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Críticas

Paranoid Park

A liberdade juvenil

Por Luiz Joaquim | 04.04.2008 (sexta-feira)

Não é fácil traduzir em palavras como funciona o envolvimento emocional promovido por Gus Van Sant em “Paranoid Park” (EUA, 2007), estreando hoje no Cine Rosa e Silva e no Cinema da Fundação. Isso significa que o diretor de “Elefante” e “Garotos de Programa” supera-se, mais um vez, na lição lingüística cinematográfica. Na mão de qualquer outro diretor menos inspirado, a história do adolescente skatista Alex (Gabe Nevins), que se vê envolvido como suspeito de um crime de morte, poderia virar um thriller levado pela mão cansada do clichê comum ao gênero. Ao contrário, Van Sant nos dá aqui uma obra de sensações e cuidadosa beleza plástica.

Alex e a sua paixão: o skate

Alex mora em Portland, cidade norte-americana sem muita graça para um jovem de 16 anos cujo maior interesse é sentir liberdade sobre uma tábua com quatro rodas e cuja sensibilidade para mundo está aberta ao extremo. Van Sant constrói seu Alex (personagem vem do romance de Blake Nelson) como um ponto de concentração da personalidade daqueles garotos/garotas que não se encaixam num padrão social da banalidade. Alex não é uma aberração, por ser diferente, mas apenas um solitário no mundo, com uma perspectiva limpa de liberdade que se expressa em sua melhor forma através do skate.

Com econômicas seqüências, e aí está seu talento, Van Sant, nos deixa muito próximo da postura de Alex para a vida. Exemplo: quando o garoto, pequeno por trás do volante, dirige até o quase-ilegal local que dá título ao filme, feliz e atento com a mesma intensidade tanto para um hip-hop, como para um country ou um rock no rádio do carro. Ou ainda numa outra seqüência sexual com sua namorada.

Em termos plásticos, a fotografia de Christopher Doyle e Kathy Li mistura lindas imagens em Super-8, digital e em 35mm, formando um mosaico de sensações visuais que se comunicam bem nessa mistura; assim como segue a narrativa elíptica no tempo que Van Sant coordena, levando o espectador a acompanhar a crescente tensão dentro de Alex ao mesmo tempo em que conhecemos, a conta gotas, o desenrolar do crime.

Ainda no quesito visual, dentro da atmosfera de agonia de Alex após o crime, vemos o rapaz no banho, sob o chuveiro, com a água respigando de sua cabeleira vasta, como uma grande representação da tristeza e desespero, como se todo seu corpo chorasse. É uma pintura impressionista. Triste, linda, perfeita.

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