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Críticas

Mary & Max

Uma amizade lindamente improvável

Por Luiz Joaquim | 25.06.2010 (sexta-feira)

Já se vão quase dez anos desde que “Shrek” surgiu e a indústria cinematográfica entendeu que animação não precisa ser necessariamente associada às crianças. Um australiano chamado Adam Elliot já sabia disso há muito tempo quando deu iniciou aos seus primeiros curtas-metragens com massa de modelar na técnica stop-motion. Em 2004, ganhou o respaldo em Hollywood por “Harvie Krumpet” com Oscar de melhor curta de animação e, agora, o Brasil passa a conhecer seu primeiro longa-metragem animado: “Mary & Max” (Aus., 2009).

Pela mesma atmosfera de “Krumpet”, cujo protagonista era um polonês pobre que vai a Austrália e consegue sobreviver à ma sorte que sempre lhe persegue, “Mary & Max” também nos põe ao lado de duas criaturas que parecem ter sido esquecidas pelo mundo. Enquanto a solitária menina de oito anos, Mary (voz de Toni Collette), vive com um pai ausente e sua mãe alcoolátra na Austrália, temos o obeso e obssessivo Max (voz de Phillip Seymour Hoffman), aos 44 anos numa nova Nova Iorque dos anos 1970. Max não tem amigos e é surpreendido quando recebe uma carta de Mary perguntando como nascem os bebês na América. Carta que a garota destinou aleatoriamente para o primeiro nome que encontrou numa lista telefônica no subúrbio de Melbourne.

Deste primeiro passo, surge um segundo, dado por Max do outro lado Pacífico, que responde a carta de Mary não apenas atendendo a pergunta da menina como também se apresentando à inesperada amiga e compartilhando com ela uma paixão em comum: chocolates. O que se segue, a cada carta escrita de um para o outro, é a exposição da personalidade frágil e da perspectiva de mundo que eles possuem a partir daquilo que os cercam.

Para Max e sua mente extremamente lógica, o mundo é irracional e desnorteante. Por isso mesmo, evita ao máximo o contato com outras pessoas, e o amor é um assunto que o paralisa. Já Mary, em sua complexida aparência, com um sinal na testa que, como ela própria diz, em “cor de chocolate”, também evita o contato com as outras crianças, que a maltratam sem que ela entenda a razão; além de se também se retrair diante de sua paixão, o vizinho grego e gago Damien (voz de Eric Bana).

Enquanto Max vai ajudando Mary a vencer seus obstáculos sentimentais, e Mary vai colorindo a vida em preto & branco de Max, a improvável amizade à distancia entre estes dois vai crescendo. Amizade baseada numa história real. Ela cresce a ponto deles dependerem um do outro para seguir adiante em suas vidas ordinárias por mais de 20 anos de correspondências. Atenção para uma das mais comoventes momentos do filme, que envolve as lágrimas de Mary e a não-lágrima de Max.

Como se não bastante tanta beleza e inteligência cômica para ilustrar uma história, na verdade, melancólica, Elliot nos oferece também sua arte como animador e criador de um universo muito particular pela seu material de modelar em movimentos e cenários, iluminação e fotografia hipnóticos.

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