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Críticas

Um Sonho Possível

Até o limite de Sandra

Por Luiz Joaquim | 19.03.2010 (sexta-feira)

Por mais que se esforce, o único mote que a produção média de Hollywood parece conhecer para desenvolver um filme dramático é o da superação. Quando um filme como “Um Sonho Possível” (The Blind Side, EUA, 2009) nos chega contando sua história baseada noutra real de um adolescente sem-teto que é adotado por uma família republicana do Tennessee, e torna-se um astro do futebol norte-americano, já sabemos o que teremos pela frente.

Já é notório que a desempenho calibrado de Sandra Bullock (e seu Oscar) dão ao filme um status mais nobre, mas a nobreza não vai muito além desse esforço da protagonista. Bullock dá vida a Leigh Anne. Cheerleader na juventude (aquela menina com pompom que dança na torcida com as pernas no alto), ela é casada com um ex-atleta, hoje um empresário rico e é mãe de uma adolescente e um menino. Ocupa-se como decoradora e em comer saladas milionárias com dondocas preconceituosas de sua cidade caipira.

Até que, ao encontrar Michael (Quinton Aaron), um jovem de, literalmente, dois metros de altura, negro, e mal vestido perambulando numa noite chuvosa, ela resolve ajudá-lo. O que era uma acolhida de uma noite vira uma adoção ao saber que a mãe do rapaz é uma viciada e que seu pai está morto.

Na sua função de mulher furacão – uma vez centro das atenções pela beleza feminina e hoje centro das atenções pela sua determinação e pesuarsão -, a Leigh Anne de Bullock é aquela mulher que parece inabalável mas, olhando de perto, entende-se que ela é apenas um mulher. Ou uma cebola, para usar seu próprio exemplo, na qual seu ponto sensível está por trás de várias camadas de altivez.

Foi pela sutileza em mostrar esses dois lados tão distintos que Bullock conquistou o respeito neste papel. A seqüência da despedida no final é ótimo exemplo deste equilíbrio da atriz. Por outro lado, o estreante Aaron parece não se esforçar muito em seu murmuro para dizer “eu não sei” enquanto olha o horizonte perdido; muito menos ao franzir o cenho para expressar sofrimento.

Marido, filha e filho de Leigh Anne também são de pouca expressão do ponto de vista da performance. Não que não tenham oportunidades aqui para mostrar talento. Mas eles a perdem. Quem mostra competência é a atriz Adriane Lenox (como a mãe biológica de Michael). Com poucos minutos em cena, o olho do espectador gruda em sue momento em cena.

O diretor John Lee Hancock também tem seu quinhão pelo resultado. Condensou uma história longa que poderia ser mais chorosa do que necessário e dosou pitadas de crítica social norte-americana (atenção na personagem de Khaty Bates e quando Michael vai tirar carteira de motorista). De qualquer forma, “Um Sonho Impossível” deverá ser lembrando apenas como o filme que deu o Oscar a Sandra Bullock; assim como muitos lembram de “Até o Limite da Honra” (1997) foi o filme que Demi Moore raspou o cabelo.

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