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Críticas

Elvis

Elvis e Luhrmann, que dupla.

Por Luiz Joaquim | 13.07.2022 (quarta-feira)

Para começar é bom relembrar ao leitor que aquele que aceitar ver um filme do australiano Baz Luhrmann estará aceitando algo como olhar por um caleidoscópio enquanto se pendura de cabeça para baixo e balança num trapézio de circo.

Nesse sentido, parece muito acertado afirmar que o realizador a assumir a gigante responsabilidade de dramatizar no cinema a história do Rei do Rock, Elvis Presley (1935-1977), com todos os exageros performáticos que o tornariam o primeiro ídolo global na história da música (mesmo tendo se apresentando apenas nos EUA e no Canadá), teria mesmo de ser Luhrmann.

E Elvis (EUA/Austrália, 2022), que chega amanhã (14) nas salas de cinema, é a prova disso.  O percurso fílmico do cineasta – Vem dançar comigo (1992); Romeu + Julieta (1996); Moulin Rouge: Amor em vermelho (2001); Austrália (2008) – grita bastante alto, e sinaliza com cores berrantes, que é a música e as modulações que ela pode provocar no corpo dançante que definem o que mais interessa a Luhrmann na representação cinematográfica.

Teríamos o melhor dos casamentos, então? Luhrmann e Elvis? Sempre arriscado ser taxativo, mas Elvis, o filme, em suas ligeiras (no bom sentido) duas horas e 39 minutos de duração parecem afirmar que sim.

Curioso observar que Luhrmann aqui pareceu estabelecer na primeira parte do filme a sua habitual e alucinada montagem, com as dezenas de planos para uma mesma sequência, ao período inicial da carreira de Elvis Presley (vivido impecavelmente por Austin Butler), época em que correr para ser um ídolo era o ritmo padrão daquele jovem que inovou no início dos 1950s, misturando a melodia country com o R&B.

O Rei do Rock (Butler), já na fase final da carreira, com o “Coronel” (Hanks) na sua cola.

Ao mesmo tempo, é clara a desaceleração da edição de imagens, no decorrer do enredo. Como que estimulando o espectador àquilo que o protagonista já maduro almeja – desacelerar – em função de um cansaço precoce por conta de uma rotina de trabalho alucinante imposta pelo seu empresário, por mais de 20 anos, o “Coronel” Tom Parker (Tom Hanks, bom).

A propósito, uma das quebras de expectativas mais bacanas aqui é descobrirmos sobre a perspectiva na história de Elvis. Nessa cinebiografia ela é dada, com narração em off e tudo o mais, pelo Coronel e não pelo artista. Tom Parker, figura misteriosa em sua origem, sendo 26 anos mais velho que Elvis, surge idoso na abertura do filme e reivindicando para si a ‘descoberta’ e ‘criação’ de Elvis Presley.

De fato, ele não está totalmente errado, mas nem totalmente certo, e essa dualidade, entre o salvador e o carrasco, vai se alternando de maneira atraente na medida em que a trajetória do ídolo se desenvolve, o que acaba por fazer do roteiro de Luhrmann (coescrito com Sam Bromell, Craig Pearce e Jeremy Doner), além de sua direção, algo realmente envolvente.

Intrigante, até, no que diz respeito à relação de empresário e agenciado – ao menos até o azedume ser escancarado nesse relacionamento abusivo, já no final da carreira de Elvis.

A primeira apresentação para uma grande público

É um roteiro que aproveita, inclusive, numa eficácia venerável, ao menos três momentos que exaltam, com competência, picos de tensão do enredo (resvalando no espectador). Está lá na primeira apresentação de Elvis para uma plateia grande, quando o Coronel o ‘descobre’. Está lá com o já ídolo se apresentando num estádio (formado por dez mil espectadores) sob a condição de não poder rebolar na performance, por determinação da ordem e dos bons costumes da região. Está lá na apresentação especial de Natal, para a tevê, com um Elvis já relativizando o rumo de sua carreira diante de uma América em transformações sociais.

No que diz respeito às performances, Butler está no modo ‘possessão’. É daquelas interpretações que geram os habituais comentários adjetivados do espectador médio: “Impressionante”, “Igualzinho”, “Idêntico”.  São comentários corretos que, inclusive, levam ao segundo pensamento do mesmo espectador: “Esse vai levar o Oscar”.

Independente da grande premiação, Butler já entrou naquele rol de atores que são lembrados por um papel maior do que uma carreira inteira. Será Butler um excelente ator? Seus próximos anos nos dirão. O certo é que hoje ele “levaria o Oscar”, todos garantem enquanto observam de olhos arregalados sua possessão pelo Rei do Rock, Elvis Presley.

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