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Críticas

O Jardim dos Desejos

Um Schrader para ver no cinema

Por Luiz Joaquim | 01.06.2024 (sábado)

‘Disciplina’, ‘discrição’ e ‘reconstrução’ são as palavras de ordem na vida do Padre Ernst (Ethan Hawke em Fé corrompida, 2017), do jogador profissional William Tell (Oscar Isaac em O contador de cartas, 2021) e do jardineiro Narvel (o australiano Joel Edgerton) em O jardim dos desejos (Master Gardener, EUA, 2022) em cartaz nos cinemas do Brasil desde quinta-feira (30/5).

Nestes seus três mais recentes filmes – sem contarmos Oh, Canada, exibido há três semanas em Cannes – Schrader alimenta a personalidade de homens que tentam recomeçar a vida deixando para trás alguma dor ou algo que, depois, percebem não poderiam lhes dar orgulho sob a nova condição de vida que definiram para si.

E nesse novo modo cabe a retidão, a ordem e a beleza em função de algo no qual exige retidão, ordem e beleza. No caso de O jardim…, Edgerton está preciso como o jardineiro chefe, com sua cara dura, impenetrável em seus segredos apenas conhecidos (e também guardado) pela rica viúva Norma (Sigourney Weaver), proprietária de Gracewood onde cultiva grande variedade de flores por uma equipe de horticultores sob o comando espartano de Narvel.

A ordem é desequilibrada quando Norma pede ao jardineiro para cuidar de sua conturbada sobrinha-neta Maya (Quintessa Swindell, de Adão negro, agora podendo mostrar seu talento), para que ele a treine possa dar continuidade à história de sucesso de Gracewood.

Aos poucos, e com a economia de palavras que apenas roteiristas com décadas de história alcançam, Schrader vai nos apresentando um cenário muito mais intrincado de dependência na relação entre Narvel e Norma, entre Norma e Maya e entre uma que se constrói diante de nossos olhos entre Narvel e Maya.

Maya ( Swindell ) problema ou solução?

É um triângulo explosivo que exigirá de Narvel quebrar suas regras tão bem traçadas anos atrás para continuar existindo no hoje.

E a forma como Schrader nos revela o mistério do passado de Narvel, apenas com um movimento vertical de câmera sobre suas costas, é o suficiente para arrepiar o espectador e deixa-lo curioso pela bagunça que virá na sequência.

Ao mesmo tempo, ao explorar com uma riqueza tão grande de informações sobre a delicada ordem das coisas, da natureza, para um jardim florescer, ou reconstruir-se, Schrader associa esse curioso personagem à própria profissão que agarrou para salvá-lo.

Servindo também de metáfora para um EUA que precisa se recompor de um passado recente (ainda presente, melhor dizendo), supremacista, trumpista, estúpido.

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