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Críticas

Como Fazer Um Filme de Amor

Raio `X` humorado de um filme de amor.

Por Luiz Joaquim | 20.11.2018 (terça-feira)

– Publicado originalmente em 2004 no Jornal Folha de Pernambuco.

No Cine-PE de 2004, o benevolente público recifense se desmontava de rir, no então Cineteatro Guararapes, com a aula sobre clichê cinematográfico chamado Como fazer um filme de amor (Brasil, 2004). O filme foi o longa-metragem de estréia de José Roberto Torero. No filme o talentoso diretor de curtas-metragens brinca desconstruindo os vários recursos dos filmes de amor.

Tendo Denise Fraga, Cássio Gabus Mendes e Marisa Orth encarnando os estereótipos da mocinha, do galã e da vilã, Torero mostra as fórmulas do gênero que desde século 19, através da literatura romântica, vêm sendo aplicadas para emocionar e envolver o leitor/espectador. Uma das táticas utilizadas pelo cineasta para fazer rir está em explicitar (pela voz em off de Paulo José) as regras de todas as ações do jogo da conquista, antes mesmo que o jogo tome corpo na tela.

Torero já declarou que buscou inspiração em, entre outros, Machado de Assis. Foi estimulado pelos diálogos interlocutando com o leitor que Machado desenvolveu para seus romances que Torero desdobrou as dicas que o locutor de seu filme repassa à platéia. No final do filme, por exemplo, a voz de Paulo José não se exime em dizer que o cinema é também para ganhar dinheiro e assim, com um final feliz, o público se diverte e o cineasta ganha a vida.

Apesar da boa sacada de brincar com o gênero, o longa de Torero parece funcionar mais num nível oral que visual. É como se as piadas fossem engraçadas se contadas, individualmente, numa roda de amigos numa mesa de bar. Mas, uma vez na tela, num filme, soam como esquetes perdidos numa concha de retalhos que não consegue forma um manto coerente de humor. Não será difícil se cansar das piadas mesmo antes da primeira meia-hora de projeção. Se fosse um curta-metragem,Como fazer um filme… talvez fosse mais feliz no resultado.

Se alguém “ler” o filme como uma versão estendida do quadro Retrato falado, que o programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu dominicalmente na época, não precisa estranhar. É que Torero é o autor, há cinco anos, do quadro em questão, e a figura de Denise Braga na tela não ajuda e desvencilhar as caretas para o humor de situação que ela faz na telinha das que ela faz na telona.

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