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Reportagens

Retrospectiva – o cinema em 2007

O ano das seqüências

Por Luiz Joaquim | 26.11.2007 (segunda-feira)

Mesmo faltando um mês para encerrar 2007, pode-se dizer sem muito receio que o ano, em termos mundiais, não foi, digamos, muito empolgante tanto pelo aspecto do entretenimento, quanto artístico ou financeiro. Se tomarmos como parâmetro as cinco maiores bilheterias do ano no Brasil veremos que os títulos não alcançaram um volume de bilheteria tão diferente aos de anos anteriores. Pelo contrário, verificou-se que o mês de setembro, por exemplo, foi um dos piores na última década.

Pelo foco da contribuição artística, estes ‘top 5’ 2007 também não marcaram nenhum gol estético ou vão entrar para a história por transformar o ano numa data memorável. Olhando para “Homem Aranha 3” (6,1 milhões em maio), “Shrek Terceiro” (4,6 milhões em junho), “Harry Potter 5” (4,2 milhões em julho), “Piratas do Caribe 3” (3,8 milhões em maio) e “Uma Noite no Museu” (3 milhões em janeiro) não seria errado deduzir que a hollwoodland parece ter perdido a imaginação, considerando que entre eles, apenas a comédia com Ben Stiller não é uma seqüência.

À propósito, a palavra para lembrar 2007 no cinema será “continuação”. No ano, vimos retornar aos cinemas personagens que há décadas não víamos numa tela grande como “Rocky Balboa” (janeiro) e John McClane em “Duro de Matar 4.0” (agosto). E eles voltaram bem. As adaptações de quadrinhos para filmes, mais febril em 2005 e 2006, também ajudou a criar em 2007 um sucesso instantâneo chamado “300” (abril). De carona, o ator Rodrigo Santoro despontou como uma boa promessa de projeção internacional, impulsionado também pela participação na série televisiva “Lost”.

No início do ano, vimos um boom do cinema “mexicano” mexer com o mundo. As aspas ficam por conta de que as realizações foram na verdade co-produção internacionais, mas com nome de diretores mexicanos a frente dos filmes ‘Babel”, de Iñarritu, “O Labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro e “Filhos da Esperança”, de Alfonso Cuarón. Os três brilharam no Oscar assim como o incansável e talentoso septuagenário (77 anos) Clint Eastwood não com um, mas dois filmes: “A Conquista da Honra” (jan) e “Cartas de Iwo Jima” (fev).

Um nome que a história não esquecerá por 2007 é o de Sasha Baron Cohen. Se não lembrarem de seu nome,
lembrarão de “Borat” (fev) e sua tanga de banho, ele, o falso repórter do “glorioso” Kazaquistão, personagem que o projetou para o mundo.

BRASIL
Por aqui, o tema ‘cinema em 2007’ pode usar como sinônimo o título “Tropa de Elite”, lançado em novembro. A data de lançamento aqui é relativa porque em julho muito gente já estava vendo e ouvindo os gritos de Capitão Nascimento (Wagner Moura) sob a direção de José Padilha. “Tropa…” virou febre e movimentou não só a comunidade cinematográfica como a antropológica, sociológica, psicológica, etc. Serviu de partida para um discussão séria em todo o país sobre pirataria, estética e ética no cinema brasileiro e pelo brasileiro em si. Desde “Cidade de Deus” não se via tanto rebuliço por e a partir de um filme nacional. A polêmica extravasou as telas, num cinema recifense, um policial levou um tiro e faleceu durante uma sessão. Em número oficiais, o filme também impressionou. É, até agora (23 de novembro), a sétima maior bilheteria do Brasil em 2007 (2,2 milhões) e o primeiro da lista entre as produções brasileiras.

Logo no início do ano um atriz pernambucana, Hermila Guedes, recebeu, por competência, o foco da mídia sobre si. Apesar de já ter construído uma estrada no teatro e no cinema do Estado, foi com “O Céu de Suely” que a moça virou notícia no país inteiro, ganhado inclusive passaporte para estrelar na TV Globo, interpretando Elis Regina.

Uma produção audaciosa, tanto no ponto financeiro como estético deu a Heitor Dhália, outro pernambucano, radicado em São Paulo, o status de diretor a ser observador com atenção. Seu “O Cheiro do Ralo” ganhou boas críticas no Brasil e ainda exibiu no disputado Festival Sundance, dos alternativos norte-americanos.

Um dos melhores filmes brasileiros lançado no ano foi um documentário sobre um mordomo. Com “Santiago” (agosto), João Moreira Salles, nos fez lembrar que a linguagem do cinema transcende a opção pela narrativa documental ou ficcional, emocionando quando o talento e a humildade são legítimos. Com a mesma sensibilidade, a ficção “Cão sem Dono” ratificou Beto Brant como o melhor diretor brasileiro de sua geração.

Uma grande expectativa durante o ano foi a seqüência “Cidade dos Homens”. Apesar da construção correta desta revisão e atualização feita por Paulo Morelli para “Cidade de Deus”, a obra parece não ter conquistado a audiência. Da mesma forma que “Antônia”, de Tata Amaral que assim como o trabalho de Morelli tinha um vínculo muito forte previamente com a TV.

PERNAMBUCO
A produção do Estado ainda vive em novembro seu momento mais intenso, lá em Brasília. Daniel Bandeira, Leo Lacca, Camilo Cavalcanti e Sérgio Oliveira são os bravos que defendem a nova safra de nosso cinema no mais prestigiado festival nacional. Na noite de amanhã saberemos se o longa-metragem “Amigos de Risco” e os curtas “Décimo Segundo”, “O Presidente dos Estados Unidos” e “Nação Mulambo” entram para a história com um troféu Candango na bagagem.

De forma inegável Cláudio Assis fez barulho mais um vez com o forte “Baixio das Bestas” apesar dos apenas 60 mil espectadores no país, Assis mostrou mais uma vez que a coragem (no aspecto criativo e financeiro) não deve esmorecer diante das dificuldades. Filme ganhou seis prêmios em Brasília e brilhou no festival Rotterdam, um dos cinco mais importantes da Europa. Também desbravou as praças estrangeiras os curtas “Noite de Sexta, Manhã de Sábado”, de Kleber Mendonça, e “Uma Vida e Outra”, de Daniel Aragão.

Outros curtas com destaque em 2007 foram “Schenberguianas”, de Sérgio Oliveira, “No Rastro do Camaleão”, de Eric Laurence, e as boas animações “O Jumento Santo”, de William Paiva e Leonardo Domingues. E o ano deu a felicidade de ver uma nova criação de Fernando Spencer: “Almery, a Estrela”. Num outro extremo, tivemos, após vários anos de jejum, nosso camelô de cinema, Simião Martiniano lançando seu “A ‘Valize’ foi Trocada” (maio).

Em termos políticos, semana passada o governo de Eduardo Campos apresentou o primeiro Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco. O novo edital contempla pela primeira vez no Estado a produção de longa-metragem com R$ 1 milhão, R$ 400 mil para curtas e R$ 500 mil para trabalhos para TV entre outros projetos no audiovisual, somando um montante de R$ 2,1 milhões em investimento. O notícia foi muito bem recebida, apesar da exclusão do segmento ‘cinema’ do próximo Fundo de Incentivo à Cultura (Funcultura). Esperamos os frutos já para 2008.

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