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Reportagens

Ressaca, de Bruno Vianna

Filme é montado ao vivo na Fundaj (Recife)

Por Luiz Joaquim | 18.06.2009 (quinta-feira)

Na madrugada de um sábado para um domingo de setembro de 2008, numa sala do cine Estação Botafogo, dentro da programação do Festival do Rio (de Janeiro), uma sessão chamava bastante atenção pela proposta inovadora a partir de uma nova tecnologia. Era a projeção do filme “Ressaca”, do carioca Bruno Vianna, que acontecia simultaneamente ao trabalho de montagem do filme que o cineasta fazia no palco, junto a tela do cinema. Ao seu lado, estava uma DJ finlandesa presente no Festival especialmente para atuar na sessão.

De hoje até domingo, sempre às 20h10, o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco oferece essa experiência ao Recife com Bruno e o responsável pela trilha sonora de “Ressaca”, Rodrigo Marçal, realizando essa performance de exibição que só existe por conta do desenvolvimento de uma interface especial, desenvolvida por Bruno há dois anos e que ele chama de ‘Engrenagem’.

Com sua ‘Engrenagem’, Bruno movimenta, por uma tela tátil (usando o toque), os diversos blocos de sequências pré-filmados que formam o todo de “Ressaca”. A tela circular, com um metro de diâmetro, permite que bruno brinque com cada plano, escolhendo inclusive os tipos de fusões. Ao seu lado, “sentido” o novo filme que está sendo montando na hora, Rodrigo Marçal vai dando o tom musical de acordo com o calibre dramático da sequência escolhida pelo parceiro.

Para uma tecnologia nova, uma nova maneira de escrever e filmar uma obra. A idéia para “Ressaca” nasceu na cabeça de Bruno já enquanto concebia seu roteiro. “Eu havia realizado um longa chamado ‘Cafuné’, lançando ele em 35mm e meses depois exibindo-o em digital com outro final, e para mim, as duas versões são válidas. A partir dessa experiência, pensei em escrever um roteiro que não fechava nunca e não estivesse fechado em si, que permitisse mesmo que um personagem pudesse até morrer três vezes”, explica Bruno.

Foi quando, no início de 2008, enquanto trabalhava na interface, Bruno também escrevia a história de “Ressaca”, a qual veio filmá-la entre junho e julho de 2008. Como se não bastasse a inovação tecnológica, o trabalho de Bruno é também bem filmado e conta (bem) uma história interessante.

“Ressaca” apresenta um rapaz (o ótimo João Pedro Zappa) passando pela puberdade e adolescência nos anos 1980. O filme relaciona belamente essa transformação do garoto com uma transformação política pela qual também passava o Brasil. No bojo, vemos a família do garoto envolvida com os problemas dos planos e crises econômicas da época, ou seja, algo que qualquer pessoa com mais de 30 anos na classe média brasileira já viveu. Atenção para a bacana sequência em que o protagonista viaja de ônibus imaginando-se entrar no espaço sideral, sem gravidade.

Com mais de 20 apresentações do “Ressaca” já feitas pelo país, Bruno chega ao Recife com a mesma expectativa de efeito positivo que vem provocando nas outras platéias. “É um experiência que aproxima o diretor do público como nenhuma outra. Pretendo seguir em outros projetos nesse formato e no formato tradicional, com uma construção linear, mas o importante é saber que cada projeto pode ter seu formato mudado de acordo com sua natureza”, conclui o cineasta. Para ver um vídeo de Bruno operando o ‘Engrenagem’ é só acessar (www.ressaca.net).

SERVIÇO
Exibição do filme “Ressaca”
(montado na hora da projeção)
Cinema da Fundação Joaquim Nabuco
Rua Henrique Dias, 609, Derby
R$ 6 e R$ 3 (meia)
de hoje a domingo, às 20h10.

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