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Críticas

007 Sem Tempo para Morrer

Filme é o maior ponto de inflexão da franquia que está prestes a completar seis décadas

Por Luiz Joaquim | 30.09.2021 (quinta-feira)

A pequena Mathilde, com pouco mais de 4 anos de idade, entra, carregada por Madeleine Swann (Léa Seydoux), num modesto carro dirigido por James Bond e pergunta em francês: “Mamãe, para onde vamos?”, para ter como resposta: “É uma aventura”. Não muito tempo depois, o trio está sendo perseguido por pelo menos quatro Land Rover Defender, algumas motos e um helicóptero, enquanto recebem rajadas de metralhadoras.

E esta não é a sequência mais impressionante em 007: Sem tempo para morrer (007: No Time to Die, RU/EUA, 2021), mas talvez seja a mais incomum – quem sabe da franquia inteira –, considerando a presença de uma criança nesse cenário. Sem tempo para morrer entra em cartaz hoje (30) em salas de cinema de 33 países (Brasil incluso). E chega com grande expectativa e a responsabilidade de dar a partida, em tempos de pandemia, para o retorno dos frequentadores às salas de cinema.

O fã da franquia mais longeva das telas conhece Madeleine Swann do anterior 007 Contra Spectre (2015). Nele, a personagem de Seydoux roubou o coração do agente britânico e é daí que iniciamos o atual e 25º filme do espião britânico – o último encarnado pelo ator Daniel Craig, que juntos somam cinco filmes em 15 anos (mais detalhes abaixo).

Mesmo antes do icônico e sedutor crédito de abertura, com a canção tema na voz sussurrada de Billie Eilish (Oscar na mira?), reencontramos o casal Madeleine e Bond. Estamos, temporalmente, cinco anos antes da sequência descrita na abertura desse texto. Bond está aposentado, e leva Madeleine no seu Aston Martin DB5 (aqui, um personagem a parte) em direção a deslumbrante Matera (Itália). O lugar perfeito para romance e para colocar o passado em seu lugar.

Clima romântico em Matera, Itália. Mas não por muito tempo.

É sobre o passado de Madeleine, a propósito, que Sem tempo para morrer dedica suas primeiras imagens. Por elas, conhecemos o mais dramático momento de sua infância, quando surge um vilão mascarado para vingar-se pelo o que o pai de Madeleine – Mr. White (Jesper Christensen), de 007: Quantum of Solace (2008) – fez contra a família dele.

De volta a Matera, um atentado contra o agente aposentando e separa o casal. Concluído o prólogo romântico, vamos encontrar Bond num outro momento, solitário, na Jamaica. É lá que seu amigo Felix (Jeffrey Wright) o encontra para convocá-lo a uma nova missão: ir a Cuba recuperar uma arma biológica criada em segredo pelo próprio serviço secreto britânico, mas agora de posse de um cientista russo (David Dencik) sequestrado pela organização criminosa Spectre, ainda sob comando de Blofeld (Christoph Waltz), mesmo estando preso desde o filme anterior.

Na peleja, junta-se à Bond a agente cubana Paloma (Ana de Armas, deslumbrante e sempre talentosa) em participação pequena, mas marcante e brilhante. E aqui um parêntese: valer revê-la ao lado de Craig no bacana Entre facas e segredos.

Bond e Paloma, numa festa para poucos, em Cuba.

O problema logicamente não se encerra quando Bond encontra o cientista, até porque 007 não é o único que está no seu encalço. Além da CIA norte-americana, M (Ralph Fiennes) também acionou a agente Nomi (Lashana Lynch), que assumiu o número 007 no serviço secreto inglês após a aposentadoria de Bond – o que rende algumas boas piadas no filme.

Com o desmantelo da Spectre em Cuba, somos levados a outro vilão, Lyutsifer Safin (Rami Malek, de Bohemian Rhapsody) também interessado na arma química, mas com pretensões, digamos, mais globais, em termos de maldade.

