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Críticas

Bicho de Sete Cabeças

Rodrigo Santoro vem arrebanhando prêmios por sua atuação comedida e exata.

Por Luiz Joaquim | 03.06.2018 (domingo)

– publicado originalmente em 22 de junho de 2001 no site Tô na boa

Em 1916 , D. W. Griffith rodou Intolerância. Neste marco da cinematografia mundial o diretor examina os efeitos da intolerância em quatro eras distintas: na Babilônia, por rivalidade religiosa, na Judeia, por hipocrisia dos Fariseus, na Paris de 1572, quando dois jovens hugonetes se preparam para o casamento, e nos Estados Unidos contemporâneo, quando uma reforma social destrói a vida de uma jovem mulher e seu amado.

Griffith fez esse filme com um objeto claramente estabelecido: o de chama a atenção da sociedade norte-americana para a incoerência da intolerância. Isso porque ele próprio foi vítima de críticas pesadas pelo seu filme anterior O Nascimento de Uma Nação (1915) – filme referencia para a técnica da montagem no cinema. Em Borth of A Nation, Griffith fala da guerra civil na América tendo como plot a integração de dois irmãos pela causa no estado da Carolina do Sul. Mas as críticas vieram por conta da postura pró-Ku Klux-Khan que Griffith apresentou no seu longa.

Refiro-me a esses dois clássicos do cinema para ressaltar o cerne da estréia mais importante dessa semana (22.jun.2001) no Recife. Chama-se Bicho de Sete Cabeças (Brasil, 2001). Sim, a produção nacional de Laís Bodanski é o filme mais interessante aportando nos cinemas locais. E é exatamente a intolerância entre pai e filho que gera todo o trauma vivido pelo protagonista encorpado por Rodrigo Santoro. O ator vem arrebanhando prêmios por sua atuação comedida e exata no papel de um adolescente que vai parar num manicômio e sofre tratamentos de choque graças a precipitação de seu pai que enxerga no fato do filho fumar maconha um ato doentio e de insanidade.

Bodanski não só ousou  no tema escolhido para esse seu primeiro longa de ficção (baseada numa história verídica), como também deu prova de garra e personalidade na execução da produção. Pouquíssimos filmes tupiniquins retratam de forma tão convincente a situação absurda das casas de tratamento psicológico no Brasil. Além disso, todo o elenco é bem dirigido, sendo estas participações naturalistas, dando uma maior proximidade do que se vê na tela com o que se vive em casa.

ANIMAÇÕES E BELEZA DE HONG KONG – Finalmente entra em cartaz Shrek (EUA, 2001), o poderoso desenho da Disney desta temporada. Crianças e adultos saem igualmente satisfeitos de Shrek. Depois de arrebatar Cannes 2001, a historia do Ogro e seu fiel jumento que, juntos salvam uma mocinha bem fora dos padrões que estamos habituados a enxergar nas produções Disney. Mais uma vez, chamo a atenção a cena que imita o já clássico eferência a Matrix.

E neste domingo (24) tem a pré-estréia de Amor À Flor da Pele (In The Mood For Love, China, 2000), às 18h no Cinema da Fundação. O filme de Wong Kar-Wai leva o espectador a conhecer Su (Maggie Cheng) e Chow (Tony Leung). Mas a perspectiva de quem está sentado na poltrona não vai ser a de um juiz que preconcebe a sentença do amargurado casal. A nossa visão será sim a de uma testemunha que acompanha o nascimento do amor entre duas pessoas pressionadas pela aflição da traição. Numa Hong Kong chuvosa dos anos 1960, embalada por boleros na voz de Nat King Cole, Su e Chow estão mudando para um mesmo prédio, onde serão vizinhos.

Acontece que o marido de Su começa a traí-la com a esposa de Chow. Depois de comprovar o caso entre os respectivos companheiros, Su e Chow iniciam um relacionamento semelhante ao de dois náufragos. Fotografia e desenvolvimento delicados e poderosos faz deste filme um dos mais importantes do ano passado e parada obrigatória no Cinema da Fundação neste final de semana.

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