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Festivais

6º DCine Curitiba (2002) Encontro de Críticos #1

Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba – “Encontro de Críticos” / Seminário #1

Por Luiz Joaquim | 19.04.2019 (sexta-feira)

Em maio de 2002 aconteceu a 6a edição do Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba. Naquele ano, o evento promoveu uma 1a. e única edição do Encontro de críticos. Para tanto, convidou os mais influentes críticos de cinema de então no País para refletir sobre sua própria função, influência e legado.

O editor do CinemaEscrito.com, Luiz Joaquim, foi o único jornalista do País a cobrir e publicar texto sobre os três encontros. Os textos foram publicados inicialmente no extinto site CinemaScopio, de Kleber Mendonça Filho, e posteriormente no Jornal do Commercio (Recife). Resgatamos estes textos e, entre sexta-feira (19/4/2019) e domingo (21/4/2019), vamos publicá-los aqui. Acompanhe.

– publicado originalmente no site CinemaScópio em 11 de maio de 2002

CURITIBA (PR) – Na tarde dessa sexta-feira [10/05/2002], aconteceu o primeiro dos três seminários que formam o Encontro de Críticos. Esta é, talvez, a melhor contribuição da 6a. edição do Festival de Cinema, Vídeo e DCine de Curitiba (FCVDC) para o circuito nacional de festivais. Oferecendo uma rara oportunidade aos profissionais de comunicação, especificamente os críticos cinematográficos, de produzir uma auto-avaliação do próprio ofício, essa pauta/encontro já suscita nos participantes dos debates uma regularidade anual; que se torne, até, uma espécie de marca registrada do evento curitibano.

Nesse primeiro encontro, Luiz Zanin Oricchio, de O Estado de S. Paulo, e Ivana Bentes, professora da UFRJ e co-editora da revista Cinemais, abriram a palestra para, depois, dar espaço aos debatedores Hermes Leal, da Revista de Cinema, Alfredo Manevy, da revista Sinopse e o crítico José Castello.

Bentes iniciou a conversa relembrando a crítica adjetivada de Pepe Escobar, que, mesmo equivocada, norteou o início da carreira de muitos jornalistas, incluindo a dela própria. “Era um texto deslumbrado, exaltando filmes que nunca chegavam ao Brasil. Ao final, quando tínhamos acesso a esses filmes, podíamos constatar os exageros e equívocos deprimentes de Escobar”. Para a jornalista, o Estado e a Folha de S. Paulo vivem um belo namoro com o cinema brasileiro, enquanto no Rio de Janeiro, a nova geração de críticos que domina o jornal imprenso segue a linha que ela chama de “piadística”; ou seja, o texto é fechado para si, auto-centrado e bastante irônico. “É como se o crítico se colocasse acima da obra; e, em muitas editorias de cultura, quem fez a crítica não é ninguém especializado, mas um repórter que quebra galhos”.

A jornalista também ressaltou o benefício que veio com os críticos da Internet e das revistas especializadas, que chegaram para dar fôlego. Para ela, um texto crítico só tem sentido se tiver uma importância histórica no seu tempo. “A crítica como guia de consumo não presta. Os bons críticos são aqueles que saíram desse gueto”, concluiu Bentes.

Na sequência, Zanin ressaltou o quanto gostaria de trabalhar num texto sobre a história da crítica cinematográfica brasileira. Um compêndio inexistente no País. Citou Rubem Biáfora, Paulo Emílio e Almeida Salles para lembrar que os grandes críticos são aqueles que criavam textos comprometidos com a realidade de seu tempo, reforçando o comentário de Bentes. Continuou citando a frase clichê de Paulo Emílio: “O pior filme brasileiro tem mais sentido para mim que o melhor filme estrangeiro”, para explicar que aquilo foi uma estratégia genial do crítico, surgida quando ele mudou sua perspectiva diante do cinema tupiniquim ao conhecer os filmes ‘consciência crítica’ do Cinema Novo.

O jornalista recordou que no auge da crise do cinema nacional, entre o fim da Embrafilme e a estabilização da lei do audiovisual, era uma tarefa árdua ir cobrir o Festival de Brasília. “Hoje é disputado a tapa nas editorias de cultura. Isso é uma mudança muito forte em pouco tempo”. Naquela época, continua Zanin, dava-se enfoque a reportagens a respeito da produção de filmes nacionais. Isso era uma forma de valorizar nosso cinema, que andava capenga das pernas. Hoje isso não é preciso. É preciso mais crítica.  O mais importante, diz o jornalista, é que o cinema brasileiro não viva o insulto que é receber a complacência dos críticos.

DEBATE – José Castello fez questão de registrar a crítica como um gênero literário, “tão marcada como uma poesia ou uma crônica ou um conto”. Outro ponto complicador, ressaltado pelo escritor, diz respeito a diminuição do espaço físico dos jornais, ficando a crítica relegada um espaço cada vez menor. Já Hermes Leal gostaria de maior investigação dos críticos e jornalistas sobre a atual produção cinematográfica brasileira.

Alfredo Manevy citou o autor alemão Kracauer, do livro A teoria do cinema, para alertar dois pontos fundamentais da crítica: elevar o nível de consciência do público e combater a padronização. Manevy vê, ainda, uma grande lacuna da crítica brasileira: que é o cinismo de deixar o cinema industrial de lado, sem críticas profundas. “Afinal é esse o filme que o público vê”.

O crítico da Sinopse diz que não é preciso ter receios quanto aos críticos não-acadêmicos, “antes das academias, já existiam os críticos”; e contesta Castello a respeito do pequeno espaço nos jornais como vilão do mau texto de hoje. “A pressão jornalística é pior que a falta de espaço. A cobrança do jornal é muito cruel, e se explica mais pela lógica do jornalismo que pela do cinema”.

Para Manevy, não adianta apenas exaltar o cinema brasileiro, é preciso uma tática inteligente como a contida na célebre frase de Paulo Emílio, referida por Zanin. Falta essa tática hoje, diz, e termina: “Nos EUA, a crítica está embutida no processo produtivo de uma filme. Há a produção, a exibição e a crítica. No Brasil, existe um corporativismo que compromete a credibilidade”.

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