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Críticas

Milk – A Voz da Igualdade

Pelo rosa na bandeira norte-americana

Por Luiz Joaquim | 20.11.2009 (sexta-feira)

Gus Van Sant e Sean Penn num mesmo filme? Parecia uma improvável união num mesmo projeto. Ambos são reconhecidos pelo talento, mas por opções diametralmente opostas. Van Sant sugere reflexão pela força da estética nas imagens, Penn usa imagens para fazer refletir, usualmente para uma causa politicamente engajada. Mas o encontro aconteceu e hoje pode ser visto no filme “Milk: A Voz da Igualdade” (Milk, EUA, 2008).

Aconteceu porque Van Sant, homossexual assumido, foi o primeiro nome que Penn imaginou para tocar o projeto que conta a história de Harvey Milk (1930-1978), o primeiro gay publicamente assumido a ser eleito pelo voto popular a um cargo público nos Estados Unidos.

Milk foi morto um ano após aquele em que venceu as eleições, depois de três tentativas. E Van Sant dispõe essa informação logo na abertura, em 1978, com Milk solitário em casa ditando para um gravador portátil: “isto é para eu ser ouvido se eu for assassinado”. Este tipo de prenúncio já imerge o espectador dentro do estado de tensão em que o ativista vivia.

Corta para 1970 quando Milk, prestes a completar 40 anos, se condói por não ter feito nada que tenha se orgulhado chegando àquela idade. É quando, ao lado de seu parceiro, Scott (James Franco), vai para a famosa rua Castro em São Francisco, onde abrem uma loja de fotografia. Alternando imagens em Super-8 autênticas com outras feitas hoje, Van Sant vai desenhando um visual econômico mas interessante do que seria as redondezas da rua Castro naquele momento. A rua Castro, e sua loja, são em particular espaços especiais onde vão se transformando a consciência política entre a comunidade gay.

Milk é um dos principais agentes dessa causa e o preço de sua determinação em alcançar um cargo de Conselheiro da prefeitura de San Francisco lhe custa a relação afetiva com Scott e depois com Jack Lira (Diego Luna). Até alcançar o cargo público, “A Voz do Igualdade” concentra-se prioritariamente na evolução dessa consciência política. Uma vez no cargo, Van Sant concentra-se na causa maior pela qual Milk lutou e pela qual pagou com a vida.

Tratava-se da Proposição 6, pela qual o senador John Briggs e sua assistente homófoba Anita Bryant tentavam banir os direitos civis de professores gays nos Estados Unidos. Contra essa proposição, Milk lutava energeticamente, mas também com uma delicadeza que não é vista num hetero do sexo masculino. Essa habilidade de Penn em mostrar essas duas faces de Milk é a responsável pelos diversos elogios que vêm recendo pela sua atuação – e que lhe rendeu uma indicação ao Oscar ao lado de outras sete pela qual o filme concorre neste domingo: melhor filme, direção, roteiro original, edição, figurino, trilha sonora, ator coadjuvante (Josh Brolin).

A propósito, vale observar Brolin como o conselheiro adversário de Milk, Dan White. Ex-policial, ele nega todo tipo de concordata com Milk em função de manter a “ordem familiar” em seu distrito. Uma vez no jogo político, ele se curva diante do sucesso do colega, mas guarda pensamentos em sua cabeça indecifráveis e Brolin ajuda a manter esse mistério como o hétero que rouba a cena num filme sobre a luta gay.

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