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Os 1970s que Amamos (#30)

Os Cowboys (The Cowboys, 1972)

Por André Pinto | 17.05.2021 (segunda-feira)

O rancheiro Will Andersen (um John Wayne crepuscular) precisa transportar cabeças de gado por uma trilha de 600 quilômetros de um território sem lei no Oeste Americano. Pede ajuda aos veteranos colaboradores do local, mas todos estão deixando suas casas para se juntar à corrida do Ouro. Numa ação desesperada, o velho Will recruta um grupo de crianças para tomarem o lugar dos vaqueiros e arriscarem suas próprias vidas para transportarem o gado.

Essa premissa absurda não foi muito bem recebida pela crítica na época, mas revelou-se uma das histórias mais originais do gênero faroeste no início dos 1970. Mark Rydell não queria trabalhar com Wayne, pois não suportava os discursos pró-guerra do Vietnã do ator veterano, um reaça de carteirinha. Fez campanha para conseguir George C. Scott, enquanto  Wayne o assediava para conquistar o papel. No fim o velho cowboy ganhou a disputa. Apesar dos atritos de bastidores, John Wayne entrega um personagem fascinante, Durão como de praxe, mas uma figura paterna mais sensível do que se imagina.

Personagem de John Wayne (d) recruta crianças em “Os Cowboys”

Mas o grande destaque fica para a figura iluminada do personagem Jebediah Nightlinger, conciliatório e experiente, que cuida dos garotos na ausência de Will. O ator negro Roscoe Le Browne, que havia sido escalado para o papel, ouvia de colegas que trabalhar com John Wayne era insuportável. Ferrenho ativista dos Direitos Civis, Le Browne topou fazer parceria com Wayne, na condição de que não entraria em nenhuma discussão política. Durante as filmagens, os dois encontraram pelo menos algo em comum: poesia. Não raro a equipe de filmagem flagrava os dois recitando um para o outro alguns versos.

Apesar do bom resultado, do cuidado de Rydell com a condução narrativa, e o ótimo desempenho dos atores, a obra encontrou duras críticas na mídia, e uma base de fãs entusiasmada: mesmo o diretor declarando ser contra a intervenção dos EUA no Vietnã, ainda surgiram resenhas que interpretavam a ação do protagonista Will de escalar jovens inexperientes para o serviço como uma propaganda pró-guerra. Roscoe Le Browne se irritou mais de uma vez pelo fato de alguns críticos acharem que o personagem de Jebediah deveria falar como um “escravo” e não como um gentleman. E Bruce Dern, personificando o demoníaco ladrão de gado Long Hair, se tornaria para sempre o ator que faz tipos rabugentos e vilanescos. Até hoje recebe ameaças de morte de fãs do filme, e Laura Dern, sua filha, nunca se esqueceu do bullying que sofria dos amigos por isso.

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