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Críticas

Chico: Artista Brasileiro

Retrato do artista

Por Luiz Joaquim | 26.11.2015 (quinta-feira)

Chico Buarque, 71 anos. Esse figura. O sujeito não consegue contar uma história engraçada sem que ele mesmo, antes de chegar ao final, exploda com uma gargalhada contagiante. Só por essa característica, Chico Buarque, cantor, compositor, letrista, instrumentista, arranjador, escritor já seria um cara mais do que interessante para dividir uma conversa numa mesa de bar. Acontece que, para muito além de uma boa companhia, Chico Buarque é uma das gigantescas montanhas entre os pequenos morrinhos que formam a paisagem da música brasileira ao longo de sua história.

A analogia é feita por Vinicius de Moraes no filme “Chico: Artista Brasileiro” (Bra., 2015), documentário de Miguel Faria Jr. que chega hoje aos cinemas. Distribuído pela Sony, pode transformar-se numa febre no circuito exibidor brasileiro, desde que bem administrado pela distribuidora e exibidores.

Isto porque “Artista Brasileiro” não apenas reforça em sua apresentação aquilo que centenas de milhares de brasileiros já conhecem e gostam em Chico – o sujeito boa praça, intelectual centrado, artista inspirado e, para a mulherada, o exemplo elegante de um homem feminino -, como também traz aspectos novos. Um deles é a busca por um irmão alemão quem nem sabia existir; e outro é a apresentação de informações sobre aquilo que revistas e sites de fofoca se esforçam para gerar… fofoca. Ou seja, nos mostra a intimidade do artista – mas de forma orgânica no enredo – trabalhando em sua casa e o faz comentar aspectos como o casamento por 30 anos com Marieta Severo (e a vida após a separação), além da convivência com os sete netos.

A estrutura do documentário é tradicional e simples, e consegue ser bastante eficaz. Há um cenário imponente onde cantores, além do próprio cinebiografado, se apresentam interpretando músicas de Chico. Dessa maneira vemos, distribuídos por toda extensão do filme Ney Matogrosso cantando “As vitrines”; Moyseis Marques com “Mambembe”; Laila Garin com “Uma canção desnaturada”; Monica Salmaso com “Mar e lua”; Péricles com “Estação derradeira”; Adriana Calcanhotto e Martnália com “Biscate”; e a deslumbrante e hipnótica portuguesa Carminho cantando “Sabiá”, além de um dueto que ela faz com Milton Nascimento para “Sobre todas as coisas”.

Entremeando as performances, o protagonista relembra a infância e a convivência com o pai Sérgio Buarque de Holanda, o inesperado sucesso mundial de “A Banda”, o namoro com Marieta, a residência na Itália, a briga com a Censura, a política, a literatura e a velhice.

Mas dentro da simplicidade, Miguel Faria Jr. ainda encontrou soluções interessantes de cinema para brincar com o imaginário que se criou em torno da personalidade de Chico ao longo dos anos em função de suas letras tão contundentes. Bom exemplo está quando uma imagem de arquivo mostra uma jornalista perguntando ao letrista o que ele acha quando lhe questionam se ele é homossexual por conta da letra de “Olhos nos olhos”. O filme, logo na sequência, mostra um videoclipe de Chico cantando numa mesa de bar uma animada canção na qual fala-se da mulher como um objeto de possessão masculina.

Como uma linha fina que amarra todo o roteiro, Miguel Faria Jr. agarra-se a história que era um tabu na família do cantor, e deixa para o final a surpresa de reencontramos junto com o próprio Chico a identidade do irmão Sérgio Günther (já falecido), fruto de um romance no final dos anos 1920, quando Sérgio Buarque viajou à Alemanha. Günther é fisicamente parecido com o pai, e Chico surpreende-se ao saber que o berlinense também cantava, e assobiava tal qual ele próprio o faz. Teria Günther ouvido falar de Chico Buarque?

EM CASA – Num dos belos momento familiar em “Artista Brasileiro”, vê-se o vovô Chico Buarque ao violão em casa, reunido com três dos netos (Chico Freitas, Clara Buarque e Lia Buarque) enquanto cantão “Dueto”. O diretor Lauro Escorel tratou a sequência com a lógica dos antigos formatos e texturas do Super-8.

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