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Críticas

Sunshine

Cem anos de restrição

Por Luiz Joaquim | 28.05.2018 (segunda-feira)

-Publicado originalmente em 24 de agosto de 2001 no site “Tô na boa”

Esqueçam o apelo dos jornais para Moulin Rouge – Amor em Vermelho (Moulin Rouge, EUA, 2001) que estreou ontem nos multiplex. Entra em cartaz hoje (24.ago.2001) Sunshine – O Despertar de um Século (Sunshine, Hungria/Canadá/Alemanha/Áustria, 1999). Dirigido pelo húngaro István Szàbo (de Coronel Reild e Encontro com Vênus), o longa nós dá, em prazerosos 180 minutos, a dimensão precisa dos percalços enfrentado pela Hungria entre a primeira metade do século XIX até o ano de 1959.

O diretor Szábo (oscarizado por Mephisto, em 1981) e o roteirista Israel Horovitz criaram a história da fictícia família húngara judia Sonnenschein (o equivalente a sunshine – raios de sol, em inglês) para contar mais de um século de luta pela identidade e justiça naquela nação. Enxertando imagens documentais que registraram os efeitos do regime monarquista (até 1918), da Primeira Guerra (1914 a 19), da Segunda Guerra (1939 a 45), do regime soviético (1945) e da revolução Anticomunista  (de 1956), Szábo fez de Sunshine uma espécie de Cem Anos de Solidão da Europa Oriental.

O ‘Sunshine’ do título se refere ao tônico revigorante que Emmanuel Sonnenschein produzia no início do século XIX, em sua fábrica de Budapeste. Além de um relógio de ouro, a fórmula da bebida foi a única herança deixada pelo seu pai, que morreu numa explosão em seu laboratório. Ignatz (Ralph Fiennes), o filho mais velho de Emmanuel, consegue se tornar um juiz respeitado, apesar dos constantes obstáculos anti-semitas. Mas para atingir seu sonho, servir ao Imperador, necessita trocar o sobrenome judeu para algo bem húngaro: Sors. Quem repete o gesto é seu revolucionário irmão mais novo, Gustave (James Frain), e a prima Valerie (Jennifer Ehle), com quem Ignatz viria a se casar e ter dois filhos: Istavan (Mark Strong) e Adam (Fiennes, novamente).

Adam se casa com Hannah (Molly Parker), mas vive sendo assediado pela esposa do irmão Greta (Rachel Weisz, de A Múmia e O Círculo do Fogo). Enquanto Adam se tornar o maior esgrimista do País, a Hungria é invadida pela Alemanha. Ele e levado para um campo de concentração com o filho, o menino Ivan, e, anos depois, o adulto Ivan (Fiennes, mais uma vez) entra para o regime soviético para lutar contra aqueles que fizeram do Holocausto uma realidade. Envolvido com a esposa (Débora Kara Unger, de Vidas em Jogo) de um ministro, e com a obrigação de culpar um camarada inocente (William Hurt), Ivan resolve largar o comunismo e voltar às origens.

O diretor Szábo define a personagem Valerie Sonnenschen como a ‘heroína silenciosa’ do filme. Isso porque ela é única que sobrevive às três gerações mostradas na tela, e a única que conseguiu manter-se fiel, a vida toda, ao que sentia e desejava. Um grande sacada de Szábo foi designar a atriz Jennifer Ehle para interpretar a jovem Valerie, e Rossemary Harris (mãe de Ehle) para viver a Valerie idosa. Atenção também para a competente música de Maurice Jarre.

BARULHO – Moulin Rouge, por sua vez nos leva à Paris do início do século XIX, para dentro do maior bordel da época. Satine (Nikole Kidman) é a mais cobiçada cortesã da casa, enquanto Christian (Ewan McGregor) é um escritor austríaco, apaixonado por Satine, que se une a um grupo de boêmio artistas para montar um grandiosa peça no bordel. Além do visual barroco, outro atrativo do musical são as canções pop (Like a virgenRoxane), com novos arranjos e interpretes, embalando uma coreografia desenhada para a época do bordel. A importância e o sucesso de Moulin Rouge – que parece nada mais que um musical dirigido por Terry Gilliam (ex-Monty Phyton) – está mais pela novidade de colocar músicas contemporâneas sendo cantadas em outra tempo, do que pela possível contentamento que supostamente produz em 120 minutos cansativos.

Ainda estréia Rios Vermelhos (The Crimson Rivers, França, 2000). A direção é do jovem talentoso (atuando ou dirigindo) Mathieu Kassovitz. Quem já viu O Ódio (La Haine, 1995), seu terceiro longa, sabe de quem estamos falando. Aqui as estrelas são Jean Reno e Vincent Cassel (de O Ódio). Eles investigam dois crimes que são cometidos a 300 quilômetros um do outro, sem qualquer relação aparente. Enquanto Pierre Niémans (Reno) viaja para o norte da França para investigar um assassinato brutal, em outra cidade, Max Kerkérian (Cassel), um ex-ladrão de carros, investiga a violação do túmulo de uma criança morta vinte anos atrás. Após ambos fracassarem, ocorre uma série de assassinatos e agora, os dois têm que correr contra o tempo para descobrir o que está por trás dos crimes e frear um serial killer que aterroriza a França.

A quarta estréia é a bobagem Gatos Numa Roubada (Tomcats, EUA, 2001), de Gregory Poirier. Aqui a piada fica por conta de um grupo de amigos que apostam dar uma soma grande de dinheiro a último que ficar solteiro. Sete anos depois, apenas dois deles se mantêm desimpedidos. Um deles é Michael (Jerry O’Connel) que, ao arranjar uma dívida de US$ 51 mil, decide fazer de tudo para casar seu rival na aposta feita há sete anos, e ficar com o dinheiro do juramento para se safar da dívida.

Ainda em cartaz no Cinema da Fundação o fundamental Os Incompreendidos, de Truffaut, e o tocante Belíssima, de Visconti.

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