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Reportagens

O Cinema da Fundação, no Derby (Recife), reabre

Após 4 meses fechada, sala reabre com programação especial e gratuita nesta quinta-feira (17/8)

Por Luiz Joaquim | 15.08.2023 (terça-feira)

na foto acima, cena de Bent, de Sean Mathias, primeiro filme exibido, em maio de 1998, no comercial conceito curatorial da Fundaj.

O Cinema da Fundação, sala do Derby, está voltando.

Após quatro meses fechada para ajustes estruturais no auditório e no equipamento de projeção, a sala do Derby do Cinema da Fundação reabre as portas ao público nesta quinta-feira (17).

A programação do Derby, nesta semana de reabertura – 17 a 23 de agosto – irá contemplar todos os gostos daqueles que reconhecem no Cinema da Fundação o espaço, por excelência, da melhor programação da cidade.

Ao todo 17 filmes (onze longas-metragens e seis curtas-metragens) compõem um painel de clássicos estrangeiros e brasileiros, uma estreia internacional e mais uma sessão de pré-estreia daquele que é o filme pernambucano mais esperado de 2023: Retratos fantasmas (2023), de Kleber Mendonça Filho (sessão às 18h do sábado, 19/8).

25 ANOS – Há, ainda, a projeção de Bent (1997), de Sean Mathias, o primeiro filme exibido comercialmente no Cinema da Fundação, em maio de 1998, inaugurando o conceito curatorial que o espaço vem oferecendo há 25 anos; e também um dos títulos mais marcantes daquele ano inicial: Hana-BI: Fogos de Artifício (1997), de Takeshi Kitano.

Takeshi Kitano em “Hana-BI”

Em Bent vamos a um campo de concentração nazista e conhecemos Max (Clive Owen) reprimido em sua homossexualidade, usando a estrela amarela que identificava judeus no lugar do triângulo rosa, que era conhecida por “marcar” os homossexuais. Sua perspectiva muda ao conhecer Horst (Lothaire Blutheau), um prisioneiro que usa seu triângulo rosa com orgulho. Atenção para a participação marcante de Mick Jagger como o anfitrião da festa na abertura do filme.

Hana-BI: Fogos de Artifício, que foi o primeiro longa-metragem nipônico a ganhar o Leão de Ouro em Veneza, 47 anos após Rashomon, de Kurosawa, nos apresenta o policial Nishi (Kitano), que se vê perseguido pela Yakusa, a máfia japonesa, por conta de uma dívida de dinheiro. Ao mesmo tempo, Nishi precisa acompanhar os últimos dias de vida de sua esposa, com uma doença terminal, e apoiar seu amigo Horibe, baleado pelos mafiosos.

BRASILEIROS – Dois filmes brasileiros separados por uma década de realização e anos luz de proposição estética e discursiva marcam a programação de reabertura do Cinema do Derby.  Um deles é o O homem do Sputnik (1959), de Carlos Manga, que traz o gigante das nossas chanchadas, Oscarito como o simplório Anastácio, crente de que, em seu galinheiro, caiu o satélite russo Sputnik. Uma vez que a notícia se espalha, ele passa a ser perseguido por espiões. Jô Soares, em sua estreia no cinema, vive um desses espiões americano, e a jovem Norma Bengell dá a sua versão da Brigitte Bardot como a personagem BêBê.

Oscarito é Anastácio e Bengell é BêBê, em “O Homem do Suptnik”

O outro filme foi rodado em 1969, com direção de Fernando Coni Campos para a Aurora Duarte Produções: Uma nêga chamada Tereza (1973) conta uma alucinada história criada pelo artista Arnoud Rodrigues sobre um casal africano (Antônio Pitanga e Marlene França) que vem conhecer o Brasil por ocasião do Festival Internacional da Canção, no qual o cantor Jorge Ben (como ele mesmo) é o favorito. Acontece que uma quadrilha comandada por Bárbara/Barbarella (Pepita Rodrigues) trama um plano para ganhar o primeiro prêmio: Pedro Paulo, um sósia do cantor, será raptado e vai substituí-lo. Será? Renegado pelo próprio Coni Campos, esse raro e psicodélico filme só foi lançado quatro anos depois, com este que é o seu quarto e último corte de edição. O filme terá sessão única no Cinema da Fundação (às 16h do domingo, 20/8), com apresentação do coordenador do Cinema da Fundação, Luiz Joaquim.

“Um filme para rir, para curtir e muito adoidado!” (Diário de Pernambuco, 1974)

5X GODARD – Chega, finalmente, ao Recife a mostra 5X GODARD. O Cinema da Fundação, Derby, em sua semana de reabertura, apresenta cinco clássicos do mestre da Nouvelle Vague francesa, falecido em 13 de setembro de 2022. A mostra é uma correalização entre a Embaixada da França no Brasil, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e o Institut Français.

