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Críticas

Furiosa: Uma Saga Mad Max – texto #2

Entre o CGI empurrando o filme para baixo, temos uma obra que briga por mais efeitos à moda antiga

Por Luiz Joaquim | 23.05.2024 (quinta-feira)

Furiosa: Uma saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, Aus./EUA, 2024) chega hoje (23) aos cinemas do Brasil (do mundo!). Na 77ª edição do Festival de Cannes (ainda em curso), o filme de George Miller, 79 anos, exibiu na quarta (15), abrindo a festa na croisette francesa. Dias depois foi exibido Megalópolis, de Coppola, 85.

Este último dividiu a crítica com alguns analistas chamando atenção para a idade avançada de Coppola para argumentar a percepção negativa do que viram em Megalópolis. Curiosamente, até onde sabemos, ninguém pontuou sobre a idade de Miller para elogiar Furiosa.

Etarismo à parte, vale dizer que Furiosa é um filme moderno e, simultaneamente, antigo. Traz bem mais tecnologia CGI que em Mad Max: A estrada da fúria (2015) ao dispor do louco maestro australiano, mas também mescla efeitos especiais mais tradicionais (ainda bem) para atender a um jovem e talentoso elenco (com a maior estrela da turma, Chris Hemsworth, sendo o único aqui a parecer exceder o aceitável nas gracinhas propostas ao seu personagem).

Hemsworth: Excessivo.

E é um filme antigo principalmente no que propõe contar, ao modo Miller da violência, claro. Esse prequel,  ao resgatar a origem da formação de Furiosa (vivida por Charlize Theron em 2015), nos apresenta o jovem protagonista agora na pele da menina Alyla Browne e da jovem adulta Anya Taylor-Joy (do divertido Noite passada em Soho).

 Aqui Furiosa soa como uma espécie de Ulisses feminino que dedica a vida na odisseia de retornar à casa de onde foi roubada.

Nascida no ‘Ponto de Inacessibilidade’ – um secreto paraíso verde, com água, árvores e frutas em abundância num distópico e árido planeta Terra devastado pela escassez após uma série de crises climáticas (há algo mais atual?) -, a jovem Furiosa é sequestrada e vai parar na poeira onde vive Dementus (Hemsworth) e seus motoqueiros dementes.

O lider, cujo plano maior é tomar a Cidadela, principal fortaleza da Terra Devastada,  a qual é governada por Immortan Joe (o australiano Lachy Hulme), não consegue descobrir com a menina a localização do paraíso. A adota mas termina por trocá-la com Immortan Joe. Com Joe, ela deverá ter o destino selado para virar uma das noivas procriadoras da Cidadela.

Mas, aqui, Furiosa se reinventa como um Diadorim, disfarçand0-se para fugir do destino das mulheres no mundo dos homens. Tema tão antigo quando a própria Odisseia de Homero.

Furiosa: Ulisses + Diadorim

Segmentado por intertítulos – ‘Ponto de inacessibilidade’; ‘Lições do deserto’; ‘A clandestina’; ‘Indo para casa’; e ‘Além da vingança’ -, Furiosa: Uma saga Mad Max inicia seus três primeiros quintos de maneira quase desinteressante pelo excesso de efeitos CGI. O que sugere uma leveza -no sentido ruim da leveza, ou seja, aquele que não empresta peso às cenas que pedem peso-, tornando tudo reconhecível pelo espectador, mas só que por uma ótica de rejeição.

É como se estivéssemos vendo uma cópia ruim feita por Miller sobre algo impressionantemente muito bom  que ele nos deu há 9 anos (sem falar nos dois primeiros Mad Max de 1979 e 1981). As cenas de perseguição em A estrada da fúria, com guitarristas pendurados na frente de enormes carretas da morte em movimento enquanto soltam acordes de fogo (literalmente) são imagens que dificilmente descolam de sua retina.

Mas chega o segmento ‘Indo para casa’ de Furiosa e Miller puxa o nosso tapete mais uma vez. É quando vemos a incrível sequência de, mais uma vez, um caminhão carregando combustível por uma estrada no deserto enquanto é atacado por terra pelos motociclistas de Dementus e, pelo ar, com outros dementes armados em parapentes.

O maestro Miller dando o seu melhor ao criar o balé da morte sobre caminhões e derivado

Ali temos ação real. A melhor mentira de aventura que o cinema pode contar, com dublês em cenários reais “apanhado”, caindo e “morrendo” brutalmente. É quando Miller finalmente se apresenta por trás dos excessos digitais do início do filme e nos deixa observar, sob a luz clara e forte do deserto (e dos spot de luz), um primor de balé mortal.

Já falamos dos excessos do galã Hemsworth, mas é preciso destacar o talento do inglês Tom Burke (foi Orson Welles em Mank, mas sugerimos conhecê-lo pelo pequeno e belo Coisas verdadeiras). No filme de Miller Burke é o Pretório Jack, respeitado motorista que já conquistou a estrada da fúria, servindo até como par romântico para a silenciosa Furiosa.

Burke e Taylor-Joy: Equilíbrio na construção dos personagens

Silenciosa demais, a propósito. Anya Taylor-Joy parece não ter muitas opções para firmar seu personagem em termos psicológicos. Com poucas falas, sobram as expressões faciais, com destaque para os grandes olhos da moça, que se repetem na limitação de seu ódio que já entendemos mas não conseguimos mergulhar no interior de seu sofrimento.

 

Leia também a crítica de Yuri Lins

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