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Como surgiu o Oscar? Qual a origem da estatueta?

O nascimento da Academia e a criação de seu icônico troféu… pelas palavras de um jornalista em 1968

Por Yuri Lins | 07.03.2024 (quinta-feira)

Próximo 10 de março iremos acompanhar e conhecer os vencedores do 96ª edição do Oscar, a premiação promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (veja aqui os indicados). Resolvemos contar a história do surgimento da premiação, mas não de uma maneira habitual. Fomos a 1968 e resgatamos numa dominical página de cultura do jornal Diário de Pernambuco  o texto do correspondente do veículo nos EUA – o jornalista José Américo Vidigal – sobre como nasceu a Academia. 

Aproveitamos e incluímos – ao final do texto de 1968 – algumas infos que o repórter não teve acesso à época, sobre  a história defendida pela ator mexicano Emílio Fernandez (na foto acima em cena do filme Janitzio, 1935), que afirma ter servido como modelo pelo qual a arte final do troféu Oscar foi definida.

Acompanhe.

Em tempo: Mantivemos no texto de Vidigal a grafia original de 1968. 

— xXx —

Diário de Pernambuco, 14 de abril de 1968

O  40º  “Oscar” e um pouco de sua história no tempo.

(De José Américo Vidigal, nosso correspondente nos Estados Unidos) – Quem teve a idéia, a primeira grande idéia, foi Louis B. Mayer, influente e prestigiado presidente da MGM. Corria o ano de 1927.

Numa tarde de domingo, em sua praia particular, na bela residência que possuía em Santa Mônica, na Califórnia, disse a seus convidados Conrad Nagel e Fred Niblo que gostaria de organizar um grupo composto da melhor elite de Hollywood, objetivando a concretização de vários planos, grupo que, inclusive, pudesse agir como uma espécie de mediador nas disputas trabalhistas que, naquela época, predominavam nos estúdios.

Graças ao entusiasmo e à persistência de Louis B. Mayer a idéia floresceu, espalhou-se rapidamente e foi ganhando consistência e adeptos. 

Hotel Biltmore, Santa Mônica, 1927

No dia 4 de maio de 1927, trinta e seis líderes da indústria cinematográfica – entre os quais Mayer, Nagel, Niblo, Mary Pickford. Douglas Fairbanks, Joseph Schenk, Frank Lloyd e Cedric Gibbons discutiram a efetivação de todos os projetos. Uma semana mais tarde 11 de maio de 1927 – realizaram um banquete no salão de festas do Hotel Biltmore, em cuja oportunidade os 300 convidados tomaram conhecimento de tudo.

Louis B. Mayer faria o discurso inicial. Pediu, entretanto, a Douglas Fairbanks que o fizesse.

«Nosso objetivo é sério. Organizamo-nos para fazer, não para desfazer». As primeiras palavras de Fairbanks segundo comenta um historiador do acontecimento, provocaram olhares temerosos entre alguns. Tinham enderêço certo. Falou, então, de uma nova entidade. Especificou sua principal tarefa: estimular as artes e ciências da profissão através de prêmios ao mérito de cada um dentro de seu campo específico de trabalho. Os presentes assinaram um cheque no valor de 100 dólares, tornando-se, automaticamente, sócios-fundadores da «Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood» – criada com fins não lucrativos e registrada sob as leis do Estado da Califórnia.

O lendário jantar para 300 convidados, quando foi anunciada a ideia e cada um assinou um cheque de 100 US$. Foram os primeiros sócios da Academia.

Quando a sindicalização dos profissionais do cinema estêve em foco, o intuito de Louis B. Mayer de encarregar a AACH de todas as questões trabalhistas, perdeu fôrça e receptividade. A idéia não teve vida longa.

Mas a outra – aquela dos prêmios de estímulo» – ficou. E ficou para sempre.

O falecido Cedric Gibbons, diretor-executivo da MGM por muitos anos, foi escolhido para «bolar algo que pudesse ser entregue aos premiados como recordação. Seus assessores imediatos o procuraram e começaram, então, a apresentar sugestões as mais diversas: diplomas, pergaminhos, placas e medalhas.

Foi durante uma das longas sugestões apresentadas pessoalmente que brotou no cérebro de Cedric Gibbons a imagem do «Oscar». Grande parte dos historiadores do cinema afirma ter o diretor-executivo da MGM desenhado o esboço da famosa estatueta numa toalha de mesa quieta e calmamente, enquanto ouvia seus auxiliares. Traçára um homem, em pé, sobre um rôlo de filmes, numa pôse dinâmica e altiva, segurando uma espada das Cruzadas.

