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Festivais

3° CineOP (2008) – noite 3

vai explodir tudo

Por Luiz Joaquim | 16.06.2008 (segunda-feira)

OURO PRETO (MG) – Na noite de domingo, revelou-se o super-filme inédito da Mostra. “O Fim da Picada”, Christian Saghaard. O paulista já vem trabalhando em realizações com o foco no incomum, no fantástico, há mais de uma década, como sua participação em “Juvenília” (1994), de Paulo Sacramento, ou no curta-metragem que dirigiu em 2004, “Isabel e O Cachorro Flautista”.

Em Ouro Preto, seu longa “O Fim da Picada” exibiu sua primeira exibição pública nacional logo após a sessão de “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla e, guardando as proporções, hoje, 40 anos depois, o filme de Saghaard consegue oferecer o mesmo impacto de linguagem e, principalmente temático, que o filme de Sganzerla provavelmente provocou em sua época. Não à toa, na apresentação, o diretor ofereceu a sessão ao Paulo Vilaça, o “bandido”, de Sganzerla.

“O Fim da Picada” é medonho. E isso é um elogio. É possível que não haja lugar determinado na filmografia brasileira atual para o tipo de cinema que Saghaard oferece aqui. Talvez com a estréia em breve de “Encarnação do Demônio”, de José Mojica Marins que, a propósito faz uma aparição no longa de Saghaard, tenhamos um par para “O Fim da Picada”.

Por mais fiel que seja qualquer sinopse dada, ela ficará devendo ao que o filme sugere como reflexão e tensão a partir do mundo urbano e em que vivemos hoje, ou como chegamos a ele hoje. Situada inicialmente no Brasil de 1850, conhecemos Macário (Ricardo de Vuono) que pratica uma orgia demoníaca numa praia qualquer.

Numa taberna, Macário bêbado invoca satã e recebe sua visita na pele da ótima atriz negra e assustadoramente seminua (Cláudia Juliana, de “Querô”). Ela é Exu-Lebara, entidade fantástica e maléfica, que ao atender o pedido de Macário de ir para São Paulo, o transporta para a metrópole que ela é em 2008. Atordoado, o personagem vira um mendigo na cidade onde cruza com suas dificuldades, indiferenças e seus loucos.

Saghaard apresenta São Paulo como o próprio inferno e lá introduz até o Saci, antes encarnado num menino de rua. Mas não o Saci do Monteiro Lobato, consagrado pela TV como o moleque que apenas faz arte inofensiva. O Saci de Saghaard é a personificação do “coisa-ruim” de fato. No filme, sua principal malvadeza vai proporcionar um acidente de carro que imprime na tela uma seqüência desde já antológica na história do cinema fantástico brasileiro. Seqüência que gerou sensação aqui na platéia do Cine Vila Rica

Saghaard não nós dá apenas uma história inventiva. Responsável pela fotografia, sua imagens e enquadramento (destaque também para a montagem e trilha sonora) são incomuns, contribuindo para a criação de uma estranheza na atmosfera, que incomoda o tempo todo nessa história surpreendente e só faz pensar que realmente “vai explodir tudo”, como insiste uma voz do além berrando durante toda a projeção.

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