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Festivais

22o Cine Ceará (2012) – noite 4

Zumbis roubam a cena em Fortaleza

Por Luiz Joaquim | 06.06.2012 (quarta-feira)

FORTALEZA (CE) – A noite de segunda-feira – a 4ª competitiva do 2° Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema – estava cercada de grandes expectativas. Primeiro pela exibição na disputa pelo troféu Mucuripe de “Rânia”, produção cearense realizada por Roberta Marques; segundo pela exibição hor-concours de “Juan de Los Muertos”, película cubana que inaugurou naquele país o gênero fantástico, cujo mote é uma invasão de Zumbis à Ilha de Fidel Castro.

Dirigido por Alejandro Brugués, “Juan…” é na verdade um filme produzido pela Espanha, tornando-se histórico também por ser o primeiro produzido de forma totalmente independente do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica Cubano (Icaic). Já cultuado pelos fãs do cinema fantástico, a produção teve exibição em 12 países, e foi já foi lançado comercialmente no Reino Unido. É um trabalho que ultrapassou fronteiras para além do que muitas produções latinoamericanas conseguem.

Ao ver “Juan…” fica claro de imediato a razão de seu sucesso. Brugués e sua equipe contaram com um orçamento generoso (fala-se em US$ 2,3 milhões) e o utilizaram com competência – tudo aparece na tela – para criar um cenário apocalíptico em Havana, com direito a destruição do Capitólio da capital. Trazendo sequências que contaram com até com 400 figurantes, “Juan…” não só apresenta novas possibilidades de brincar com já cansada idéia de ‘mortos-vivos’, como as emprega com humor sagaz e inteligente para falar da política de Cuba. Nada parece escapar da crítica acida do filme, nem os carros Lada, levados pelo russos para lá.

Na verdade, uma coisa está intrínseca a outra, pois muito da graça está exatamente na associação os zumbis putreficados com a situação político local. “Juan…” tem cerca de cinco ou seis excelentes momentos de humor, mesclados com ação bem encenada. Uma delas, por exemplo, mostra o grupo de heróis acuado por zumbis e, sem ainda entender o que eles são realmente, começam a acenar com uma bandeira norte-americana para “conquistar” a simpatia dos mortos-vivos.

Mortos-vivos não, o grupo de heróis, ou anti-heróis, primeiro os identifica como dissidentes, e que o estado vegetativo-agressivo dos monstros nem mesmo é tão distinto de como era em Cuba antes da invasão dos Zumbis. Os monstros vêm , à propósito, pelo mar, contaminando a todos; e quando Juan (Alexis Diaz de Villegas) percebe o real problema, cria uma empresa com seu melhor amigo, o gordinho Lazaro (Jorge Molina), seu filho, o maconheiro Califórnia (Andros Perugorria), o gay China (Jazz Vilá) e seu escudeiro, que não pode ver sangue e por isso luta com uma venda nos olhos. Entra na equipe ainda a filha de Juan, Camila (a bela Andrea Duro) como a mocinha que também mata zumbis.

Antes de “Juan…”, o cearense “Rânia” lotou o Teatro José de Alencar, contando a história da jovem que dá título ao filme (vivido pela não-atriz Graziela Felix). Rânia é uma adolescente pobre e vive num morro em Fortaleza. Tem a dança como válvula de escape para a dureza da vida e divide-se entre a possibilidade de ganhar dinheiro numa boate, quando é introduzida pela amiga Zizi (Nataly Rocha), e a chance de torna-se uma bailarina profissional ao conhecer a professora Estela (Mariana Lima).

Mesmo com uma construção dramática orgânica, e bastante competência e beleza do elenco feminino, “Rania” dividiu opiniões. A, talvez, linearidade na tensão distribuída ao longo do filme, ou falta de picos de tensão, tenha sido o responsável por deixá-lo chegar ao espectador com baixo impacto. Roberta, entretanto, consegue destacar-se, principalmente na composição das coreografias, que encantam exatamente pelo domínio da imagem sobre a fala. Fala que é sempre muito presente ao longo desta obra, que parece pedir silêncios.

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