Coube ao escultor George Stanley executar a idéia Ele o fez com perfeição absoluta, tendo recebido segundo se diz 500 dólares pelo trabalho. 

A estatueta media 34 centímetros e 28 milímetros de altura. Pesava 3 quilos. Foi moldada por Alex Smith, que empregou 92,5% de estanho e 7,5% de cobre, sendo, ainda, coberta de bronze, folheada a ouro e com um custo avaliado em 100 dólares.

Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à dificuldade na obtenção de metal, o Oscar teve de ser feito de gêsso, coberto com uma placa muito fina de ouro. Mais tarde, com o metal novamente accessível, as estatuetas temporárias foram substituídas pelas tradicionais (a festa da «reentrega» ou da substituição foi simples). 

O Oscar atual tem base de metal Britânia, altamente polido, é coberto com ouro de dez quilates, outra vez polido e, afinal, recoberto com uma placa de ouro de 14 quilates. Custa (de acordo com o último boletim que recebi da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood) 250 dólares. Conserva a mesma altura, mas pesa um pouquinho menos: 2 quilos, 722 gramas. A confecção do troféu está entregue a uma firma especializada do sul da Califórnia, a Dodge Trophy Company.

As várias versões do Oscar

Antigamente, um premiado podia empenhar sua estatueta (se a necessidade o obrigasse a isto, claro…). podia usá-la como copo e, pior ainda, «incluí-la como parte integrante de um jogo de dados». 

Entretanto, depois de seu registro oficial ocorrido a 2 de setembro de 1941, os agraciados estão proibidos pela AACCH do uso indevido da estatueta». Não podem empenhá-la e muito menos vendê-la. Bem, poderão vendê-la, sim, mas à própria Academia, por um preço já fixado: 10 dólares.

Não sei de nenhum profissional do cinema de Hollywood que houvesse sequer sonhado com essa idéia. Mas sei que artistas desconhecidos usam imitações da estatueta como ornamento principal de suas salas de visitas…

O primeiro Oscar aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1929, relativo à temporada 1927-28.

Trecho inicial do print da matéria original de 1968. Fonte – Diário de Pernambuco

Premiados:

Melhor filme -«Wings» («Asas»), em cujo elenco atuavam Clara Bow, Charles Rodgers, Richards Arlen e um rapazinho não muito conhecido (com cara de encabulado…) Gary Cooper. Direção de William Wellman. 

Entre os filmes concorrentes encontravam-se «Last Command» («Última Ordem») da Paramount, como «Asas» e «Seventh Heaven» («Sétimo Céu»).

Com «Última Ordem», o germânico Emil Jannings obteve o prêmio de melhor ator».

Janet Gaynor foi aclamada melhor atriz graças ao seu desempenho (suave e inspirador como uma rosa…) em Sétimo Céu».

O Oscar referente ao melhor diretor estêve em boas mãos: Frank Borzage. Seu trabalho em «Sétimo Céu» possibilitou a colocação dêsse filme entre as listas mais importantes dos chamados clássicos de todos os tempos.

Lewis Milestone ganhou o prêmio de melhor diretor de comédia com  «Two Arabian Knights» («Dois Cavaleiros Árabes»).

Após 1927, ou melhor, 1929, o prêmio para diretores de filmocomédias seria eliminado. Além dos Oscars para argumento original, argumento adaptado, fotografia, etc., foram concedidas honrarias especiais à Warner Brothers pela realização do primeiro filme sonoro, «The Jazz Singer» («O cantor do Jazz»), interpretado por Al Jolson.

Também houve prêmio especial para Charles Chaplin pela sua versatilidade de gênio (escreveu, interpretou, di rigiu e produziu uma comédia inesquecível: «O Circo»).

— xXx —

NOTA DO EDITOR (Luiz Joaquim) – Sabe-se também que o ator mexicano Emílio Fernandez serviu de modelo para Gibbons fazer os traços do Oscar.

Enquanto lutava pela Revolução mexicana, Fernandez foi capturado mas conseguiu fugir para os Estados Unidos. Nos anos 1920 ele iniciou uma carreira trabalhando como extra em Hollywood e conheceu ali a já estrela mexicana Dolores del Rio.

Rio namorava o Cedric Gibbons naquela época – e casaram em 1930. De acordo com Fernandez, Gibbons estava procurando um modelo que servisse de inspiração para um troféu, foi quando Rio lhe apresentou o colega mexicano.

Quando desenhou a figura do troféu, com a ajuda de Gibbons, pensou num cavaleiro de pé, sobre um rolo de filme, segurando uma espada de uma cruzada, com a qual queria representar a cruzada da indústria cinematográfica. A estatueta passou a ser esculpida desde então e até hoje é assim representada.

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