
Código Preto
Blanchett, Fassbender, Koepp e Soderbergh se divertindo e nos levando junto nessa pérola de roteiro
Por Luiz Joaquim | 13.03.2025 (quinta-feira)

Você vê Código preto (Black Bag, RUnid., 2025) e pensa: o que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Em outras palavras, o “aposentado” Steven Soderbergh se interessou em dirigir o filme por perceber o quão divertido poderia ser essa produção com roteiro original (e afiado) do veterano David Koepp (Jurassic Park, 1993; Missão impossível, 1996) e protagonizado pelo casal Cate Blanchett e Michael Fassbender? Ou Blachett e Fassbander resolveram entrar no projeto por saberem da dobradinha criativa entre Soderbergh e Koepp.
Os produtores Gregory Jacobs e Casey Silver certamente têm a resposta, mas não importa. Importa que este novo “gato atrás do rato” por conta de um dispositivo que pode acionar uma bomba (sempre elas) nuclear e matar milhões de pessoas é divertido e requer olhos e ouvidos bem abertos para todas as falas e performances do sexteto principal – o sempre ótimo Tom Burke, Marisa Abela, Regé-Jean Page e Naomi Harris, além de Blachett e Fassbander.
O sexteto atua como integrante, cada um com função diferente, do serviço secreto britânico. O George de Fassbender é provocado a investigar secretamente os outros cinco, o que inclui sua esposa Kathryn (Blanchett). Detalhe, George é tido como uma lenda entre os espiões da Reino Unido e todos reconhecem a sua maestria fria na arte de investigar, com a sua esposa também não ficando atrás.
Na verdade, o jantar com os seis personagens (3 casais, mais precisamente) no início do filme dá uma dimensão bem boa não apenas da fama de George, mas de todos os outros em suas idiossincrasias e crenças (ou ceticismo) no que se refere às relações humanas e amorosas. Os diálogos desta sequência são lapidados como diamantes e defendidos por cada um com notável esmero.

Jantar ácido com a melhor das inspirações: “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”
Ecos claros de Quem tem medo de Virgínia Woolf? (1966) são gritantes aqui, mas a circunstância da mentira validada como um álibi para as ações ‘top-secret’ (‘black bag’, como é dito no filme) pelo sexteto de espiões gera um divertido cruzamento entre as relações profissionais e afetiva entre os casais.
É aí que Código preto mostra seu valor, mas não apenas aí. A trama investigativa é também digna de um James Bond. Não é por acaso, inclusive, que Pierce Brosnan faz um participação aqui como Stieglitz, o chefão durão do serviço secreto.
Em resumo, Código preto traz um grande elenco em ótimo momento, banhado por um texto que desafia constantemente os atores e a nós, espectadores, de modo que uma piscadela de nossa parte pode pôr a perder a teia tão bem entrelaçada por Koepp e, como de costume, quase que matematicamente bem articulada visualmente por Soderbergh.
Curioso apenas observar Fassbender mais uma vez empenhado em dar vida a um personagem quase inumano, tal qual a meia dúzia de outros inumanos que defendeu em sua carreira. É como vermos o seu robô David de Prometheus (2012) ou o sex addict Brandon de Shame (2011), ou mesmo o seu mais recente papel em O assassino (2023). A essa altura de sua trajetória, é difícil dizer se essa persona ainda é algo realmente bom para o astro alemão ou apenas limitador.
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