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Festivais

33º Ceará (’23) Mais Pesado É o Céu + Céu Aberto

o céu é o limite, em dois filmes

Por Luiz Joaquim | 30.11.2023 (quinta-feira)

– Petrus apresenta Mais pesado é o céu em Fortaleza, ao lado das atrizes Ana Luiza Rios e Danny Barbosa.

FORTALEZA (CE) – O 33º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema teve ontem (29) a sua mais intensa noite, em termo de público, no Cine São Luiz. O motivo era claro. Tratava-se da noite de estreia em Fortaleza de Mais pesado é o céu, longa-metragem do cearense Petrus Cariry, celebrado em diversos festivais mundo afora tendo sido também o grande premiado na mais recente edição do Festival de Gramado.

Mais pesado… saiu da Serra Gaúcha carregando os Kikitos de direção e fotografia (ambos para Petrus), montagem (Petrus e Firmino Holanda) e um como prêmio especial do júri para a atriz Ana Luiza Rios, que protagoniza o filme ao lado de Matheus Nachtergaele.

Mais do que esse primeiro reconhecimento pontual de Gramado validando o novo filme de Petrus, há uma coerência na trajetória temática e (principalmente) estética do realizador que já o consolida como uma das mais importantes expressões do cinema brasileiro contemporâneo (alguns, inadvertidamente, diriam do ‘cinema nordestino’). É uma expressão construída por uma trajetória de mais de 15 anos. E é isso que nos faz querer ver com olhos bem abertos o que esse cineasta joga no mundo.

Em Mais pesado… o cearense Antônio (Nachtergaele) volta de São Paulo em direção à barragem do Castanhão, onde está submersa a Velha Jaguabiraba, cuja história está muito bem contada no documentário Memórias da chuva, de Wolney Oliveira (ler aqui).

Antônio vai passar por lá antes de tentar a sorte numa nova possibilidade de ganhar a vida com um amigo. Mas, na beira do açude, conhece Teresa (Rios) que, minutos antes, encontra um bebê abandonado num barco e assume sua maternidade.

O encontro e percurso, agora unidos, desses dois andarilhos desvalidos é o caminho que faremos juntos em Mais pesado… Um caminho que esbarra numa generosa e também solitária dona de casa, Fátima (Silvia Buarque), e na funcionária de um pequeno restaurante de beira de estrada (Danny Barbosa).

Rios como Teresa e Nachtergaele como Antônio: o começo do tudo

No destino dos protagonistas, Petrus incute um sentido de “começo de tudo” a partir de uma terra arrasada. O que temos é um homem, uma mulher e um bebê, que passam a morar num casebre emprestado por Fátima, cujas forças se entrelaçam contra a urgência diário da fome.

Teresa se prostituindo, Antônio pedindo esmola na beira da estrada.

Nada mais tristemente trivial na história desse país do que a vida de Teresa e Antônio espelhada em muitas, milhares (milhões?) de outros brasileiros. É isso, também, o que faz Mais pesado… ser um filme que merece atenção. A arte (não o entretenimento) é a grande responsável, afinal, para dar visibilidade, com a devida força transformadora, ao invisível. E Petrus, com o senso trágico que estabelece para as suas crias, nos ajuda a enxergar essas dores, sobretudo as deste país que nos últimos sete anos vinha incitando o que há de selvageria e de barbárie no ser-humano.

COMPETITIVA – Mais pesado é o céu exibiu em caráter especial mas, antes de sua sessão, o Cine Ceará projetou, competindo, o longa-metragem peruano Céu aberto (Cielo Abierto), de Felipe Esparza.

Em duas linhas de descrição, podemos resumir seu enredo como o de um pai que trabalha cortando rocha branca vulcânica sendo ele desconectado do seu filho, cujo trabalho, tecnológico, consiste em recriar virtualmente em 3D uma histórica igreja da região. Entre eles a memória da esposa/mãe já falecida.

Mas Céu aberto está bem além dessa simplicidade. Em sua proposta estética, nos aponta para a distinção criativa entre duas gerações (ou entre o passado e o futuro, como queiram) apresentando tudo de maneira seca e objetiva. Isso sem estabelecer aspectos de valoração entre um ou outro.

“Céu aberto”, duas gerações, duas formas de construir

Quase sem diálogos, e eles aparecem aqui como uma paisagem e não como um elemento verbal de comunicação, o filme não abre concessões na forma. Sua composição, nos planos fixos e fechados, é tão eloquente e bem resolvida de modo que essa unicidade faz de Céu aberto um filme que precisa ser usufruído sem pressa. O resultado certamente será enriquecedor.

Ainda na programação competitiva, o curta-metragem indígena, de Roraima, Thuë pihi kuuwi: Uma mulher pensando, com direção de Aida Harika Yanomami e produção do Erik Rocha. No documentário, escutamos a narração em off de Aida com suas observações sobre o Xamã preparando yâkoana, elemento que, ume vez ingerido, permite acessar o mundo dos espíritos.

– viagem a convite do festival

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