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Críticas

A Menina Santa

A salvação da alma pela pureza do sexo

Por Luiz Joaquim | 06.07.2018 (sexta-feira)

– publicado originalmente em 7 de Setembro de 2005 no jornal Folha de Pernambuco

Quem viu O Pântano (2002), de Lucrécia Martel, sabe o que esperar de A Menina Santa (La Niña Santa, Arg., 2004), seu segundo longa-metragem, que entra em cartaz hoje no Cinema da Fundação. Quem não viu seu primeiro filme, poderá conhecer no seu novo trabalho um “cinema de sentidos” que, se em O Pântano era amplificado ao extremo por closes e preciosismos sonoros, sem falar da mise-en-scène ambientada para seus atores, verá em Menina Santa este mesmo exercício cinematográfico, só que agora com uma narrativa de maior acesso comunicativo.

Isso não significa que Martel fez um filme menor. Pelo contrário. A argentina conseguiu unir exuberância estética e eloquência narrativa num mesmo filme no qual o que importa não é a brutalidade do toque, mas sim a energia da proximidade física. É um pouco como o que o musicista de rua que aparece em Menina Santa faz. Ele controla sons e promove música num aparelho sem nem mesmo tocá-lo.

É inclusive numa dessas apresentações onde a adolescente Amália (Maria Alche, hipnótica), misturada entre pessoas observando a “mágica”, tem o primeiro contato com o Dr. Jano (Carlos Belloso). Depois desse quase-encontro sexual, Amália começa a nutrir uma angustiada dúvida sobre sua função religiosa e seu poder divino para salvar a alma de um homem bom com seu sexo. Ao mesmo tempo, Dr. Jano, hospedado num hotel para participar de um congresso, desenvolve um interesse pela triste mãe de Amália (Mercedes Moran).

Nesse ponto, o filme orienta o espectador para outra trilha dramática até chegar ao momento final da história, quando aqui já se transforma numa espécie de thriller e, como num jogo de revelações, dá um novo tom e sabor a Menina Santa. A derradeira cena que se vê no filme pode soar decepcionante ao espectador despreparado, mas é como se Martel quisesse dizer que o desenrolar não tem a menor importância. Importa o processo, a experiência, o aprendizado. Ou ainda que o toque não faz tanta diferença, mas a presença sim. Simplesmente genial.

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