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Críticas

Quatro Irmãos

John Singleton fez ‘policial’ como não se vê. Filme de ‘macho’ que chora.

Por Luiz Joaquim | 29.04.2019 (segunda-feira)

– publicado originalmente na Folha de Pernambuco em 16 de setembro de 2005

Testosterona. É o que se pensa imediatamente ao sair da sessão de “Quatro Irmãos” (Four Brothers, EUA, 2005), novo filme de John Singleton, que surgiu para o mundo em 1991 com o já clássico “Boyz n the Hood”. Não é apenas pelo fato dos protagonistas serem quatro homens, irmãos adotados, ex-deliqüentes, criados num subúrbio classe-média de Detroit, Estados Unidos, que faz o espectador querer sair do cinema andando com ginga e falando “Hey, yo! Mother F*****!”.

Há também um linguajar bruto e baixo, vinculado ao mundo do crime, cenário rico no qual a trama se desenrola, e onde a figura feminina surge apenas para servir comida e sexo. Um bom indicativo da grosseria pode ser mensurado pelo vilão do filme que, a certa altura, ordena aos capangas: “Vamos rápido com isso que hoje à noite tenho um jantar com uma vagina latina”.

Afora a questão sexista, Singleton fez um bom filme policial, com roteiro original (de David Elliot e Paul Lovett), como não se vê há algum tempo. “Quatro Irmãos” bebe inclusive de uma fonte chamada blaxploitation, gênero popular nos anos 1970, que gerava filmes policiais estrelados e dirigidos por negros, explorando sua autêntica cultura naquela época. Uma das estrelas daquele período foi a atriz Pam Grier, resgatada por Quentin Tarantino no seu “Jackie Brown” (1997).

“Quatro Irmãos” reúne os manos Bobby (Mark Wahlberg, da refilmagem de “O Planeta dos Macacos”), Angel (Tyrese Gybson), o caçula Jack (Garret Hedlund) e Jeremiah (André Benjamin). Este último é o único dos quatro que constituiu família e cresceu na cidade ao lado da mãe Evelyn (Fionnula Flanagan, de “Os Outros”).

Evelyn é a única mulher de importância do filme. É a propósito de seu velório que seus filhos voltam à cidade natal. Lá começam a desconfiar que a razão de sua morte, por ladrões num assalto, não foi exatamente casual, mas sim armada por um motivo oculto. Começam, então, a investigar por qual razão alguém teria tido intenção de matá-la e, na medida em que avançam violentamente na busca pelo responsável, os irmãos vão inchando de ódio e sede por vingança, perdendo a aura de “regenerados para a sociedade” construída pela educação de Evelyn.

Num primeiro momento, Singleton situa o espectador dentro do reencontro destes personagens, apresentando-os como qualquer grupo fraterno de irmãos, mas marcados pela malandragem e violência das ruas. O detalhes aqui é que Singleton nos dá a imagem do brucuto enquanto ele chora (literalmente) pela morte da mãe. É nessa mistura de tristeza, medo e ódio que “Quatro Irmãos” se desenrola, através de uma elaborada trama alternando seqüências de melancolia e ação em boa sintonia. Atenção especial para a trilha sonora de David Arnold e a excepcional trilha incidental “negra” de Ed Shearmur.

 

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