X

0 Comentários

Críticas

Trair e Coçar é Só Começar

Comédia de (muitos) erros lança Adriana Esteves no cinema.

Por Luiz Joaquim | 04.08.2020 (terça-feira)

– texto originalmente publico na capa do caderno Programa, do jornal Folha de Pernambuco, em 25 de agosto de 2006 (sexta-feira).

Trair e coçar é só começar (Brasil, 2006), de Moacyr Góes, é um dos produtos mais objetivos feito pela Diler & Associados E isso não é um elogio. A empresa é culpada, entre outras coisas, por Coisa de mulher, A máquina e Dom.  Já nos créditos de abertura de Trair… está claro que ali vem um produto que você poderia estar vendo na TV de sua casa, ou melhor, que você já vê na TV, só que com outros nomes – A diaristaA grande família são exemplos. A diferença deles para o novo filme de Góes é que aqui você paga R$ 15,00 (+ estacionamento) e não tem intervalo para o xixi.

Vez por outra é interessante olhar o material de divulgação destes pacotes com embalagem duvidosa que tentam nos fazer rir à força em salas tecnicamente reservadas para exibir ‘C’inema. No press-book de Trair… a primeira informação sobre a Diler diz que “é produtora experiente no mercado cujo posicionamento é focado em filmes (sic) com objetivos específicos de oferecer entretenimento aos espectadores e lucro aos investidores”.

Somando A + B, percebe-se que indo assistir Trair… no cinema, o espectador vai estar dando lucro ao investidor. Já o entretenimento… bom, o que se vê no produto “Trair…” já existe, e de graça, nos canais abertos de TV, normalmente depois das 22h. Logo quando surgem os créditos iniciais do programa, ou melhor, do “filme”, o público se depara com uma abertura e música toscamente televisiva. A impressão imediata é a de que TV alargou e o controle remoto sumiu.

Levado aos cinemas pela mesma lógica (o sucesso de público de uma peça teatral) que guiou Carla Camurati para fazer Irmã Vap – O retorno, Trair… curiosamente assumiu, sem pudor, a linguagem corriqueira da TV, quando fez sua adaptação às telas da peça homônima que está em cartaz desde 1986. Pelo andar da carruagem das adaptações, como diz um colega, logo veremos nos cinemas o trailer de Jornal nacional – O filme.

MATEMÁTICAIrma Vap, a peça, em seus 11 anos em cartaz, atraiu três milhões de pagantes. Trair… em 20, atraiu cerca de quatro milhões. Se a matemática for proporcional, a Diler deveria ter conferido o resultado de bilheteria da versão cinematográfica de Irma Vap (parcos 280 mil bilhetes). Será que no cinema as pantomimas da empregada Olímpia (Adriana Esteves) vão mesmo dar lucro aos investidores?

Sobre o enredo, o mesmo press-book explica: “Olímpia ama seus patrões, Inês e Eduardo. Eduardo ama Inês, sua mulher, que ama Eduardo, seu marido. Inês é amiga de Lígia, que ama seu marido Cristiano. Cristiano ama Lígia, sua mulher. Vera ama Cláudio, seu marido, que ama Vera. Inês pensa que Eduardo tem um caso com Salete. Cristiano pensa que Lígia tem um caso com Ricco, Vera pensa que Cláudio tem um caso com Inês e Eduardo pensa que Inês tem um caso com Cláudio”.

Entendeu? Não é preciso se culpar. Em Trair e coçar é só começar o único que não precisa pensar é o espectador. E o press-book continua “A ação se passa num condomínio de classe média onde Olímpia, uma empregada trapalhona, protagoniza as maiores confusões, fazendo com que todos pensem que trair e coçar, é só começar”. É isso.

É, por vezes, constrangedor ver Adriana Esteves abusando das caretas e fazendo força para agradar. Ao seu redor está todo o elenco engessado em falas e mímicas quase infantis. No meio da patetice, se salva o ótimo Ailton Graça, como Nildomar, um porteiro fanho. Excelente ator, Graça consegue, com as migalhas que recebeu do roteiro, transmitir o mínimo de credibilidade que se quer duma interpretação.

[Nota do editor, em 2020] – Trair e coçar é só começar levou cerca de 250 mil espectadores aos cinemas.

Mais Recentes

Publicidade