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Os 1970s que Amamos (#20)

A Menina do Outro Lado da Rua (The Little Girl Who Lives Down the Lane, 1976)

Por André Pinto | 15.07.2021 (quinta-feira)

1976 foi o ano de Jodie Foster. Mas se engana quem acha que o papel mais controverso que ela desempenhou esse ano foi de uma prostituta em Taxi driver, com apenas 13 anos.

Rynn Jacobs é uma garota que vive num casarão de uma cidadezinha em Quebec. Ela é filha de um conhecido poeta, e desde cedo aprendeu com o pai que se um dia ela tiver que viver sozinha, terá que enfrentar seus maiores medos e não confiar em ninguém. Nem na sua própria mãe. É no momento em que a garota recebe visitas indesejáveis que percebemos a situação limite estabelecida na trama: Rynn é uma menor que está vivendo sozinha. Seus pais estão desaparecidos, e para piorar a situação, sua integridade física corre risco com o frequente assédio de um adulto com quintas intenções, Frank Hallet (Martin Sheen).

O tema é explosivo. A personagem que Jodie Foster interpreta com perfeição é a força motriz da história, e o que faz o espectador seguir suas ações questionáveis é a própria situação cada vez mais insustentável de Rynn para se manter sã diante de tantas ameaças do mundo adulto. Em um momento ela mesmo pergunta: “A partir de que idade todos irão tratar você como gente?”

O grande problema de Foster é que ela foi obrigada a questionar isso no mundo real, fora de seu personagem. 1976 foi decisivo para a carreira da menina prodígio da Nova Hollywood. Jodie corria atrás de papéis difíceis. No mesmo ano seu nome figurava em cinco filmes diferentes, tão díspares quanto os estúdios que os bancavam. O nome de Jodie estava numa comédia familiar da Disney, num drama policial pesado de Scorsese para a Columbia, num musical fora da curva para a Paramount, um dramão para a United Artists e esse thriller. O ponto é que The little girl… é o primeiro filme em que Jodie é a estrela principal, e isso ao mesmo tempo foi uma oportunidade única e um calvário para o que viria a seguir.

Primeiro porque a atriz era uma menina de 13 anos que estava diante da logística de produção de um tema controverso. A personagem de The little girl… é uma assassina solitária que se envolve afetivamente com adultos. O que parecia ser um desafio dramático na tela virou uma dor de cabeça nos bastidores.

Pôster original

Segundo porque os produtores trataram o material como um filme exploitation usando uma figura de menor. O destaque em releases e cartazes ressaltava a personagem como uma “ninfeta assassina”. Nos promos era comum exibir desenhos da garota com brinquedos infantis pelo chão, e um semblante ameaçador. Rynn como uma Jason que matava quem atravessasse seu caminho.

No set de filmagem, Jodie brigava para não se expor fisicamente. Um produtor insistia para que ela fizesse mais cenas de nu. Jodie batia o pé e não cedia. Na cena em que a personagem de 13 se deita com um marmanjo de 19, Jodie conseguiu ajuda da própria irmã mais velha, Connie, para fazer a polêmica cena em que fica completamente nua, de costas. A atriz enfrentou a pressão por um material sensacionalista dos produtores com dignidade, e desde então declara que o filme, apesar de ter agradado a crítica, esconde a conturbada e real situação em que ela viveu nos bastidores.

O filme passou a fazer parte de um subgênero do suspense/ horror que produziria outras obras de sucesso nos anos 1970: o de crianças serial killers.

Importante destacar nesse filme a forma como são mostrados os créditos finais. Uma conclusão inesquecível para uma obra às vezes problemática.

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