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Críticas

Turma da Mônica: Lições

Personagens de Mauricio de Sousa trocam aventura pelo drama em seu segundo filme ‘live action’

Por Renato Felix | 07.01.2022 (sexta-feira)

Para quem apenas assistiu ao primeiro filme e não leu a graphic novel que deu origem a este segundo, Turma da Mônica: Lições pode surpreender. Laços, o primeiro filme dos personagens de Mauricio de Sousa interpretados por atores em carne-e-osso era uma aventura infantil, na linha de Os Goonies (1985). O novo filme está mais para um drama (mesmo que, claro, a comédia esteja presente).

Este já era o clima do segundo álbum em quadrinhos escrito e desenhado pelos irmãos Vítor e Lu Cafaggi, da série Graphic MSP, na qual outros autores reinterpretam os personagens de Mauricio. Laços era a adaptação do primeiro álbum da dupla, que já vinha cheia de referências a filmes como E.T., o Extraterrestre (1982) e Conta comigo (1986), o que se refletiu na tela.

Lições, no entanto, seguia por outro caminho: os pais procuram um meio de afastar Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, que vivem se metendo em problemas juntos. Cebolinha (Kevin Vechiatto) passa a fazer sessões com uma fonoaudióloga, Cascão (Gabriel Moreira) é colocado numa aula de natação e Magali (Laura Rauseo) num curso de boas maneiras (no filme, o curso muda para culinária). Mônica (Giulia Benite) sofre a decisão mais drástica: os pais a mudam de escola.

Assim, a aventura do primeiro filme (uma busca atravessando a floresta para encontrar o cachorro sequestrado do Cebolinha) dá lugar a uma trama que diz respeito basicamente ao relacionamento entre o quarteto e problemas da vidinha de cada um. Ao serem obrigados ao encarar suas características mais marcantes como um problema, Cebolinha, Cascão e Magali expõem suas fragilidades, como insegurança ou ansiedade. O trio sofre sem a amiga por perto e vice versa e muitas lágrimas são derramadas: a separação abre uma crise nas crianças e da dentuça com seus pais.

Cebolinha (Vechiatto) e Mônica (Benite) com problemas próprios da vida real

O filme começa e termina com a turma encenando Romeu e Julieta, uma das muitas piscadelas do filme para os fãs. Mônica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta foi uma peça de sucesso do fim dos anos 1970 com os personagens parodiando Shakespeare, rapidamente com versões lançadas também em quadrinhos (com várias republicações ao longo dos anos) e em um especial de TV gravado em Ouro Preto. No caso do teatro e da TV, naquele formato de atores adultos usando os cabeções dos personagens.

Mas é uma referência esperta, já que as mães de Mônica e Cebolinha começam a brigar por causa dos filhos, assumindo seus papéis de Capuletos e Montéquios. Com direito a cena do balcão e tudo. A catarse emocional do final, talvez até esticando um pouco essa corda, também tem o mérito de incluir outros personagens que foram sendo apresentados ao longo do filme.

Marina, Milena, Humberto, Do Contra e Tina, entre outros, entram em cena como novos apoios do quarteto principal nos momentos de isolamento do principais amigos. Do Contra e seu humor iconoclasta é uma atração à parte. Tina, vivida por Isabelle Drummond, tem grande destaque e o visual hippie evidencia o fato de que estes filmes são “de época”, se passam em algum momento entre os anos 1970 e 1980, embora não faça alarde disso.

Telefones discados, carros antigos circulando e ausência de demais tecnologias contemporâneas já marcavam essa ambientação, numa aproximação proposital ou não com as histórias da Turma da Mônica justamente na época de sua ascensão popular, quando passou a liderar a lista dos gibis mais vendidos do Brasil, ultrapassando os quadrinhos Disney. Mas o filme não define um ano, não foca em acontecimentos históricos como pano de fundo, apenas deixa no ar um clima de nostalgia que atinja os adultos sem se distanciar da identificação com as crianças de hoje.

Essa receita já havia sido usada em Laços. Mas trabalhar o drama em vez de seguir na linha tradicional de comédia com aventura dos filmes infanto-juvenis é uma aposta também na força dos personagens. Mônica e sua turma, claro, já são parte muito forte do imaginário popular brasileiro há muito anos, mas esse filme – focado só neles e não numa trama “externa” a eles – mostra que eles conseguiram ampliar isso para essa carismática versão live action.

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