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Os 1970s que Amamos (#6)

Corrida Contra o Destino (Vanishing Point, 1971)

Por André Pinto | 30.04.2021 (sexta-feira)

Piloto de carro profissional aposta com amigo que consegue levar um Dodge Challenger turbinado do Colorado até São Francisco, em menos de 15 horas. O filme mostra o protagonista chapadão dando uma “amaciada” no veículo antes de entregar. O filme poderia ser apenas essa historinha que assisti na Sessão de Gala da Globo, quase 30 anos atrás.

Mas vendo esse mesmo filme hoje sem os cortes laterais e numa qualidade de imagem impecável de um blu-ray, um outro filme surge completamente diante de meus olhos. Minha memória afetiva sofre um golpe, e compreendo bem a jornada existencialista de Kowalski rumo ao seu inevitável destino.

Mas porque eu tive essa nova impressão do filme, quase 30 anos depois? Será que foi pela bagagem cinéfila que adquiri durante todos esses anos que mudou minha percepção?

A resposta poderia ser sim, mas um outro fator me fez ter uma releitura bem mais contundente: O fato de durante anos ter assistido a versão norte-americana da obra.

A versão restaurada britânica faz jus ao trabalho de Richard Sarafian. Essa versão é o verdadeiro legado do cara que era algo mais do que ser cunhado de Robert Altman.

Cena de “Corrida Contra o Destino”

Minutos a mais fazem todas as passagens episódicas do filme fazerem sentido e confirmarem toda a atmosfera onírica escondida num aparente road movie realista com uma vibe antistablishment.

Temos enfim um tratado agora bem mais evidente sobre negação e aceitação da morte nesse belo filme, com belíssima fotografia de estradas e desertos, e da bela trilha sonora, incluindo aí a célebre música que virou tema do Globo Repórter.

Tudo fica claro como água: O nome da rádio, a função dos personagens que rodeiam o protagonista – do Cleavon Little num papel espetacular (DJ SOUL) e na magnética Charlotte Rampling, cortada na versão original e que retorna pra dar mais sentido para a história. O DJ e a caronista misteriosa são anjos, e cada um tem seu propósito.

E o final, em que Kowalski finalmente enxerga uma luz ou passagem entre duas escavadeiras e sorri, completa o sentido real da obra.

Para registro: sim, o filme envelhece no retrato machistão e homofóbico comum em algumas obras de 1970.

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