Em cinco filmes, a mostra presta uma homenagem ao realizador franco-suíço Jean-Luc Godard. Os títulos trazem ao público exatamente o melhor de sua produção durante a Nouvelle Vague francesa. Trata-se de realizações sintonizadas com as inquietações políticas de então e que também imortalizaram-se pela experimentações com a linguagem cinematográfica.

“Acossado”

Na seleção, com os filmes sendo exibidos todos em formato DCP, está programado Acossado (1960), seu primeiro longa-metragem e filme-manifesto estético da Nouvelle Vague, tendo vencido o Urso de Prata de melhor diretor no Festival de Berlim. Já em O desprezo (1963), com Brigitte Bardot, Jack Palance, Michel Poccoli e Fritz Lang no elenco, Godard foi celebrado pela sua adaptação literária.

Bardot em “O Desprezo”

Na ficção científica, Alphaville (1965), o cineasta satiriza filmes de espionagem e marca a sua passagem para uma postura explicitamente militante. Neste contexto, outros exemplos que estão na programação são O demônio das onze horas (1965) e A chinesa (1967).

Léaud em “A Chinesa”

Cada um dos cinco filmes da mostra 5X Godard será apresentado por um realizador ou pesquisador pernambucano. São eles Luiz Otávio Pereira (Acossado às 20h20 da sexta-feira, dia 18/8); Matheus Cartaxo (O Desprezo às 18h20 do sábado, 19/8); Mariana Porto (Alphaville às 18h do domingo, dia 20/8); Ângela Priston (O Demônio das Onze Horas às 20h da terça, dia 22/8); e Pedro Severien, que também assina como Severino (A chinesa às 20h10 da quarta-feira, dia 23/8).

 

 

Mais abaixo veja detalhes sobre os/as convidados/as que irão apresentar os filmes da mostra 5X Godard.

LANÇAMENTO – O frequentador do Cinema da Fundação Derby também poderá conferir na semana de reabertura o aguardado novo filme de Ira Sachs. Produzido por Saïd Ben Saïd (Elle, Bacurau) e Michel Merkt (Toni Erdmann), Passagens (2023) é protagonizado por Ben Whishaw, Franz Rogowski (de Disco Boy, atualmente em cartaz no Cinema da Fundação/Porto) e Adèle Exarchopoulos (Azul é a cor mais quente). Situado em Paris, o filme conta a história de Tomas (Rogowski) e Martin (Whishaw), um casal gay que tem o relacionamento abalado quando Tomas começa um caso apaixonado com Agathe (Exarchopoulos), uma mulher mais nova que ele conhece após terminar seu último filme. Passagens foi bastante celebrado no Festival de Sundance e concorreu no Festival de Berlim, em fevereiro.

Cena do inédito “Passagens”

CURTAS – O Cinema da Fundação vai inaugurar uma nova faixa mensal dedicada exclusivamente a curtas-metragens. A Sessão Chama Curtas inicia às 14h deste sábado, 19/8, com um conjunto de obras pautadas pelo tema ‘Cinema de Dispositivo’. Temas serão renovados a cada mês.

Na seleção da sessão inaugural estão presentes Thinya (2019), de Lia Letícia, e Cinema contemporâneo (2019), de Felipe André Silva, curtas-metragens que entrelaçam inventivamente o voice-over a narrativas construídas a partir de registros arquivísticos – históricos e pessoais. Igualmente audaciosos, O durião proíbido (2021), de Txai Ferraz, e Intervenção (2015), de Pedro Maia Brito, são obras que desconstroem estruturas documentais ao injetarem as infinitas possibilidades da ficção. Já Rebu (2019), de Mayara Santana, e Olhos de Erê (2021), de Luan Manzo, trazem como marca a subversão do ato de filmar e contar uma história na perspectiva do seu narrador.

Ao final da sessão, um debate seria mediado com alguns dos realizadores.

SESSÕES GRATUITAS – Exceto pelas sessões do lançamento Passagens e pela sessão de pré-estreia de Retratos fantasmas, todas as demais sessões serão gratuitas, com os convites sendo distribuídos na bilheteria uma hora antes do início de sua respectiva sessão. Serão distribuídos um máximo de dois convites por pessoa para cada sessão.

Sobre os realizadores/pesquisadores convidados a apresentar os filmes do programa 5X Godard.

