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Críticas

Kill Bill – Volume 1

Artes marciais e referências pop temperam nova obra de Tarantino

Por Luiz Joaquim | 03.06.2020 (quarta-feira)

texto originalmente publicado na capa do caderno Programa da Folha de Pernambuco em 22 de abril de 2004 (quinta-feira).

Vai começar a febre amarela. É a cor da Kawasaki e do modelito que Uma Thurman usa ao lutar conta os 88 loucos no Japão. A atriz interpreta Mamba Negra (ou “a noiva”), protagonista de Kill Bill – Volume 1 (idem, EUA, 2003), o quarto filme de Quentin Tarantino. O cineasta, que ganhou o mundo com Cães de aluguel em 1992,  coloca amanhã no Brasil e primeira parte de sua nova salada pop cinematográfica. Vale, antes de tudo, uma explicação para o Volume 1 no título. Tarantino concebeu Kill Bill como uma única peça de longa duração, mas a produtora Miramax entendeu que a estratégia correta para o lançamento seria dividir o filme em dois blocos. Mas cada volume tem seu tom próprio e funciona independentemente. O volume 2 já foi lançado nos Estados Unidos; no Brasil, estreia em 5 de novembro.

Por enquanto, o público local sera introduzido e conhecerá o objetivo de Mamba Negra nesta nova proposta para grind house que Tarantino quer impor em Kill Bill. O termo em inglês designa os cinemas decadentes (tão frequentados por Tarantino) que exibiam filmes de artes marciais, de terror e erótico. Esses gêneros reinavam nas grind house dos anos 1970 junto a filmes B retratando o estilo dos negros nos guetos norte-americanos (os chamados blaxpoitation).

Agora é a vez das referências aos filmes asiáticos. Logo na abertura de Kill Bill, o espectador se depara com o trecho de uma dessas obras setentonas abrindo os créditos ao som de Bang bang (My love shot me down). Na sequência, somos deparados logo com aquela situação limite na qual, numa luta, não há aparente saída. É o estio Tarantino de segurar o fôlego do público.

A trama roda em torno de uma vingança. Quem a semeia é Mamba Negra. Ela pertencia ao grupo de elite chamado Esquadrão Assassino de Víboras Mortais, liderdo pelo seu ex-namorado Bill (David Carradine) do título. Recorrendo a elipses narrativas (tão bem desenvolvidas em Pulp fiction), Tarantino registra a marca que o caracterizou como tão bom contador de histórias. Aqui, as interrupções na llinha narrativa acontecem para o público conhecer a biografia dos inimigos de Mambo.Com fascínio pelos filmes de Kung Fu, Tarantino recheia seu quarto filme com fatigantes cenas de lutas samurais embelezadas com alguns efeitos semelhantes aos de O tigre e o dragão, de Ang Lee. Sem a sugestão poética de Lee, Tarantino “inova” mais uma vez com sua animação (pela qual o público vai entender o que é uma boa edição de som) e com suas vítimas desmembradas jorrando sangue como um hidrante aberto.

Mas o diretor carrega na mão e parece extrapolar o limite de interesse que essas lutas possam despertar no púbico. Extraindo toda a gordura de excelência técnica na confecção dessas cenas de luta, é possível enxergar que o leitmotiv de Kill Bill não tem tanta diferença de um produto de nosso Simião Martiniano. Numa conversa hipotética, os dois autores teriam muito que falar. Mas, embalado por Don`t let me be misunderstood, de Santa Esmeralda, e com toda a embalagem brilhante, colorida e pop (no sentido negativo e positivo do termo) que Kill Bill apresenta, o filme deve ditar moda e trazer uma boa bilheteria às grind house, ou melhor aos multiplex do Brasil.

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