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Críticas

Air: A História por Trás do Logo

Um filme sobre um tênis? Não, um filme sobre o ‘american way of life’

Por Luiz Joaquim | 05.04.2023 (quarta-feira)

25 anos após o Oscar jogar holofotes sobre os amigos Matt Damon e Ben Affleck pela premiação do roteiro da dupla para Gênio indomável, voltamos a encontra-los contracenando nos cinemas, a partir de amanhã (6), no esquemático, mas muito divertido (por que não?), Air: A história por trás do logo (Air, EUA, 2023).

Affleck, hoje um premiado produtor e celebrado diretor (lembrem de Argo, 2012), também assina a direção de Air, mas o roteiro não passa pelas suas mãos, nem nas de Damon. Alex Convery é o senhor das palavras aqui.

De qualquer forma, as questões que compõem o universo circundante a Air soam tão familiares aos dois astros que parecem ter sido criadas por encomenda. E foram.

Esse era um projeto que Affleck queria realizar e não mediu esforços para tanto. Trocou, inclusive, muitas figurinhas com a mega estrela do basquete norte-americano, Michael Jordan, para evitar deslizes ao contar a história do Air Jordan – a linha de tênis que ‘salvou’ o departamento de basquete da Nike.

Estamos em 1984 e Jordan ainda era um adolescente fora da liga profissional de basquete norte-americano, a NBA. No ultra milionário negócio de representação da marca por estrelas do esporte, a Nike não possuía, então, nem 20% de vinculação com atletas. Ficava atrás da Converse (que se popularizou com o All Star) e, liderando com vantagem, figurava a alemã Adidas que, a propósito, era a marca preferida do jovem Jordan.

Damon, divertindo-se como Sonny, o caça talentos da Nike em 1984

A história por trás do logo segue, portanto, Sonny (Damon), espécie de caça talentos da empresa e como ele vislumbrou num então iniciante e magricelo Jordan a possibilidade de salvar seu emprego, sua empresa e, mais do que isso, mudar para sempre as estratégias de marketing do segmento, assim como a forma de remuneração dos atletas envolvidos em contratos afins.

Nesse sentido, a mãe de Jordan (no filme interpretada, a pedido do próprio atleta, por Viola Davis) teve um papel fundamental na vida real do jogador sendo, no filme, apresentada com humor e firmeza. Algo como um ‘quase cômico’.

Batalha de argumentos: Sonny (Damon) tenta convencer a mãe de Jordan (Davis) sobre o valor da Nike

O ‘quase cômico’ talvez seja a grande chave nesse projeto de Affleck, roteiro de Convery e performance de Damon.

Tudo começa sendo apresentado como uma história despretensiosa, de leveza e divertimento constantes, mas que segue num crescente de urgência e, pelas bordas, vai mostrando o nível de tensão que está agarrado a cada um dos envolvidos.

Uma breve fala de Rob (Jason Bateman), outro executivo da Nike, sobre o risco de, ao perder o emprego, perder a possibilidade dos encontros de domingo com a filha pequena sob a guarda da ex-esposa é um exemplo da camada dura que conseguimos enxergar sob a camada leve do enredo.

A seriedade como o designer da empresa Peter (Matthew Maher), com sua fala comicamente marcada pela língua ‘plêsa’, conta sobre ter esperado a vida inteira para projetar um tênis que mudasse a história é também um seriedade travestida de piada.

Inteligente em seus contrapontos, Air nos joga, logo depois das tensões, para dentro da fúria de uma discussão com xingamentos juvenis proferidos pelo agente de jogador, David (Chris Messina).

Todas as pragas de David são despejadas sobre Sonny, por telefone, ao descobrir que foi engabelado pelo mesmo. É para nos fazer rir. E faz, se o espectador estiver leve como é o filme.

David (Messina) “solta os cachorros” contra Sonny (Damon), com seu linguajar de um adolescente malcriado.

Mas, principalmente, Air se constrói a partir da sedutora história – no imaginário norte-americano – do desacreditado herói (Sonny/Damon) que enxerga algo revolucionário. E só ele enxerga.

É por isso que Sonny, para atingir o suce$$o, precisará mover montanhas até provar que está certo. Mesmo que tenha de quebrar regras, como burlar o limite estabelecido pelo NBA para a cor vermelha num tênis usada nas quadras.

Air: A história por trás do logo não é, portanto, um filme sobre um tênis, mas sobre o american way of life embalada sob uma trilha sonora inteira criada naquele ano em que Jordan assinou um contrato inédito com a Nike no segmento dos esportes.

Detalhes dessa trilha, como escutar Time after time na voz de Cyndi Lauper entrando na hora certa, casando com a ansiedade de Sonny durante a expectativa por ume resposta de Jordan, é o tipo de combinação que parece perfeita em sua sintaxe como piada cinematográfica. E este é só um exemplo entre a dezena de outras canções bem ajustas na agulha para emoldurar sonoramente esse filme divertido sim, por que não?

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