Cine PE: novo nome, velho molde (2003)
O ex-Festival de Cinema do Recife, que já ia na 6ª edição, muda de nome. Só de nome. [Reportagem de 2003]
Por Luiz Joaquim | 29.09.2019 (domingo)
– publicado no Jornal do Commercio (Recife). Caderno C, 24 de abril de 2003 – quinta-feira. Na foto, Lara é o longa-metragem em competição com direção de Ana Maria Magalhães
Quando a jornalista Graça Araújo anunciar, às 19h de hoje no Teatro Guararapes, a abertura do 1º Cine-PE – Festival do Audiovisual, estará inaugurando o mais novo festival de cinema do País. Mas esse novo nome, que substitui o antigo título “Festival de Cinema do Recife” (FCR), teria sido mais interessante se viesse completamente reformulado, para melhor, claro. Não é o caso de criticar as seis edições anteriores do FCR (todas tendo obtido sucesso e entusiasmo absoluto de público, com poucos parâmetros no Brasil), mas não há, de fato, na edição de 2003, uma grande reformulação no perfil do Cine-PE.
Há, sim, apenas uma adaptação burocrática de troféu (agora se premia com a Calunga) e nomenclatura. O que não é exatamente um problema (considerando que o FCR era um sucesso), mas suscita uma lamentação por ter zerado a numeração de edições do evento, quando se sabe que essa contagem empresta certo prestígio aos festivais. O coordenador Alfredo Bettini comentou a intenção de acrescentar outras mídias para Cine-PE – a produção publicitária seria uma ideia – mas, por enquanto, é apenas uma intenção.
Uma mudança concreta, que certamente será sentida pelo público (e pelos realizadores), é o desmembramento da exibição dos curtas-metragens. Entre a 2ª e a 6ª edição do FCR, o evento punha em prática uma democrática programação de bitolas (16 e 35mm) entre os curtas-metragens. O detalhe (incomum aos outros festivais do País) era que ambos formatos ocupavam o mesmo horário, local e atingiam o mesmo público, isto é, cerca de 2.500 pessoas, ou seja, o paraíso, para o autor da obra exibida.
Neste primeiro Cine PE, há uma segmentação. Os curtas de ficção produzidos em 16mm e os curtas de animação e documentários produzidos 35mm serão exibidos às 15h para um público, certamente, menor que o da noite – mesmo considerando que essas sessões (que iniciam amanhã) tenham entrada franca. Os curtas de ficção em 35mm terão mais visibilidade, exibidos antes dos longas, no horário nobre, a partir das 19h. Mas não é mesmo fácil a tarefa de equacionar curtas e longas para a coordenação do evento. O FCR costumava ser acusado de ter uma programação carregada. A queixa era que após uma maratona de seis curtas e do primeiro longa-metragem, o segundo longa da noite saía invariavelmente prejudicado pelo adiantado (algumas vezes às 23h30) do início de sua projeção.
PERFIL – Já em 2000, na 4ª edição do FCR, o evento era ‘cantado’ pela mídia como o mais representativo de público no País. Isso porque existe uma massa que participa ativa e diariamente da mostra no Centro de Convenções. Este é o grande legado que fica para o Cine PE. É também a razão da simpatia dos cineastas pelo evento em Pernambuco. Outra forte característica da mostra é o interesse dos pernambucanos pelos curtas. Talvez a escassez de exibições desse mais que simpático formato no Estado desperte a curiosidade do público durante o festival. Talvez o horário privilegiado, ou mesmo a seleção dos longas, ou ainda, simplesmente, a boa qualidade dos curtas selecionados, tenham influência sobre isso.
O fato é que o festival recifense, assim como outros que acontecem no primeiro semestre, sofrem na busca de longas-metragens inéditos no circuito comercial, uma vez que a grande produção nacional adéqua sua finalização para o segundo semestre, quando acontecem os quatro eventos da área mais cobiçados no País (Gramado, o Rio-BR. a Mostra de SP, e Festival de Brasília). Nesse sentido, temos no Cine PE alguns longas surpresa, que pouco se sabe a respeito como Concerto campestre e Samba canção (ambos no domingo).
Três curtas e dois longas escalados na noite de estréia – Espera-se que uma multidão se acomode nas poltronas do Teatro Guararapes que hoje se transforma numa gigantesca sala de cinema. Três curtas e dois longas abrem o Cine PE – Festival do Audiovisual. Um trailer americano vem do Distrito Federal pelas mãos de José Eduardo Belmonte e conta a história de três amigos que têm o trailer (reboque) onde moram quebrado num drive-in, o que vira motivo para muita conversa sobre a cultura norte-americana. No elenco a ótima Marcélia Cartaxo (Madame satã, A hora da estrela).
Depois tem A breve estória de Cândido Sampaio, de Pedro Carvana, sobre a bem-humorada e desastrosa ideia de um emergente fazer algo pelo social usando um sem-teto para ganhar projeção. O último curta é de Gláucia Soares e Patrícia Baía. Águas de romanza nos leva ao Sertão cearense onde uma menina sonha em conhecer a chuva e, para isso, conta com sua avó e um caixeiro viajante.
Na sequência, serão exibidos os longas Lara (em competição), de Ana Maria Magalhães, e Apolônio Brasil campeão de alegria (fora de competição), do carioquíssimo Hugo Carvana. O primeiro tem Christine Fernandes, Caco Ciocler e Tuca Andrada encabeçando o elenco da história que conta a trajetória de Odete Lara, musa do cinema nacional dos anos 1960 e 1970, tendo sido estrela marcante nas obras de Walter Hugo Khouri, Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.
O segundo filme é o sexto longa-metragem dirigido por Hugo Carvana. Aqui ele faz uma homenagem à chanchada e à música brasileira. Marcos Nanini faz o Apolônio Brasil do título. Ele é um croonere pianista da noite, amado pelas mulheres e invejado pelos homens. O elenco é um conjunto de amigos de Carvana, que também são figuras marcantes do cinema nacional: Louise Cardoso, Marcos Paulo, Vera Holtz, Antônio Pitanga, Sylvia Bandeira, Caio Junqueira, Antônio Pedro, Jonas Bloch e Anselmo Vasconcelos. Há também a última aparição no cinema do grande José Lewgoy.
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