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Festivais

12o Cine-PE (2008) – noite 1 (curtas)

Pugilo e a animação Pajerama mostram vigor no Recife

Por Luiz Joaquim | 29.04.2008 (terça-feira)

Abertura do 12º Cine-PE foi colorida e barulhenta, no bom sentido, com uma encenação em dança e música chamada “Sagração das Etnias”, pensada pela coreógrafa Maria Paula Costa Rego, incluindo manifestações da cultura popular como caboclo de lança, mamulengo, maracatú e outros. A “sagração” de fato aconteceu, tendo conquistado a platéia que urrava e quase lotava o Cineteatro Guararapes.

É preciso dar parabéns a curadoria do festival que, ná primeira noite, apontou curtas-metragens tão distintos em temática quanto em estética, mas todos guardando consigo qualidade nos dois aspectos, o que ajudou a conquistar o público de imediato.

O documentário paraibano “Amanda e Monick”, de André Costa, chamou a atenção pelos dois personagens reais que vivem em Barra de São Miguel, interior da Paraíba, travestis assumidos confrotando a sociedade rural dali. Amanda como professor(a) e Monick na prostituição, vivendo com uma lésbisca que está grávida de um filho seu. O confronto com a sociedade, na realidade, não aparece no vídeo. A opção de Costa concentrou-se mais em mostrar a aceitação e a sugerida naturalidade daquela sociedade em não se preocupar com o homossexualismo naquela região.

No trabalho seguinte, “Um a Um”, Érico Rassi experimenta um exercício interessante a partir dos snuff movies, aqueles que ilegalmente filmam a morte ao vivo para vender no mercado negro. Em bom jogo de encenação e roteiro, Rassi brinca com a verdade sobre a morte da `atriz` tanto com os espectadores quanto com os seus próprios personagens.

Curta que abriu a competitiva em 35mm foi a animação “Pajerama”, de Leonardo Cadaval, fazendo, com seu indiozinho assustado, uma relação entre o progresso desgovernado com a natureza. Na realidade, temos aqui um potente desenho, com poderosa edição de som (prêmio à vista?) que nos faz mergulha numa atmosfera melancólica, apesar de plásticamente linda, e pró-ecologia, mas sem soar xiíta ou politizada.

Já em “Engano”, do carioca Cavi Borges, a primeira referência é o longa “Time Code”, do Mike Figgs, no qual quatro quadros ocupam a tela simultaneamente com situações comcomitantes que interagem em algum momento do filme. Em “Engano”, são dois quadros. Um num gaúcho no metrô carioca, recém-morando no Rio, e um outro na gaúcha caminhando por Copacabana. Uma ligação por engano de um para a outra pelo celular é a conexão que interliga os dois quadros. É um belo exercício (que durou três meses de ensaio), como disse Cavi em entrevista coletiva hoje pela manhã.

Talvez o curta mais bem resolvido cinematográficamente da noite tenha sido o “Pugile”, de Daniel Solferini, com história de dois irmãos que se vêm num novo momento da vida a partir da possível perda da mãe. Detalhe, um deles tem Síndrome de Down (vivido pelo ator Diego Junqueira) e o que une os dois são as brigas telecatch (lutas encenadas), para o qual o irmão mais velho trabalha. Filme é tocante na tentativa do irmão mais velho tentar resgatar o caçula de um estado catatônica pela ausência da mãe. A fotografia merece uma atenção especial e surge como forte concorrente para o prêmio da categoria.

Por fim, a animação pernambucana “Até o Sol Raiá”, como era de se esperar, arrancou urros e aplausos de uma platéia orgulhosa no Centro de Convenções. Leandro Amorim e Fernando Jorge receberam o que pareciam procurar quando inscreveram o filme no Cine-PE, ou seja, o carinho e calor da público de sua terra. Filme fica cada vez mais forte a cada nova exibição, ao mesmo tempo em que reforça também seus momentos delicados que é a leitura do texto na abertura e encerramento da obra.

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