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Críticas

Jogos do Poder

Guerra fria, filme morno

Por Luiz Joaquim | 29.02.2008 (sexta-feira)

“Jogos do Poder” (Charles Wilson’s War, EUA, 2007), novo filme de Mike Nichols (“Closer”), talvez não tivesse o mesmo impacto na mídia sem a presença de Tom Hanks, no papel do personagem que dá nome ao título original do filme, e o de Julia Roberts, como Joanne Herring, a quinta mulher mais rica do Texas. No entanto, foi pelo nome de um ator coadjuvante, Philip Seymour Hoffman (como o especialista da CIA sobre o Afeganistão), que a obra concorreu ao seu único Oscar domingo passado.

Essa é uma observação pertinente pois “Jogos do Poder”, produzido por Hanks (custou 75 milhões de dólares, faturou apenas 66 milhões), parece ter sido concebido com a mesma ambição comercial que o seu protagonista , Charles Wilson, tinha para arrecadar dólares em função de uma guerra contra a URSS através do Afeganistão nos anos 1980.

É claro que o tema político do filme, que envolve o nome ‘Afeganistão’ há quase 30 anos atrás, também não passaria desapercebido em tempos pós-11 de setembro, mas a conturbação de informações amontoadas nesta adaptação carregada de Aaron Sorkin, a velocidade dos diálogos (bons diálogos, diga-se de passagem) e seqüências entre Wilson, políticos e líderes do Oriente Médio, e a indefinição do tom do filme, que por muitas vezes soa cômico, mas também quase-tenso e quase-trágico, deixam “Jogos do Poder” num limbo. Ao final, da projeção de 97 minutos, parece termos sido atropelados por um jato russo, restando apenas uma pequenina sugestão de que a América, ou pelo menos Hollywood, começa a reconhecer alguns erros de seu recente passado político.

Baseado num personagem real, a obra é adaptado do livro de George Crile. Abre em 1989, logo após a queda do muro de Berlim (momento simbólico na história como o fim da Guerra Fria), com Wilson recebendo uma condecoração do sistema secreto norte-americano por ter sido uma figura determinante para o encerramento do comunismo como o mundo o via. Voltando nove anos atrás, encontramos o congressista Wilson numa banheira em Las Vegas recheada com água, strippers e pó, enquanto prepara-se para a votação que apoiará ou não os escoteiros da América.

Atiçado pela cristã e sexualmente liberada Joanne Herring (Roberts, com penteados esquisitos), Wilson visita um Afeganistão recém-invadido pela URSS. Chega lá com toda a pompa e ignorância que um político ianque pode carregar, mas é tocado pela real situação do povo afegão. Entretanto, não é só pela comoção que decide levantar fundos na América para armar pesadamente o Afeganistão com o intuito de derrotar os russos. A desmoralização russa, antevê Wilson, seria a vitória dos EUA no mundo. E se feito no estilo da “Guerra Fria”, sem a América sujar as mãos em público, ainda melhor para eles.

Após um sem número de articulações políticas dentro e fora de seu país, e com 1 bilhão (com ‘b’ mesmo) de dólares levantados para munir o Afeganistão com o fino do armamento militar; após 8 anos de guerra daquele pequeno país rochoso contra a União Soviética, Wilson alcança seu objetivo e o muro de Berlim no chão é só um reflexo do seu trabalho nos bastidores.

Quando tenta reerguer o país em ruínas, não encontra tanta facilidade como a que teve para promover a guerra. O resultado, o mundo assistiu ao vivo pela TV em 11 de setembro de 2001. E continua.

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