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1 Comentário

  • Carlos Alberto Mattos

    Embora seja muito mais modesta, minha resenha deste filme (ainda não publicada) aborda essa concepção envelhecida da mulher como elemento de discórdia entre homens harmônicos.

  • Críticas

    O Rio do Desejo

    Adaptado de conto de Milton Hatoum, o filme navega ingloriamente em busca de alguma profundidade

    Por Luiz Joaquim | 21.03.2023 (terça-feira)

    Vamos ao ponto. O rio do desejo (Bra., 2023), de Sérgio Machado, com estreia agendada para quinta-feira (23), tem o seu melhor num embate entre o personagem Dalberto (Daniel Oliveira) contra o seu irmão Dalmo (Rômulo Braga).

    Acontece já nos últimos desdobramentos do filme, a partir de uma dúvida que atormenta Dalberto sobre a sua esposa Anaíra (Sophie Charlote).

    O embate entre os personagens é físico, com Oliveira e Braga dando ao espectador aquela combinação entre ‘presença corporal’ e ‘presença psicológica’ que transcende o aparato técnico por trás daquela encenação.

    O que surge daí é ‘Cinema’, com a câmera de Adrian Teijido (fotografia) precisa e colada aos atores, sobrepondo-se à percepção do espectador naquilo que há de mentiroso (de encenação), próprio dessa arte. Em outras palavras, acreditamos no que estamos vendo e nos envolvemos com aquela tensão.

    Mas até chegar a este ponto O rio do desejo segue por uma cartilha confortável de encadeamento narrativo, e por uma história convencional que pode, inclusive, abrir brecha para leituras combativas ao filme (particularmente pela ótica feminina).

    Adaptado de O adeus do comandante, conto do autor amazonense Milton Hatoum, O rio do desejo pode ser questionando, numa leitura mais aguda em sua contemporaneidade, por colocar o personagem de Charlote numa posição que pode ser identificada como a do estopim para toda a desgraça que recai sobre os irmãos Dalberto, Dalmo e o caçula Armando (Gabriel Leoni).

    Provavelmente um contra-argumento externo possa surgir a partir do que afirmamos acima, nos lembrando que: o melhor de O rio do desejo só se manifesta bem, como de fato se manifesta, uma vez que passamos 90 minutos envolvidos com seus personagens, assimilando os seus dramas num crescente até chegamos àquele ápice.

    Estaria certo, o contra-argumento, mas não eximiria O rio do desejo de ser um filme que, como um rio, corre apenas para um destino, quando se sabe que um bom filme nos leva a diversas direções, por vários braços desse rio, com todos eles desembocando num lugar mais amplo, aberto a uma leitura mais profunda. Um lugar, simbolicamente, como um oceano de provocações (no plural) humanas.

    Três irmãos – Dalberto (Oliveira), Dalmo (Braga) e Armando (Leoni) – com um passado pouco detalhado

    Talvez o muito pouco do prévio histórico que conhecemos sobre os três irmãos e a relação deles com a mãe que abandou a família quando eles eram ainda pequenos seja um elemento comprometedor, prejudicando esse plano (e não rugoso ou complexo) ‘desembocar’ dramático a que chegamos em O rio do desejo.

    E, ainda que esteja ‘impressa’ na tela a direção cuidadosa de Machado sobre o elenco azeitado e talentoso que tinha a sua disposição, algumas opções de composição parecem ‘cacoetadas’. O erotismo na cena de sexo protagonizada por Dalberto e a outra, por Armando, por exemplo, exemplificam isso.

    Já a sequência sexual criada para Dalmo, esta sim, tem um peso narrativo no todo, em sua composição. Filmada à distância, impessoal e fria, realçando a tristeza solitária do personagem. Algo próximo do que vemos em O homem das multidões (2014), de Marcelo Gomes e Cao Guimarães.

    Com produção da TC Filmes e da Gullane, fica também claro na tela o tamanho de O rio do desejo. Ele é grande, em termos de recur$o$ e do envolvimento de uma enorme equipe técnica. Rodado no Amazonas, a obra não nos deixa dúvida sobre a beleza da região, ainda que sob uma perspectiva ‘gringa do olhar’.

    A propósito, uma boa sessão dupla aqui seria montada entre o filme de Sérgio Machado com Noites alienígenas (2022), dirigido por outro Sérgio, de Carvalho, sendo este um paulista radicado no Acre, onde seu filme foi rodado. Nele, a região é apresentada sem as belezas naturais sendo colocadas em primeiro e deslumbrantes planos (nada contra belezas naturais).

    “Pantanal”? Não. As belezas naturais do Amazonas em “O Rio do Desejo”

    Sobre aproveitar os valores locais, O rio do desejo traz em papel bem secundário um grande talento da região, o ator Adanilo que, diga-se de passagem, teve seu talento destacado para o Brasil por Noites alienígenas no último (50º) Festival de Gramado.

    Sobre o enredo de O rio do desejo, é suficiente o leitor saber que Dalberto, ao abandonar a carreira de policial, compra um barco e casa com Anaíra, a quem salvou numa batida noturna antes de entregar a farda.

    Casados, vivem na casa onde também residem o fotógrafo Dalmo e o produtor musical Armando, irmãos de Dalberto. Tendo de fazer uma viagem de negócios com seu barco, que dura mais de um mês até Iquitos, no Perú, Dalberto não desconfia que sua esposa irá, involuntariamente, provocar novas sensações em seus dois irmãos.

    O resto fica fácil de imaginar.

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