida, Maria Gladys, e o crítico Marcelo Miranda.

OURO PRETO (MG) – No início da tarde de ontem (15), aqui no 13º CineOP: Mostra de Cinema de Ouro Preto, o que seria um bate-papo informal e habitual entre convidado e público acabou tornando-se numa espécie de performance. Menos pela iniciativa da então homenageada, a atriz Maria Gladys, e mais por Neville D’Almeida, cineasta com quem Gladys trabalhou em cinco filmes.

A por aqui chamada Roda de conversa aconteceu no colorido hall de convivência do Centro de Convenções de Ouro Preto. O ambiente, próprio pra descontração, viu a conversa iniciar pelo mediador Marcelo Miranda estimulando Gladys a falar do princípio de sua inclinação para o trabalho artístico.

O início foi como dançarina de Rock’n’Roll. “Dancei para a banda Bill Halley e Seus Cometas” [ final dos 1950], quando vieram ao Brasil e se apresentaram no Maracananzinho”. Por essa época, Gladys chegou a ter um namorico com Roberto Carlos, revelou.

E na busca dessas memórias, a atriz, prestes a fazer 80 anos, foi ainda mais fundo nas lembranças, quando estava no início da adolescência, e lembrou dos conselhos da mãe, que lhe avisava: “Você precisa decidir o que vai fazer, pois com essa perna você não vai conseguir dançar”. “Desde cedo eu era muito avançada. Nós morávamos no subúrbio e isso os incomodava. Eu nunca fui careta”.

Mas a mãe referia-se a limitação na perna esquerda de Gladys. Complicação que lhe surgiu a partir de uma paralisia infantil. “Mas a perna nunca me impediu de nada. Hoje, com a idade, é mais complicado”.

Gladys ressaltou que o começo como atriz foi no teatro. Reforçou que lhe diziam que não podia interpretar personagens estrangeiros por seu biótipo. “Não gostava disso. Eu lia muito. Se você estudava teatro naquela época, precisa ler todos os russos, eu queria interpretar Tchekhov, e questionava Sartre. Em A idade da razão ele dizia: ‘Aos 30 [anos] você é uma ficha inútil’. Eu achava uma merda. Aquilo me deixava furiosa”.

Neville, nesse ponto, interrompe pra avisar a atriz: “Mas aquilo foi antes da gente. No pós-Guerra, houve três movimentos fundamentais no cinema: O Neo-Realismo, a Nouvelle Vague e o Cinema Novo. Mas o Cinema Novo foi o mais vibrante, o que mais brincou com a linguagem”, arriscou.

Gladys lembrou que se já não era careta na época, quando conheceu Neville “tudo mudou”.  E Neville: “quando conheci Gladys vi que era a verdadeira atriz brasileira. Toda a fome, medo desejo que estavam no rosto dela era o melhor dela e ela tinha que aproveitar isso. Você pode ser uma empregada doméstica ou uma rainha, eu disse a ela”.

A respeito de algumas curiosidades, Gladys lembrou que em Os fuzis, o produtor Jarbas Barbosa queria que Nara Leão, que era namorada do Ruy Guerra na época, fizesse o papel que foi para dela. “Eu precisei fazer teste para estar no filme. A Nara não queria fazer o papel , e foi muito bom pra mim. O filme foi premiado em Berlim e eu achando que voltando ao Rio de Janeiro iria ter trabalho imediato. Fiquei quatro anos sem nenhum convite”, remendou o veterano.

“Mas depois conheci tanta gente interessante, o Domingos [Oliveira], o Rogério [Sganzerla], que com 21 anos fazia aquelas maravilhas”. E sobre o Sem essa Aranha (1970), lembrou: “Como eu lamento ter perdido as filmagens da sequência final do filme, com o Luiz Gonzaga. Mas é que a gente filmava pela manhã e à tarde eu tinha de estar num peça. Contracenava eu e outro ator, não podia faltar”.

Nesse momento, Neville entra no assunto para lhe perguntar se algum diretor contemporâneo seria capaz de filmar como o Rogério. Gladys lembra do Bruno Safadi, mas Neville o rechaça, comparando-o a um ‘genérico’ do Júlio Bressane. “Mas não estamos aqui para desestimular as pessoas e sim para estimular quem ainda não fez cinema e acha que não tem espaço”.

Meio que dono do espaço, gravando imagens da plateia sentando no chão, perambulando por todo o hall, deitando no chão, levantando, Neville propõe a Gladys um improviso. Ela interpretaria uma frase que ele inventaria na hora.

A essa altura, o bate-papo virara uma performance quase que involuntária, com o cineasta incitando que Gladys reclamesse por justiça. A atriz vai além e extrapola a frase dita pelo diretor, falando uma palavra de ordem bem conhecida pela esquerda brasileira em junho de 2018. Um trecho desse momento pode ser conferido no vídeo abaixo.

A conversa já encaminhava-se para o final e o saldo foi conhecermos uma Maria Gladys viva, generosa, ativa e muito carinhosa com todos, além de grata pela carreira construída.

Viagem a convite da Mostra

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