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Festivais

23. Cine-PE (2019) – noite 2

Reivindicações dentro e fora da tela na primeira noite competitiva do festival recifense

Por Delles Sassi | 31.07.2019 (quarta-feira)

– Com informações da assessoria do 23º Cine PE – Festival do Audiovisual.

Na capa, respectivamente, frames dos curtas Mulheres de Fogo (Vinicius Meireles), Carrero, o Àspero Amável (Luci Alcântara), Pisciano (Alexandre Pitanga) e #Procuram-se Mulheres (Rozzi Brasil).

Na noite de ontem (30), o Cine PE 2019 abriu a sala do cinema São Luiz (Recife) para as mostras competitivas de curtas-metragens pernambucanos, com Mulheres de Fogo de Vinicius Meireles e Pisciano de Alexandre Pitanga, e nacionais, com as exibições de Carrero, o Áspero Amável da realizadora Luci Alcântara (que participa pela 4º vez no festival) e #Procuram-se Mulheres da carioca Rozzi Brasil. A competição de longas-metragens também teve seu início ontem com a produção vinda da Bahia, Abraço, do diretor Deivisson Fiuza.

Discursos contra o atual governo marcaram a noite, Rozzi Brasil durante a apresentação de seu curta documental, #Procuram-se Mulheres, declarou: “Eu acho muito emblemático que em um momento como esse, em que a Ancine é tão atacada, eu tenha conseguido sair do Rio de Janeiro e chegado em Pernambuco com esse filme. Parece um quebra-cabeças divino”. Também criticando as recentes mudanças políticas que atingem a indústria cinematográfica nacional, o diretor Deivisson Fiuza de Abraço, ao subir no palco do cinema São Luiz expressou que “o Brasil não merece o momento que está vivendo” e o ator Flávio Bauraqui, que estrela o longa de Fiuza, completou sua fala de forma breve declarando que: “Podem até nos balançar, mas cair, não iremos”, o público que lotava a sessão ovacionou ambos os artistas.

(Equipe do longa Abraço de Deivisson Fiuza. Foto de Felipe Souto Maior.)

A grade de exibição da noite começou com as produções competitivas da Mostra Curtas-metragens Pernambucanos. Mulheres de Fogo, documentário de Vinicius Meireles apresentou ao público a vivência de luta de três mulheres moradoras do assentamento Chico Mendes III, onde habitam 55 famílias provenientes dos conflitos que ocorreram entre 2004 e 2008, nas áreas antes pertencentes ao Engenho São João. “A terra tinha que ser como o sol, vento e chuva. Todos têm o direito”, a fala de uma das personagens expressa o desejo de uma igualdade social ainda em conflito no país, enquanto busca abordar a questão do direito à qualidade de vida. O documentário de Meireles expõe os relatos de cada uma dessas personagens reais, que entre as suas particularidades compartilham de um mesmo sentimento pela terra onde moram, de onde tiram seu sustento e apreciam viver.

Dando continuidade a mostra, o pequeno curta Pisciano, dirigido e protagonizado por Alexandre Pitanga, com simplicidade divertiu o público entregando um impulso comum não somente aos piscianos, mas à todos aqueles que devaneiam por um relacionamento ‘digno de cinema’. Com recortes de cenas de um cotidiano perfeito entre um casal, o personagem vivido por Pitanga e o de seu par romântico, interpretado por Arthur Colleto, mostra-nos nos breves dois minutos de Pisciano a idealização do amor que muitos sonham. O curta-metragem foi resultado de um exercício para a faculdade quando Alexandre Pitanga cursou Cinema e Audiovisual na AESO (Faculdades Integradas Barros Melo), o projeto deu início a primeira trilogia do realizador, intitulada Trilogia da Solidão.

Logo após foi a vez da Mostra Curtas-metragens Nacionais, o documentário Carrero, o Áspero Amável, comandado por Luci Alcântara, cineasta veterana nas edições do Cine PE , abriu a sessão. Ao longo de sua carreira Luci Alcântara trabalhou com obras do escritor imortalizado na Academia Pernambucana de Letras, Raimundo Carrero, e nesta produção reafirma a parceria com Carrero, desta vez para colocar na tela o autor. E o resultado deu-se em um retrato sincero da personalidade de Raimundo quanto ao seu processo criativo, a relação com suas obras, as conquistas – que vão desde o Prêmio Machado de Assis concedido pela Biblioteca Nacional ao Prêmio Jabuti entregue pela Câmara Brasileira do Livro. Aqui o áspero amável, já familiarizado com o modo de direção de Alcântara, deixa fluir com bastante espontaneidade as histórias de sua experiência como ator, dramaturgo e roteirista, compartilhando do seu método de criação dentro dessas áreas, das dificuldades encontradas e, principalmente, de sua paixão por escrever.

Fechando a mostra dos nacionais, o #Procuram-se Mulheres veio a tela do cinema São Luiz, discorrendo sobre a participação feminina no samba nacional, com um recorte particular da visibilidade das mulheres cariocas nos espaços das escolas e rodas de samba no Rio de Janeiro. Filme de estreia da realizadora Rozzi Brasil, o curta documental foi produzido durante a oficina Por Telas, uma iniciativa da escola de samba Portela no Rio de Janeiro ocorrida em 2018. Partindo de um dispositivo, Rozzi convida mulheres ligadas ao gênero musical que desejem contar em uma ‘roda de samba’ suas experiências, partilhando entre elas os empecilhos do preconceito que, por vezes, as colocam em antagonismo neste meio, apoiados num pensamento misógino de que este espaço da música não é pertencente à mulheres. #Procuram-se Mulheres então, põem-se em confronto a este posicionamento, fazendo do relato das personagens um panorama inverso que exprime a importância da participação e credibilidade das mulheres que também fazem o samba nacional.

E, finalizando a noite, o longa-metragem Abraço, de Deivisson Fiuza, que remonta uma mobilização ocorrida em 2008, quando educadores sergipanos das redes municipal e estadual de ensino se uniram em defesa da manutenção da Progressão Vertical, para evitar a perda de direitos já conquistados, o filme de Fiuza explana desde a educação do País, a resistência dos movimentos estudantis, as questões do machismo e racismo. O tema já é familiar na direção de Fiuza, que em 2010 comandou o longa Carregadoras de Sonho, que também traz um retrato realista da realidade da educação pública no país.

Hoje (31), na 23º edição do Cine-PE estão os curtas Quando a Chuva Vem? e Sobre Viver, ambos na Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos, e Obeso Mórbido, Cor de Pele, É Difícil te Encontrar, A Pedra e Apneia entre os curtas nacionais. O longa-metragem da noite é o carioca Vidas Descartáveis, de Alexandre Valenti e Alberto Graça. As sessões começam de 19h30.

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