E é aqui o único ponto que, talvez, o roteiro coescrito pelo também diretor Cary Joji Fukunaga (que ganhou fama pelo Beasts of No Nation) parece fraquejar: as razões da vilania de Safin (que são pouco convincentes, apesar da boa defesa de Malek no papel).

Malek interpreta o malvadão da vez: Lyutsifer Safin

De qualquer forma, o fã de 007 sabe que tudo cabe nos vilões com mania de grandeza da franquia. O habitual contexto de acabar com o mundo rende inclusive ironias aqui. “A história não costuma ser boa com quem brinca de Deus”, avisa Bond a Safin; ou quando, numa rara conversa tranquila entre Bond e M, o segundo comenta sobre o que os novos bandidos estão interessados: “No de sempre”.

SÉCULO 21 – Sem tempo para morrer será bastante lembrado no futuro, e não apenas pelo bom resultado de todos os envolvidos no projeto, mas também como uma virada de página em algumas características do perfil do personagem.

De agora em diante, Bond deverá passar longe daquele colecionador de mulheres, adepto da constante elegância e dos belos automóveis criado por Ian Fleming em 1952, com as lindas bond-girls surgindo apenas como uma ‘escada’ para reforçar a masculinidade do protagonista. Na verdade, a transformação já vem sendo moldada pela franquia, cuidadosamente, há mais de uma década.

Mesmo em 2015, por ocasião do lançamento de 007 contra Spectre, Craig já anunciara sua despedida, o que causou questionamentos sobre o próximo ator a substituí-lo. Um dos nomes que veio à mídia foi o ator de descendência africana, Idris Elba (de Beasts of No Nation – olha a obra citada aqui de novo).

O fato é que, no novo filme, reforçamos, já temos o rosto de um novo, ou melhor, nova 007, estampado pela atriz Lashana Lynch (também vista em Capitã Marvel). Se Lashana seguirá, no futuro, como a titular da franquia, não se pode afirmar no momento.

Lashana Lynch, a nova 007?

E se Fleming (1908-1964) pudesse ver o Bond de Sem tempo para morrer, iria levantar uma sobrancelha, ao encará-lo neste filme e compará-lo com a sua cria de 1952, que lhe deu fama na literatura. A começar por perceber o seu coração roubado por uma mulher, depois pela aposentadoria da espionagem, além de um outro novo “detalhe” familiar que não vale explicitar numa crítica que se preze.

Curiosidade – Hoje (30), 007 Sem tempo para morrer, com seus 163 minutos de duração (é o mais longo da franquia), vai inaugurar a maior tela iMAX de cinema do mundo, com 21 metros de altura por 38 de largura. Para você entender tal dimensão, é só imaginar um Boing 737 e entender que a tela é ainda maior de que esse avião. O multiplex que abriga esse colosso é o Traumpalast, na Alemanha. Com 554 poltronas, a sala é mais um indicativo de como o mercado vê o novo 007 (que teve duas datas de estreias adiadas) como ponto de partida para o retorno dos espectadores às salas de cinema.

 

Os anteriores ‘007’ com Daniel Craig

007: Cassino Royale (2006), dirigido por Martin Campbell. Um ‘reboot’ da fraquia? Bond está com sua licença para matar e vai em sua primeira missão como 007 para eliminar o banqueiro de alguns terroristas num pôquer no cassino do título. Aqui conhece Vesper Lynd (Eva Green).

007 – Quantum of Solace (2008), dirigido por Marc Forster. A missão de Bond é desvendar um mistério para impedir que uma organização misteriosa elimine os recursos mais valiosos de um país.

007 – Operação Skyfall (2012), dirigido por Sam Mendes. A lealdade de Bond por M será testada aqui, com o MI6 sendo atacado.

007 Contra Spectre (2015), dirigido por Sam Mendes. Bond vai conhecer, e ter de desbaratar, a organização criminosa Spectre.

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