Luiz Otávio Pereira, roteirista e diretor, tem graduação em Comunicação Social/Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela UFPE. Escreveu curtas (Corpo Oco; Canção para minha irmã; Uma vida e outra) e longas (Os vivos caminham a terra; Fim de semana no paraíso selvagem; Todas as cores da noite; Boa sorte, meu amor). Tem experiência na área de direção de filmes (Já cansei de acreditar; Sobre minha melhor amiga) e com curadoria para o festival Janela Internacional de Cinema do Recife. É professor de Roteiro e Filmologia e Direção Cinematográfica no curso de Cinema e Audiovisual do Centro Universitário AESO-Barros Melo (UNIAESO), do qual atualmente é Coordenador.

Matheus Cartaxo é crítico de cinema. Fez graduação em Cinema e Audiovisual pela UFPE, onde também realizou o mestrado, com dissertação sobre o diretor americano Brian De Palma. Desde 2009, é editor e redator da Foco – Revista de Cinema. Atualmente, também trabalha como curador no serviço de streaming Lumine.

Mariana Porto é diretora, montadora e pesquisadora ligada ao cinema e audiovisual. Doutora em Comunicação Social (PPGCOM/ UFPE), Mestre em Artes Cênicas (PPGAC/ UFBA) e  Psicóloga (UFC). É docente em pós-graduações, no ensino superior e em formações audiovisuais em contextos comunitários. Também trabalha como Psicóloga clínica.

Angela Prysthon é  Bacharel em Jornalismo e Mestre em Teoria Literária pela Universidade Federal de Pernambuco. Doutorou-se pela Universidade de Nottingham, Reino Unido. É professora titular da UFPE. Atua no Programa de Pós-graduação em Comunicação e no Bacharelado em Cinema e Audiovisual da mesma universidade. É lider do grupo de pesquisa Imagens Contemporâneas. É pesquisadora do CNPq desde 2006. É autora dos livros “Cosmopolitismos periféricos” (2002),  “Utopias da frivolidade (2014),  “Retratos das Margens” (2022) e Recortes do Mundo (2023). Foi presidente da SOCINE (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual) no biênio 2017-2019. Publica regularmente artigos e capítulos sobre cinema e audiovisual.

Pedro Severien, que também assina como Severino, é roteirista e diretor de cinema com mestrado em Realização Audiovisual pela Universidade de Bristol. Possui diversificada produção de curtas, com filmes premiados como Canção para minha irmã (2012) e Loja de répteis (2014). Esses trabalhos circularam em dezenas de festivais nacionais e internacionais (Clermont-Ferrand, Cartagena, Havana, Brasília, entre outros). Seu primeiro longa-metragem, Todas as cores da noite (2015) estreou no Slamdance e recebeu prêmio do público no Festival de Vitória. Fim de semana no paraíso selvagem (2022), segundo longa de ficção dirigido por Severien, teve sua estreia na Mostra de São Paulo e recebeu sete prêmios, incluindo melhor direção e melhor filme, no Festival Guarnicê de Cinema. Atualmente, Pedro é professor substituto no Departamento de Comunicação da UFPE e conduz pesquisa de doutorado no PPGCOM dessa mesma instituição.

Serviço:

  • Reabertura do Cinema da Fundação / Sala Derby
  • De 17 a 23 de agosto de 2023
  • Ingressos: R$ 14 e R$ 7 (meia) para os filmes Retratos fantasmas e Passagens
  • Entrada franca para as sessões dos demais filmes da semana de reabertura..
  • Ingressos (apenas dinheiro) ou convites estarão disponíveis na bilheteria uma hora antes do início de cada sessão.

Programação fornecida pelo Cinema da Fundação (Recife)

Programação por dia

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Quinta-feira, 17

14h30 – A Chinesa

16h30 – O Homem do Sputnik

18h30 – Passagens

20h30 – Bent

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Sexta-feira, 18

14h20 – Hana-Bi: Fogos de Artifício

16h20 – Passagens

18h30 – Retratos Fantasmas (pré-estreia)

20h20 – Acossado (com apresentação de Luiz Otávio Pereira)

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Sábado, 19

14h – Sessão Chama Curtas + debate

16h15 – Hana-Bi: Fogos de Artifício

18h20 – O Desprezo (com apresentação de Matheus Cartaxo)

20h50 – Retratos Fantasmas (pré-estreia)

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Domingo, 20

14h – Passagens

16h – Uma Nêga Chamada Tereza (com apresentação de Luiz Joaquim)

18h – Alphaville (com apresentação de Mariana Porto)

20h15 – Acossado

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Terça-feira, 22

14h – O Desprezo

16h – Alphaville

18h – Hana-Bi : Fogos de Artifício

20h – O Demônio das Onze Horas (com apresentação de Ângela Prysthon)

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Quarta-feira, 23

14h – Bent

16h – O Demônio das Onze Horas

18h10 – Passagens

20h10 – A Chinesa (com apresentação de Pedro Severien / Severino)

 

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