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Reportagens

Prazer: meu nome é Sophia Loren

A “netflixilia” da atual geração poderá descobrir a dama italiana numa nova e magnifica performance.

Por Luiz Joaquim | 08.11.2020 (domingo)

Tendo sido seu anterior trabalho para o cinema realizado há 11 anos – Nine (2009), filme de Rob Marshall no qual ela tem participação discreta –, Sophia Loren, 86 anos, talvez hoje signifique apenas um nome qualquer para a atual geração da crescente, digamos, netflixilia.

A dama italiana pode ser só um conceito sem identidade vinculado a um difuso passado do cinema para a moçada de 20 e poucos anos de idade, cujo maior anseio audiovisual concentra-se mesmo sobre aquela minissérie ainda a ser algoritmicamente elaborada pela empresa mundialmente líder no streaming; em sua maioria, reconhecidos como produtos criados para satisfazer prazeres pré-calculados.

Mas, a própria Netflix, a partir desta sexta-feira (13/11), dará a chance das crianças algorítmicas conhecerem a força artística dessa mulher que tanto deslumbrou corações e mentes nas décadas de 1960 e 1970. É na sexta-feira que está agendada a estreia do mais recente trabalho de Loren: Rosa e Momo (La vita davanti as sé, 2020), dirigido pelo seu filho, Edoardo Ponti.

O filme é baseado no romance The life before us, de Romain Gary, que já foi adaptado ao cinema em 1977, como Madame Rosa: A vida à sua frente, pelo cineasta egípcio Moshé Mizrahi, com a atriz alemã Simone Signoret no papel hoje defendido por Loren.  Em 1978, a adaptação levou o Oscar de filme estrangeiro, tendo competido contra ninguém menos que Buñel (Esse obscuro objeto do desejo) e Ettore Scola (Um dia muito especial, no qual, a propósito, Sophia Loren dá um espetáculo ao lado de Marcello Mastroiani).

Na atual versão produzida pela Netflix para Rosa e Momo, a ação foi transportada da França para a Itália, particularmente para a cidade portuária de Bari, aparentemente mais dura e pobre do que curiosa ou atraente.

Lá, temos Rosa (Loren), uma judia sobrevivente de Auschwitz e ex-prostituta que acolhe crianças sem teto. A criança em foco é Momo (Ibrahima Gueye), órfão muçulmano senegalês de 10 anos de idade. O encontro se dá num mercado, quando Momo rouba a bolsa de Rosa. A amizade começa enviesada, mas logo deriva para algo mais forte, envolvendo também um menino romeno igualmente sob os cuidados da italiana. Há, ainda, na trama a vizinha trans (Abril Zamora) e um médico local amigo (Renato Carpentieri).

Ibrahima Gueye e Sophia Loren em cena de “Rosa e Momo”

Mas o que esperar de Rosa e Momo? Ontem (7), a mais nova edição da centenária revista britânica The spectator trouxe uma avaliação entusiasmada da crítica Debora Ross. Não pelo filme, mas pela performance de Loren.

Ross abre seu texto de forma categórica: “Se há uma razão para ver Rosa e Momo, ela é esta: Sophia Loren. E se você precisa de um segundo motivo, é este: Sophia Loren. Além disso, é a terceira, quarta, quinta, sexta e sétima razão. E, provavelmente, a oitava. Ela está verdadeiramente magnífica”.

A crítica inglesa também adianta que “não há nada imprevisível na narrativa. Na verdade, o que o filme poderia dizer a respeito de traumas, de uma ideia de pertencimento e de divisão religiosa é colocado de lado em favor de estimular lágrimas acompanhado por violinos altíssimos, sem falar da presença de um leão criado por efeitos especiais (uma longa história que não vale a pena detalhar) que obviamente não funciona”.

E continua: “Mas este não é um filme do diretor. É de Loren, cuja performance não é apenas honesta, mas também elimina todo o sentimentalismo quando ela nos dá uma Rosa firme em seu núcleo duro, de rudeza, não compondo sua personagem como uma manteiga derretida”.

“Na verdade, as cenas em que Loren não está parecem um desperdício na medida em que temos aqui uma idosa de mãos enrugadas, ou seja, um retrato fiel da atriz, com uma presença imensa, carregada de verdade e sem vaidade (ao menos, no filme, não a enxergamos ‘trabalhada’)”.

E se ninguém ainda não entendeu o recado, Deborah Ross encerra o texto assim: “Sophia Loren é a razão pela qual você vai querer ver Rosa e Momo. Mas acho que já deixei isso bem claro”.

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